Caso raro de remissão de tumor de hipófise durante o uso da Cannabis medicinal abre novos caminhos para futuros tratamentos. Especialistas acham o resultado importante e pode ser usado para investigações científicas que validem –ou não –se os canabinoides têm esse poder de cura.

O tumor foi descoberto em 2017, depois que a bióloga Gizele Thame, 64, recebeu o resultado de uma tomografia. "Fui a cinco neurologistas para confirmar o laudo e saber das possibilidades de tratamento", conta ela. "O único tratamento era cirúrgico. Eu me recusei. Podia ficar cega. Além disso, ficaria dependente de 22 remédios."

Gizele não queria viver sem qualidade de vida. Disse ter ficado tranquila com a decisão, mas sabia que ao deixar o tumor crescer, ele acabaria comprimindo outras partes do cérebro, levando-a à morte. Por mais "tranquila" que estivesse, ninguém consegue passar por uma situação dessas sem ter, ao menos, um abalo emocional. Depressão, insônia e braveza foram alguns dos sintomas que surgiram. A família fez o que pode para ajudar.

"Convivendo diariamente com as consequências psicológicas geradas pela situação, decidi apresentar para ela a Cannabis, como alternativa para tratar o que era tratável", conta o professor de Educação Física, Raul Thame, filho de Gizele. Segundo ele, a mãe teve muita resistência em usar a Cannabis.

"Sou de uma geração cujos pais diziam para que eu ficasse longe dos maconheiros da escola", conta Gizele. Acreditar que a maconha, tão demonizada durante séculos, pudesse ajudar na sua condição foi um passo muito grande.

Para a mudança de mentalidade, ela precisou ler muitas pesquisas científicas e assistir a depoimentos contundentes de pacientes. Só então ela cogitou que poderia ser um bom caminho.

Ela procurou a psiquiatra Eliane Nunes, diretora da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudo da Cannabis Sativa). "Na consulta, eu disse a ela que trataríamos todos os sintomas – as dores de cabeça, a insônia e a depressão. Disse que ela ficaria apenas com o tumor", conta.

Gizele começou a usar o óleo artesanal, produzido pelo filho. O humor foi estabilizado assim como a insônia. Ela não tomou nenhum outro medicamento.

No primeiro exame, em 2017, o tumor tinha 1,2 cm. Em 2021, 0,5 cm. "Hoje é indetectável", diz o neurocirurgião Pedro Pierro. "Não é uma evolução comum. O tumor já era sintomático. É o primeiro caso que tenho notícia." Ele diz que prescreveu para Gizele o CBD com o objetivo de ajudar no distúrbio de humor e não para tratar o tumor.

Para ele, "o milagre aconteceu", mas não dá para afirmar que o responsável foi o óleo de CBD. "O caso precisa ser estudado, pois é sensacional."