Naturalmente, somos atraídos por ativos que se valorizam. Quando se trata de um ativo que nos traz a imagem de algo precioso, essa atratividade é ainda maior. Neste ano, o ouro reúne as duas qualidades da atração. Entretanto, será que faz sentido investir neste momento?
Não sou fã de ativos que não produzem renda e a única justificativa para a compra é de que a demanda por ele pode aumentar. O ouro se enquadra nesta categoria.
Entretanto, não sou contra o investimento. Ele pode fazer parte de uma pequena parcela de um portfólio diversificado de ativos de risco. Assim como commodities em geral.
Entretanto, é preciso tomar muito cuidado com o investimento.
A maioria dos investidores individuais que o adquirem, compram no entusiasmo de influenciadores de mídias sociais que criam estórias conspiratórias para justificar o investimento. Eu já ouvi cada estória suficiente para rir e perder o fôlego.
De forma impressionante, o indivíduo comum é atraído por estórias conspiratórias ou promessas irrealistas. Esse é um dos principais fatores que justificam porque tantas pessoas caem em golpes.
Vamos aos fatos.
Nos últimos dez anos, o ouro se valorizou em média 3,1% ao ano. Em 2021 e 2022 ele se desvalorizou. Em 2022, quando vários ativos de risco como bolsas de valores no mundo caíram, o ouro também caiu. Sim, o ouro também é um ativo de risco. A volatilidade dos retornos do ouro é similar à de bolsas de valores.
Vamos entender o que ocorreu recentemente para explicar a alta. Depois explico como você deve apostar se quer ganhar com os movimentos do metal.
No último ano, os EUA, se valeu de sua moeda, o dólar, como fonte de pressão econômica contra a Rússia. Isto fez com que vários países refletissem sobre a diversificação de suas reservas. O ouro sem dúvida foi um dos ativos selecionados.
Entenda que países e grandes investidores institucionais compram ouro, muitas vezes, não por acreditarem em retorno absoluto vantajoso. Um dos principais objetivos é proteção e diversificação. Mas, não é o conceito de proteção como você, pequeno investidor, acredita.
Quando estes grandes investidores falam em proteção não significa que o ouro seja um ativo que não perde valor. O significado de proteção para eles é a característica de correlação negativa com outros ativos de risco. Assim, a proteção significa reduzir a volatilidade geral do portfólio.
No outro caso, ou seja, na diversificação de reservas de países, o objetivo é ter um ativo adicional para trocar por dinheiro ou outro bem e que esteja livre de embargos.
Fato é que o movimento do ouro foi contra o principal fator que justifica sua variação. A variação da taxa de juros explica quase todo o movimento do metal precioso nos últimos vinte anos. Observe o gráfico acima.
O gráfico apresenta a evolução dos preços do ouro na linha branca. Na linha laranja, em escala invertida, há a evolução da taxa de juros dos títulos públicos federais americanos de 10 anos.
Como o ouro é um ativo que não produz fluxo de caixa, o custo de oportunidade de se carregar este ativo em carteira é a taxa de juro. Portanto, esse custo se torna mais caro quanto maiores são as taxas de juros.
Investidores institucionais tendem a reduzir suas posições em ouro para diversificação quando as taxas sobem e elevam quando as taxas caem. Logo, o metal costuma cair quando as taxas sobem e se valorizar quando as taxas caem.
Nesse momento, as taxas de juros subiram. Assim, seria esperado o ouro cair. Portanto, muito cuidado ao entrar no mercado agora, pois pode pegar justamente a reversão da demanda que expliquei acima e a volta à correlação natural.
Então, aqui vão duas dicas. Se você quer proteger o poder de compra de seu patrimônio, esqueça ouro e invista em um CDB ou renda fixa com retorno de IPCA+6% ao ano. Se você receia por uma guerra e quer se proteger deste evento, compre um ETF de empresas de armamentos e defesa, por exemplo, o ITA.
O retorno por se investir em ouro perde de um CDB a IPCA+6% aa nos últimos vinte anos e deve continuar perdendo nos próximos 20 anos. Também, o retorno do ITA (ETF de empresas de defesa dos EUA) foi o dobro do retorno do ouro, nos últimos 17 anos.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
Fale direto comigo no e-mail.
Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.