Acumular um quinto do necessário para a aposentadoria pode parecer um marco significativo. No entanto, muitas pessoas que começam a poupar nunca chegam a concluir suas economias. Isso ocorre porque, frequentemente, ao atingir um determinado patamar de patrimônio, surge a tentação de gastar em algo significativo, como um imóvel, um automóvel ou uma viagem dos sonhos. Essa tentação constante impede que os objetivos financeiros de longo prazo sejam alcançados.
A sensação de ter um dinheiro disponível muitas vezes cria uma falsa sensação de segurança. Afinal, pensar em gastar um montante acumulado em algo tangível e imediato é mais atraente do que deixá-lo aplicado por mais décadas. No entanto, esse comportamento é prejudicial para o crescimento do patrimônio, especialmente quando consideramos o efeito dos juros compostos ao longo do tempo.
Quando se retira uma quantia substancial das economias, não se está apenas diminuindo o montante principal, mas também sacrificando os juros que seriam gerados sobre aquele montante no futuro. O poder dos juros compostos reside justamente na capacidade de gerar retornos sobre os retornos anteriores, criando um efeito bola de neve que acelera o crescimento do patrimônio com o passar dos anos.
Para ilustrar o impacto dos juros compostos e o problema do saque antecipado, veja o exemplo. Considere um indivíduo que deseja ter uma renda de R$ 10 mil adicional ao INSS. Considerando uma taxa de juros real, ou seja, acima do IPCA de 6% ao ano, ele deveria acumular um total de R$ 1,7 milhão a valores de hoje.
Para chegar a esse valor, considerando a mesma taxa de juros, ele precisaria guardar R$ 1,7 mil ao mês por 30 anos, corrigidos pelo IPCA. Ou seja, se você ganha R$ 10 mil de salário, seria equivalente a poupar pouco menos de 20% da renda mensal.
Após 12 anos poupando, ele terá R$ 360 mil a valores de hoje. É uma quantia razoável e equivale a cerca de 20% do necessário. Nesse momento, usualmente, os indivíduos têm dois pensamentos: ou começam a duvidar da possibilidade de se alcançar a meta, ou querem se presentear pelo esforço, achando que isso não vai comprometer o resultado ou que a despesa vai ser tão boa quanto o dinheiro aplicado.
O questionamento se é possível alcançar a meta ocorre pois 12 anos representa 40% do tempo esperado de poupança de 30 anos e, nesse prazo, só foi poupado 20% do necessário. Fica difícil acreditar que no tempo restante, ou seja, 60% do prazo total, seria possível multiplicar por 5 a soma poupada em 12 anos, fazendo o mesmo.
No entanto, ao gastar esse dinheiro, o investidor não só perde o montante principal, mas também os juros compostos que seriam gerados sobre ele. A longo prazo, essa decisão pode representar uma diferença significativa na qualidade de vida durante a aposentadoria.
Por exemplo, se você gasta esse valor, sabe quanto tempo levaria novamente para você acumular o mesmo patrimônio? Logicamente, os mesmos 12 anos. No entanto, se você não gastar, em 12 anos, você terá R$ 1,09 milhão a valores de hoje. Isso significa que o valor terá triplicado em termos reais no mesmo prazo.
Entendeu o efeito dos juros compostos? Sabe o que muitos fazem e que acaba por comprometer a aposentadoria?
Um caso comum quando indivíduos acumulam 20% do necessário para se aposentar é a compra de um imóvel. Embora seja considerado um investimento, a compra de um imóvel costuma drenar uma grande parte do capital disponível e reduzir a capacidade de gerar retornos compostos sobre o mesmo.
Na maioria das vezes, o valor poupado é suficiente apenas para a entrada necessária para um financiamento. Os juros do financiamento, junto com a vontade de fazer reformas no imóvel, drenam toda a capacidade de poupança futura. Assim, o investimento para aposentadoria fica comprometido.
Para evitar cair nessa armadilha, é crucial estabelecer metas financeiras claras e ter disciplina para mantê-las. Criar um plano de aposentadoria detalhado e comprometer-se a segui-lo, resistindo à tentação de gastar grandes somas em itens de consumo imediato, é fundamental. Isso não significa que não se possa gastar em lazer ou realizar sonhos ao longo da vida, mas sim que esses gastos devem ser bem planejados e compatíveis com o plano de longo prazo.
Manter um foco constante nos objetivos de aposentadoria e lembrar-se do poder dos juros compostos pode ser a chave para garantir uma aposentadoria confortável e segura. Resistir às tentações imediatas e priorizar o crescimento do patrimônio a longo prazo é uma das decisões mais inteligentes que se pode tomar para assegurar um futuro financeiro estável.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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