Muito se fala sobre em que investir para atingir uma aposentadoria tranquila. Entretanto, investir bem durante a aposentadoria é tão ou mais importante quanto o período anterior. Enquanto antes da aposentadoria erros podem ser corrigidos, depois que inicia a aposentadoria um erro pode causar sérias consequências.
Dentre os diversos fatores a se preocupar neste período de benefício previdenciário, vou abordar três questões relevantes: fluxo de caixa, risco e sucessão.
Um dos pontos fundamentais durante a aposentadoria deve ser a preocupação com o fluxo de caixa. O que quer dizer isso?
Você deve planejar qual o fluxo de retiradas necessário durante todo o período. Da mesma forma, deve garantir que seu patrimônio gere renda o suficiente para cobrir este fluxo de caixa.
Quando menciono fluxo de caixa, não estou me referindo exclusivamente a dividendos. Pagamento de juros ou dividendo são importantes, mas não são prioritários, a não ser que seu patrimônio seja grande o suficiente para você viver apenas deles.
É uma falácia o que afirmam que uma carteira de ações para aposentadoria tenha de ser necessariamente formada por ações pagadoras de dividendos.
O importante é o retorno total, que é formado tanto pelo ganho de capital quanto de dividendos ou juros.
Assim, o fluxo de caixa deve ser pensado em termos de vencimentos de títulos e de pagamentos de proventos.
Em um portfólio, que vai durar os 30 anos de aposentadoria, é importante escalonar os vencimentos dos títulos ao longo dos anos.
Assim, você não vai ter de vender títulos em períodos desfavoráveis como o que estamos vivenciando agora.
Seu portfólio deve ter risco?
O risco na aposentadoria precisa ser administrado de forma mais criteriosa que no período anterior à aposentadoria.
Investidores se tornam mais conservadores ao se aposentar, pois usualmente perdem habilidade de suportar volatilidade quando não possuem renda. Assim, é importante reduzir o risco antes de enfrentar uma queda do mercado para não ter de reduzir após a queda.
Mas, não quer dizer que não tenha de ter qualquer risco. Lembre-se que uma parcela de seu portfólio só será utilizada 25 anos depois de você se aposentar.
Por exemplo, com R$ 2,1 milhões e uma taxa de juros real de 0,33% ao mês (4% ao ano acima da inflação) seria possível ter uma renda de R$ 10 mil mensal por 30 anos. Quando você chegar aos 25 anos de aposentadoria, ainda haverá um patrimônio de R$ 541 mil a valores de hoje que serão suficientes para o compromisso mensal pelos últimos cinco anos.
Assim, se você possui um perfil agressivo poderia alocar, hoje, esta parcela de R$ 541 mil em ativos que eventualmente possam garantir uma melhora da renda no futuro ou, até mesmo, deixar para os herdeiros, que é o próximo tópico.
É necessário se preocupar com sucessão?
Infelizmente, a probabilidade de uma fatalidade cresce à medida que envelhecemos. Logo, é importante pensarmos em facilitar a passagem dos bens aos herdeiros.
Isso economizará dinheiro de seus familiares com impostos e custos de transferência de bens, além de evitar brigas na família, justamente no momento em que ela deveria estar mais unida.
Um bom planejamento, reduzirá a dilapidação do patrimônio que você tanto suou para construir.
Existem vários itens a pensar, mas vou colocar duas dicas.
Primeiro, evite ter imóveis em seu nome se você já tem mais de 70 anos. Você pode fazer a doação em vida com usufruto. Entretanto, evite colocar um mesmo imóvel no nome de dois ou mais irmãos. Você só vai gerar uma briga, pois sempre um vai querer vender e ou outro não.
Alternativamente, se só tiver um imóvel e uma família grande, prefira já vender o imóvel em vida e use este valor como fonte para sua aposentadoria mais tranquila.
Segundo, na medida em que for envelhecendo, a parcela de seu patrimônio aplicada em produtos de previdência, como VGBL, deveria ser maior. Para os recursos que você não vai usar na sua aposentadoria, uma regra simples é ter o número de sua idade como proporção aplicada em VGBL.
Por exemplo, para alguém com 70 anos, segundo o IBGE, a expectativa média de sobrevida é de 16 anos. Com R$ 1,42 milhões, você poderia viver estes 16 anos, recebendo R$10 mil mensais com juro real de 0,33% ao mês. Se você tivesse R$ 500 mil a mais do que este valor, 70% dele, ou seja, R$ 350 mil deveria estar em VGBL.
Planejando adequadamente o fluxo de caixa de seus investimentos, controlando o risco e mantendo uma parcela preparada para sucessão, o sucesso de uma aposentadoria tranquila está garantido.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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