Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Ser turista é pagar caro demais para comer porcaria

Restaurantes de parques temáticos e assemelhados nem fingem ser bons: preso, o cliente vai pagar o que for

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Foz do Iguaçu (PR)

Viajar é preciso, comer também é preciso. Coordenar as duas coisas nem sempre é fácil.

Fora de casa, em especial na primeira vez de um destino, tudo meio que se parece. Placas, luminosos, cardápios do lado de fora, um infeliz mal pago para agarrar o passante pelo cangote.

Sim, faço pesquisa prévia e coleto indicações. Elas de nada prestam para o caos da chegada. Num misto de exaustão, confusão e fome, você só quer resolver rapidamente a parada.

Por isso, a primeira refeição de uma viagem também costuma ser a pior. Tá valendo, é uma boa história para recordar.

Prato de arroz, feijão, frango, salada e fritas
Prato-feito vendido por R$ 68 na lanchonete do Parque Nacional do Iguaçu, onde ficam as cataratas - Marcos Nogueira

Existe uma diferença entre viajar a lazer e fazer turismo. Você pode fazer turismo na cidade onde mora. Você pode viajar sem se meter em programas turísticos clássicos.

O turista, via de regra, paga uma fortuna para engolir uma comida, pardon my French, de merda.

É um clássico das arapucas de turista, dos restaurantes situados em pontos bons demais para o proprietário se preocupar com a qualidade da cozinha.

Tem na praia de Copacabana, tem quando cruza a Ipiranga e a avenida São João, tem nos Champs-Élysées e em qualquer biboca que enche de gente que desce de ônibus ou navio de cruzeiro.

Há, contudo, algo mais perverso do que as arapucas das ruas. Delas você consegue fugir. Restaurantes, lanchonetes e cafés dentro de atrações pagas são presídios de segurança máxima.

Você vai para um museu, parque natural ou temático –importa pouco o tipo de atração, muito o tempo que ela demanda do visitante. Filas, caminhadas, filas, tempo para ver o que tem para ser visto, filas, filas e... filas.

Vai o dia todo nisso. A fome bate, impávida feito Muhammad Ali. E dali não há como sair.

Esquivo-me desses programas ou deixo para comer depois, mas às vezes não dá para evitar. É o caso presente, aqui em Foz do Iguaçu. Como não visitar as cataratas? Recomendo, aliás: uma maravilhosidade.

Cheguei às 11h30, e o ingresso comprado no ato dava direito a embarcar no ônibus das 13h30 –da sede até as quedas, vai um passeio longo.

Na espera, naturalmente, fui dar almoço para meu filho. Só há uma lanchonete. Ambos escolhemos o prato-feito de frango (sempre a opção menos perigosa), com arroz, feijão-preto, fritas e salada.

Cada prato por R$ 68. Comida apenas comível. Conta total, com duas águas, um suco e um açaí para a criança, R$ 190.

É a mesma lógica dos aeroportos: cobre do prisioneiro o quanto quiser, não precisa nem fingir que serve algo bom. Mesmo antes de embarcar, o turista deixa uma fortuna para comer mal.

Dias depois fomos ao Paraguai. Metemo-nos numa galeria caótica e feia demais, quiçá um pouco perigosa, além de suja. Meu nariz encontrou o Al Kahl, operação libanesa islâmica e familiar, num cantinho daquele furdunço todo.

Kafta, shish taouk, hommus, saladas de alface, cebola e salsinha com sumac, mais pasta de alho e pão, tudo por 50 contos para dois, água com gás inclusa. Comida absolutamente fabulosa.

Pena que o destino fosse a 25 de Março elevada ao cubo, com chuva. Complicado coordenar essas coisas.

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