De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu petrobras Selic juros

Só 1% a mais de retorno na renda fixa faz diferença?

Fiquei chocado ao ouvir que 1% a mais em renda fixa não faz diferença. Descubra como essa pequena diferença pode impactar drasticamente sua aposentadoria

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Essa semana estava conversando com um consultor de investimentos sobre aplicações de renda fixa e ouvi algo que me chocou. Ele disse: "Ahh, 1% a mais não faz diferença alguma. A liquidez é mais importante". Essa afirmação é comum e levanta a discussão se a maioria dos indivíduos entende o poder dos juros compostos ao longo do tempo.

Operador da Bolsa de Nova Iorque (Nyse). Michael M. Santiago/Getty Images/AFP - MICHAEL M. SANTIAGO/Getty Images via AFP

No curto prazo, realmente pode parecer que ganhar 1% a mais em um investimento de renda fixa não faz grande diferença. Afinal, quando se fala em investir para um período curto, como seis meses ou um ano, a prioridade geralmente é a liquidez. Precisamos ter acesso rápido ao dinheiro para emergências ou oportunidades de curto prazo. No entanto, ao pensar no longo prazo, essa diferença de 1% pode ser substancial.

Muitos investidores se iludem com a ideia de que podem vender um título à frente e ficar operando renda fixa, como se fosse um ativo de renda variável. A realidade é que a renda fixa, por natureza, é desenhada para oferecer previsibilidade e segurança, não para ser negociada frequentemente. Esse comportamento pode, inclusive, resultar em perdas, especialmente em um cenário de alta volatilidade ou quando se vende um título antes do vencimento em um momento desfavorável.

Para compreender a importância de 1% a mais no longo prazo, é crucial entender o poder dos juros compostos. Quando os investimentos são mantidos por um período prolongado, os juros compostos começam a trabalhar a favor do investidor, gerando rendimentos sobre rendimentos.

Por exemplo, considere um investimento inicial de R$ 100.000 com uma taxa real, ou seja, acima do IPCA de 6% ao ano versus 7% ao ano. Após 30 anos, o investimento a 6% crescerá para aproximadamente R$ 574 mil, enquanto o investimento a 7% chegará a cerca de R$ 761 mil. Essa diferença de mais de R$ 186 mil ilustra o impacto significativo de apenas 1% a mais.

Vamos continuar o exemplo e verificar o resultado na renda da aposentadoria depois de acumulado estes patrimônios acima e se o investidor continuar tendo o mesmo rendimento. No caso dos juros de 6% ao ano real, o investidor teria uma renda de R$ 3,5 mil a valores de hoje, ou seja, corrigidos pelo IPCA, na aposentadoria e por 30 anos. No caso da taxa de juros de 7% ao ano, o mesmo investidor teria uma renda de R$ 5,1 mil mensal a valores de hoje pelo mesmo período. Portanto, esse 1% a mais proporcionaria uma renda 46% superior na aposentadoria. Será que essa é uma diferença pequena?

Existem várias maneiras de obter um rendimento adicional de 1% em investimentos de renda fixa. Uma das formas é investir em CDBs de bancos médios, que oferecem taxas mais atrativas devido ao maior risco percebido em comparação com os grandes bancos. Desde que essas instituições estejam dentro do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o risco é mitigado, proporcionando uma excelente relação risco-retorno.

Outra estratégia é aplicar em crédito privado de empresas com rating AAA. Esses papéis geralmente oferecem uma remuneração superior devido ao risco de crédito associado, mas, ao investir de forma pulverizada, o investidor pode diluir esse risco e ainda assim garantir um rendimento adicional.

Além disso, a isenção de Imposto de Renda em alguns títulos, como as CRIs, CRAs e Debêntures de infraestrutura, pode contribuir com um rendimento líquido superior ao de títulos tributáveis. Essa vantagem fiscal pode ser suficiente para adicionar mais de 1% ao rendimento final do investimento. Por exemplo, uma debênture isenta de IR da Petrobras com rendimento de IPCA+6% ao ano equivale a um rendimento bruto de IR de mais de IPCA+7,5% ao ano. Parece tentador ter um ganho superior a 1% em um título de uma empresa como a Petrobras em relação a um título público de prazo equivalente.

No fim das contas, a escolha entre liquidez e rendimento adicional de 1% depende dos objetivos financeiros e do horizonte de investimento de cada investidor. Para aqueles que estão focados no longo prazo, essa pequena diferença pode resultar em um patrimônio consideravelmente maior, garantindo uma maior segurança financeira e a possibilidade de alcançar metas mais ambiciosas.

Portanto, antes de descartar um investimento por causa de uma diferença de 1%, é essencial avaliar o impacto no longo prazo e considerar estratégias que maximizem o retorno de forma segura e eficiente. A paciência e a estratégia correta podem transformar essa aparente pequena diferença em uma grande vantagem financeira.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Fale direto comigo no e-mail.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.