A poesia brasileira está em festa nesta semana. A poeta mineira Adélia Prado foi anunciada na quarta-feira, dia 26, como a vencedora do prêmio Camões deste ano, o troféu literário mais importante da língua portuguesa.
Autora de poucos livros infantis, como "Quando Eu Era Pequena" e "Carmela Vai à Escola", ela já tinha recebido na semana passada o prêmio Machado de Assis, entregue pela Academia Brasileira de Letras.
Enquanto esperamos Adélia Prado publicar um novo título para crianças, dá para ir esquentando as expectativas com novos livros de poesia para o público infantil que chegam às livrarias.
Abaixo há cinco boas opções. A lista conta com obras que dialogam com a poesia popular e os folhetos de cordel, tem livro inspirado em poeta do século 13 e também antologias que brincam com as palavras e com a linguagem, chamando as crianças para a roda —e também os adultos, é claro.
Zé Bigode Rei da Rua em Cordel
Se você entrar numa livraria e vir um livro meio maluco, com formas diferentes e fora de padrão, são grandes as chances de que ele tenha sido publicado pelas Edições Barbatana. "Zé Bigode Rei da Rua em Cordel" é mais um exemplo. Com texto e xilogravuras de Eduardo Ver, a obra lembra um grande envelope e tem 14 folhas coloridas dentro. Soltas e embaralháveis, mas numeradas, elas exibem ilustrações em preto e branco produzidas a partir de matrizes entalhadas em madeira, como manda o figurino da xilogravura. No verso, estrofes rimadas narram o encontro do protagonista com Zé Pelintra, entidade muito cultuada em religiões afro-brasileiras. Sem medo da caretice que ronda a literatura infantojuvenil, o livro se esbalda em referências a folhetos de cordel e mergulha nas veredas e raízes profundas que formam a identidade cultural brasileira.
Solução do Peixe-Boi
A poesia popular e a literatura de cordel também conduzem este livro. As estrofes de sete versos e rimas fixas de Mari Bigio contam a história de um peixe-boi que não para de soluçar. Para ajudá-lo, cada bicho apresenta uma solução diferente —muitas delas ligadas a simpatias e saberes que se espalham pelas ruas. A garça, por exemplo, fala que o mamífero deve comer farinha de mandioca. O jacaré diz que é para beber bastante água. O sapo jura que o plano é grudar um algodão na testa. Qual tática vai dar certo? As ilustrações de Joana Lira acompanham essa jornada cheia de soluços com uma estética que flerta com a xilogravura e com cores da arte popular latino-americana.
Tudo que Você É
O que é poesia? Um texto rimado e quebrado em versos? Ou será que não importa a forma, mas a maneira como o autor usa a linguagem? A pergunta parece simples, mas dá pano para manga —e estas poucas linhas não são suficientes nem para fazer cócegas na discussão. Mas "Tudo o que Você É" ajuda na conversa. O livro do iraniano Omid Arabian é inspirado num poema de Rumi, poeta da tradição persa e árabe que viveu no século 13. Sem rimas nem versos definidos, a obra aposta no ritmo e no diálogo entre as palavras de Arabian e as ilustrações da também iraniana Shilla Shakoori para falar sobre as profundezas que existem em nós e no mundo —e também investigar o que é, afinal, a poesia.
Tia Cotinha
Cecília Meireles, umas das principais autoras brasileiras, escreveu uma série de poemas para crianças em que objetos ganham protagonismo —como "Ou Isto ou Aquilo", no qual "ou se calça a luva e não se põe o anel,/ ou se põe o anel e não se calça a luva!", ou em "Colar de Carolina", "com seu colar de coral,/ Carolina/ corre por entre as colunas/ da colina". Giba Pedroza bebe dessa fonte em "Tia Cotinha". O autor apresenta versos rimados cheios de musicalidade para contar a história de um pai que vai passear com a filha na caminhonetinha da tia Cotinha. Guiado pelo veículo, o trajeto logo acelera pela avenida formada por memórias de família, onde há lombadas, buracos e curvas, mas também muito afeto, que ganha contornos nos traços e nas cores avermelhadas de Fernanda Rodrigues.
Na Casa Amarela do Vovô
Jaqueline Conte entrega uma verdadeira enxurrada de poesia nesta antologia ilustrada por Oscar Reinstein. Com cerca de 40 poemas, a obra já tinha sido publicada anos atrás, mas com circulação restrita, e agora sai comercialmente pela editora Tapioquinha. Além de criar estrofes sobre os mais diversos temas, como bichos, frutas, famílias e receitas, a autora dá uma bela definição de poesia em "Poema Brincante": "Poema/ É brincadeira de palavras/ Que gostam/ De se divertir". E exemplifica essa ideia um pouco mais adiante, em "O Pirilampo", que faz a linguagem rodopiar: "O pirilampo pisca-pisca/ O pisca-pisca pirilampa/ Piripisca/ Piscalampo/ Ligapaga/ O pirilampo". Mas a surpresa vem mesmo no fim, com poemas feitos a quatro mãos com sua filha, Anna Sophia, quando ela tinha 11 anos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.