A última etapa do julgamento do empresário José Maria da Costa Júnior, acusado de dirigir bêbado, em alta velocidade, atropelar, não prestar socorro e matar a ciclista Marina Kohler Harkot em 8 de novembro de 2020, foi adiada a pedido de sua defesa.
O início do julgamento pelo júri popular, que estava marcado para às 13h desta quinta-feira (20), no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, ainda não tem nova data. De acordo com o despacho dado pela juíza Marcela Raia de Sant’Anna, do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), a decisão se deu pela "impossibilidade de comparecimento do réu por questões de saúde".
O advogado José Miguel da Silva Júnior, que defende o réu, confirmou o pedido e disse que seu cliente está com dengue. Sua solicitação foi feita na manhã de quarta-feira (19), anexada a um atestado médico. O MPSP (Ministério Público de São Paulo) concordou.
Em nota divulgada à imprensa, o MPSP disse que "o júri foi adiado pelo fato de o réu ter afirmado que está com dengue, mesmo sem exame comprobatório do diagnóstico", e indicou que a promotoria está apurando a veracidade do diagnóstico junto à Santa Casa de Misericórdia da cidade de Socorro, interior de SP, onde teria sido feito o atendimento, "sob pena de responsabilização criminal do réu pelo crime de fraude processual".
A nota diz que "o réu responde por homicídio qualificado pelo perigo comum por dolo eventual, por omissão de socorro e embriaguez ao volante. Para a Promotoria, José Maria da Costa Júnior colocou em risco outras pessoas além da própria ciclista, que trafegava com mochila amarela numa via iluminada".
De acordo com os laudos periciais, o empresário dirigia seu carro a 95 Km/h no momento do impacto com a ciclista e sua bicicleta, quase o dobro da velocidade máxima permitida no local onde ocorreu o atropelamento, a avenida Paulo 6º, em Pinheiros (zona oeste da cidade de São Paulo).
Contra o empresário também pesam a fuga e omissão de socorro, provas que indicam consumo de bebida alcoólica pouco antes do atropelamento e imagens de câmeras de segurança do condomínio onde morava, que mostram ele descontraído e sorrindo ao chegar em casa, minutos após o crime.
"Tudo isso demonstraria que ele não somente assumiu o risco, mas também o aceitou, pouco se importando com a vida da vítima. O dolo é constituído pela análise do comportamento do réu", escreveu o promotor de justiça Rodolfo Morais.
Cientista social e mestre em arquitetura, Marina pesquisava justamente a relação entre a bicicleta, as mulheres e a cidade de São Paulo. Em sua dissertação, que pode ser lida no arquivo de teses da USP, Marina escreveu: "as pessoas entrevistadas pedalam no trânsito independentemente da existência de infraestrutura cicloviária — embora digam que gostariam que o trânsito fosse menos hostil".
Marina tinha 28 anos de idade quando foi atingida pelo carro dirigido por Costa Júnior. Morreu na hora.
"Há quatro anos carregamos, diariamente, a dor de não ter Marina ao nosso lado e a ansiedade de ver a justiça sendo feita. Esperamos que a nova data do julgamento seja marcada para assim que termine o tempo do atestado médico, disse Maria Cláudia Kohler, mãe de Marina, após receber o comunicado do adiamento do Tribunal do Júri. "A demora também é um tipo de impunidade, e isso não pode se estender ", completou.
Familiares e amigos farão uma manifestação em frente ao Fórum, às 11h desta quinta-feira.
Enquanto não é remarcada a sessão do Tribunal do Júri, o réu continua respondendo em liberdade. Segundo informou a promotoria, se condenado, José Maria da Costa Júnior pode pegar mais de 20 anos de prisão em regime fechado.
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