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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu jornalismo

Onde estão Bruno e Dom, capitão?

Lições de paz de um antigo marechal

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Capitão, onde fica a sua biblioteca?

O senhor, que tanto ama seu posto, o Exército Brasileiro e as armas, já leu a biografia de um dos maiores líderes da história militar desse país? Não tenho dúvidas.

Sugiro então, capitão, que leia essa: "Rondon — Uma Biografia", de Larry Rohter (Objetiva).

São 565 páginas que contam a história do marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, o homem que viveu e morreu pela Amazônia. O descendente de índios que alcançou o maior posto da carreira militar. O homem que conectou a Amazônia pelo telégrafo. O homem a quem o ex-presidente americano Franklin Roosevelt confiou sua vida e a vida de seu filho Kermit pelos tortuosos caminhos amazônicos do rio da Dúvida, em 1914.

Mas, acima de tudo isso, capitão, Rondon é o homem que defendia a paz.

Sobre uma moto, homem carrega uma espingarda
Garimpeiro armado na rodovia 'Transgarimpeira', município de Itaituba (PA) - Caio Guatelli - Redux Pictures

Nas suas expedições pela floresta, o então coronel tinha um lema: "Morrer se preciso for, matar nunca".

Até Albert Einstein se curvou diante dele, capitão. Em 1925, maravilhado com a ideia de um general pacifista, Einstein o indicou ao prêmio Nobel da Paz.

Quanta coisa a aprender com Rondon, não é mesmo, capitão?

Tenho andado pelos caminhos amazônicos por grande parte de minha vida, e posso dizer com firmeza, capitão: nos últimos 4 anos a coisa ficou feia. De tanta gente armada, daqui a pouco, nem o Exército dá conta.

A câmera e a caneta, de certa forma, sempre me protegeram. Por mais arriscado que o trabalho fosse, matar jornalista nunca foi bom negócio (isso depois da ditadura, claro).

Mas hoje, tanto garimpeiro quanto fazendeiro teimam em perguntar aos jornalistas se eles tem alvos desenhados em suas testas —sabemos bem os por quês. Falo por experiência própria.

Se estivesse vivo, Rondon (que era pacifista, mas não era manso) mandaria o capitão sei lá para onde.

Se não quiser ler o livro todo, capitão, leia essa parte aqui:

"Além dessas realizações, Rondon foi também um dos maiores defensores dos direitos indígenas durante a primeira metade do século 20. Como fundador e por muitos anos diretor do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), ele trabalhou para proteger os povos indígenas contra a brutalidade de fazendeiros, garimpeiros, madeireiros e, mais do que tudo, dos seringueiros que cobiçavam suas terras. Além disso, lutou para defendê-los dos líderes intelectuais e políticos que clamavam abertamente por seu extermínio".

Não sei se 4 meses são suficientes para redimir os erros de uma vida, mas, ao menos, ainda dá tempo para salvar Dom e Bruno. Para isso, te desejo toda sorte do mundo.

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