Desde dezembro de 2019, o Real já se desvalorizou 25% frente ao dólar, saltando de R$4/ USD$ para R$5/ USD$. Quando avaliamos essa desvalorização isoladamente, tendemos a acreditar que ela foi demais. Entretanto, não é o que o índice Big Mac indica.

Nos últimos dezoito meses, o Dólar se valorizou mais de 15% frente as principais moedas no mundo. Essa valorização levou a moeda americana ao patamar mais alto das últimas duas décadas. Essa valorização do Dólar pode ser observada no gráfico abaixo.

Ao contrário do movimento global, o Real se valorizou este ano alcançando o valor de R$4,6/ USD$, mas logo voltando para os R$5/ USD$. Naquele momento, muitos diziam que fazia sentido, pois o Brasil é um país exportador de commodities e estas estão subindo.

De fato, conforme trabalho acadêmico desenvolvido com minha parceria (link), os preços de commodities possuem relação com o câmbio.

No entanto, o movimento foi impulsionado por uma forte entrada de capital estrangeiro. Tão logo este fluxo se inverteu, o câmbio também voltou à direção dos pares internacionais.

Como todos sabem, prever o câmbio é tarefa árdua. No entanto, podemos ver como a moeda está relativamente as outras quando observamos o preço de um bem comum padronizado e vendido nos diversos países.

Esse é o caso do sanduíche Big Mac. Assim, criou-se o índice Big Mac como uma forma de estimar quão cara uma moeda estaria em relação a outras.

Segundo levantamento da Bloomberg, apresentado na figura abaixo, o Real é a moeda mais valorizada dentre as moedas de países emergentes. Logo, para um consumidor estrangeiro que vem com dólar comer um Big Mac no Brasil paga mais caro que em qualquer outro país emergente.

A tabela acima mostra que todas as moedas estariam baratas frente ao Dólar, ou seja, estão mais desvalorizadas. O Real seria a mais cara entre elas, ou seja, teria menos espaço para valorização frente aos pares emergentes. Portanto, o movimento que temos agora é algo mais estrutural e não exclusivo por efeitos internos.

Na tabela acima, é apresentado o ranking das principais moedas, segundo o índice Big Mac.

Veja que o Real estaria mais caro que o Euro. Ou seja, hoje é mais barato comer um Big Mac na Europa que no Brasil.

O movimento de valorização do Dólar frente as principais moedas é justificado pela expectativa de elevação das taxas de juros nos EUA. Assim, para segurar o câmbio, talvez nossa taxa de juros tenha de subir ainda mais se os EUA subirem as taxas de juros acima do esperado.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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