Darwin e Deus

Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas

Darwin e Deus - Reinaldo José Lopes
Reinaldo José Lopes

Inscrição de 1.200 anos mostra como China recebeu o cristianismo

Monumento na cidade de Xi'an narra chegada de monges sírios ao país no ano 635

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Reinaldo José Lopes

Repórter de ciência e colunista da Folha. Autor de "Homo Ferox" e "Darwin sem Frescura", entre outros livros

"Tendo examinado os princípios dessa religião, nós os consideramos puramente excelentes e naturais; investigando sua origem, descobrimos que ela se elevou do estabelecimento de verdades importantes; seu ritual é livre de expressões perplexas, seus princípios sobreviverão quando a estrutura for esquecida; é benéfica para todas as criaturas; é vantajosa para a humanidade. Que seja publicada em todo o império." Foi com essas palavras, inscritas em pedra, que o governo da China imperial, na época da dinastia Tang (618-907 d.C.), registrou a chegada dos primeiros missionários cristãos ao seu território.

Desenho antigo achado na China mostra cristãos com aparência oriental. São quatro pessoas em pé com roupas de sacerdote
Imagem medieval de procissão de Domingo de Ramos na China, dos séculos 7 ou 8 d.C. - Creative Commons

Trata-se de uma história fascinante e pouquíssimo conhecida no Ocidente. Tudo indica que a fé em Jesus Cristo chegou ao atual território chinês em 635 d.C., por meio de missionários nestorianos de língua siríaca (segundo a inscrição oriental, chefiados por um certo Raban Olopun). Eram grupos considerados heréticos pelo Império Romano do Oriente e pelos cristãos europeus, mas sua atividade evangelizadora conquistou milhões de novos adeptos por toda a Ásia.

A China da dinastia Tang, riquíssima e cosmopolita, estava acostumada a receber mercadores e pensadores dos mais diversos territórios asiáticos. Por isso, não teve problema em aceitar os missionários da "Religião Luminosa do Ocidente", como a inscrição designa a crença recém-chegada.

O monumento, uma estela (basicamente um poste de pedra) foi erigido na cidade de Xi'an no ano 781 do atual calendário cristão. Ele é encimado por uma cruz cristã, mas logo abaixo dela estão nuvens, representando o taoísmo (religião tradicional chinesa), e flores de lótus, simbolizando o budismo.

"Os princípios corretos não têm nome invariável, os homens santos não têm estação invariável; os ensinamentos são estabelecidos de acordo com os valores de suas próprias regiões, e com o objetivo de beneficiar o povo em geral. O grande virtuoso Olopun, do reino da Síria, trouxe seus livros e imagens sagradas daquela parte distante e os apresentou em nossa capital principal", diz também o texto. "Que a autoridade adequada construa uma igreja síria na capital, que será governada por 21 sacerdotes."

E as inscrições da estela ainda terminam com um poema:

"Quando a pura e brilhante Religião Ilustre
Foi apresentada à nossa dinastia Tang,
As Escrituras foram traduzidas, e as igrejas construídas,
E o navio foi colocado em movimento para os vivos e os mortos;
Todo tipo de bênção foi então obtido,
E todos os reinos desfrutaram de um estado de paz."

As informações estão no belíssimo livro "História da China: Retrato de Uma Civilização e Seu Povo", do britânico Michael Wood, que tive o prazer de resenhar para esta Folha.

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