Ciclocosmo

Um blog para quem ama bicicletas

Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu Itaú

Bike Itaú completa 10 anos, mas ainda engatinha nas periferias

Usuários elogiam o sistema, mas queixam-se de alcance limitado da rede

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ao completar 10 anos na cidade de São Paulo, o sistema de aluguel de bicicletas Bike Itaú, inicialmente chamado de Bike Sampa, soma 260 estações e cerca de 2.700 bicicletas, quase todas servindo os bairros mais ricos e centrais da cidade.

A situação é diferente do plano inicial criado em 2012, quando a parceria entre a prefeitura e o banco prometeu uma rede que atenderia todas as regiões da cidade com ao menos 300 estações e 3.000 bicicletas. Tampouco foram alcançadas as expectativas do plano remodelado em 2018, quando a prefeitura da capital paulista planejou o compartilhamento de bicicletas em ao menos 5 bairros periféricos das zonas norte, sul e leste.

Uma das maiores estações do Bike Itaú fica no Largo da Batata (zona oeste da cidade de São Paulo) - Caio Guatelli

Atualmente, a única disponibilidade do Bike Itaú na periferia fica no terminal de ônibus Cidade Tiradentes (zona leste), onde a estação de bicicletas funciona desconectada do resto da rede, distante 29 Km da outra estação mais próxima, na Vila Mariana (zona sul). Por lá, o uso foi adaptado ao sistema de pernoite, no qual o usuário pode levar a bicicleta para casa e devolvê-la em até 12 horas (no sistema regular, são ofertadas 4 viagens de até 60 minutos por dia para os assinantes do plano completo).

Além de São Paulo, o Itaú também patrocina os sistemas de empréstimos de bicicletas em outras seis cidades brasileiras, todos geridos pela empresa Tembici. No total são 7.510 bicicletas e 751 estações distribuídas entre São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Recife (PE), Olinda (PE) e Joboatão dos Guararapes (PE).

Em todas as cidades o efeito de concentração das estações nas redondezas dos bairros mais ricos e centrais é semelhante.

Para Luciana Nicola, diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade do Itaú Unibanco, o perfil de uso da bicicleta compartilhada na periferia de São Paulo é diferente do encontrado no centro da cidade. "A gente tinha a percepção que após adensar [a rede de estações] e chegar nas periferias, o sistema iria funcionar. Mas quando começamos a expandir na zona leste, e passamos do bairro Tatuapé, o sistema ficou sem uso nenhum".

Segundo Nicola, o perfil de usuários do Bike Itaú em São Paulo foi alterado durante a pandemia, quando o volume de cicloentregadores trabalhando na região central e zona oeste aumentou, obrigando uma readequação do sistema e a parceria operacional com as redes de entregas. "O entregador se desloca da região periférica com transporte público e chegando aqui [na região central] ele usa o plano do jeito que a gente conhece" —buscando bicicletas nas estações abundantes das avenidas Faria Lima, Paulista e adjacências.

Ainda segundo Nicola, a decisão de expansão da rede é feita em discussão com a prefeitura e com institutos de pesquisa especializados em mobilidade urbana, como o Instituto Aromeiazero.

Contudo, usuários ouvidos pela Folha relataram que sentem falta de estações nas regiões mais afastadas.

João Baptista Silva mora no bairro Piraporinha, periferia sul da cidade de São Paulo, e faz entregas diariamente com a Bike Itaú na região da Faria Lima (zona oeste). Assinante do plano oferecido para cicloentregadores, ele gasta cerca de R$ 100 por mês. "Se tivesse essa bicicleta lá onde moro eu usaria. Como não tem, gasto também com ônibus para vir fazer entregas aqui", disse enquanto pedalava pela avenida Faria Lima.

Diferente de João Baptista, o cicloentregador Cleyton Moraes disse que onde mora "não vira fazer entregas", mas que faria o trajeto de sua casa, no Capão Redondo (zona sul), até a região mais rica da cidade se em seu bairro houvesse estação com bicicletas elétricas. "É muito longe para ir pedalando, mas se tiver bike elétrica, rola", disse.

Outro caso é o do serralheiro João Batista Francisco de Souza, que mora e trabalha no bairro Parada de Taipas (zona oeste): "Conheci o Bike Itaú lá no centro e gostei. Seria bom ter aqui no bairro. Além de economizar o dinheiro do busão para ir trabalhar, usaria para me divertir".

O estudante Pedro Andion mora na Vila Mariana, trabalha na Faria Lima e estuda no campus Butantã da USP (zona oeste). "Com o desconto para estudante, pago R$ 17 por mês e posso fazer até 4 viagens de 45 minutos. É meu principal meio de transporte. Só troco pelo ônibus quando chove ou quando fica muito tarde". Pedro disse ainda que tem dificuldades de usar o sistema em bairros mais distantes, como o Ipiranga, onde já morou. "É visível a diferença da oferta quando a gente se afasta do centro financeiro e dos bairros mais ricos"

Para o advogado Alberto Pellegrini, que mora e trabalha em Pinheiros (zona oeste), o sistema é perfeito para os trajetos curtos. "Gosto bastante pois as estações estão disponíveis perto de onde moro e trabalho. Outra vantagem é o valor, que pelo benefício ofertado vale a pena. O único ponto ruim é a ausência de estações na cidade inteira ou pelo menos perto das estações de trem e metrô, onde nem sempre tem bicicleta disponível".

Além da ausência do serviço nos bairros distantes, outras reclamações partem de usuários insatisfeitos com a remoção de estações já consolidadas. "Eu usava ao menos 3 vezes por semana, era uma beleza!", disse a profissional de educação física Julia Duarte, que deixou de usar o sistema quando a estação da rua Wisard (zona oeste), que ficava perto de sua casa, foi removida.

A profissional de educação física Julia Duarte na esquina da rua Wisard com a rua Harmonia (zona oeste da cidade de São Paulo), onde antes existia uma estação Bike Itaú - Caio Guatelli

"Eventualmente fazemos uma realocação de estação para atender alguma região que está com a demanda maior. Mas a principal causa de remoções parte de solicitações da prefeitura para a realização de obras", explicou Gabriel Reginato, diretor de negócios da Tembici.

Sobre o alcance do sistema, Reginato revelou que uma das grandes apostas do Bike Itaú e da Tembici para a expansão da rede nos próximos anos é a ampliação da frota de bicicletas elétricas (atualmente limitada a 700 unidades, sendo que 500 estão no Rio de Janeiro). Segundo ele, públicos e regiões mais afastados do centro seriam beneficiados pela maior autonomia do novo modelo. "Enquanto as bicicletas convencionais rodam em média 4 ou 5 km por viagem, a elétrica pode chegar a 9 ou 10 Km. Desta forma é bem possível que outras pessoas possam participar mais desse ecossistema", disse Reginato.

Recentemente o Itaú anunciou a renovação do contrato por mais 10 anos, período no qual projeta uma expansão de toda sua frota em 50%.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.