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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Taxa fixa ou rebate: o que realmente importa na escolha do seu assessor ou consultor de investimentos?

Uma característica é mais importante do que o modelo de remuneração na escolha do seu consultor ou assessor.

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Recentemente, recebi um e-mail de um investidor descontente com o profissional de investimentos que o atendia. Ele me perguntou se mudar a forma de pagamento ou escolher um outro especialista de diferente categoria resolveria seus problemas. Esse questionamento revela um dilema comum entre investidores: será que a forma de remuneração do profissional ou sua categoria realmente influencia a qualidade do serviço prestado?

Operadores de mercado na New York Stock Exchange (NYSE). - Brendan McDermid/REUTERS

É fundamental entender que a forma de pagamento ou o título deste especialista de investimentos não transforma um profissional mediano em excelente. A confiança que você deposita nele, seu conhecimento, atendimento, alinhamento e a competência deste profissional são os verdadeiros pilares de um bom serviço. A forma como o especialista recebe sua remuneração não muda sua essência. Se você não confia nele, pagar mais ou menos ou de forma diferente não fará com que ele se torne mais confiável, mais assertivo ou atenda melhor.

Atualmente, existe duas batalhas entre os profissionais de investimento. Por incrível que pareça, o que fala mal cobra mais e é por essa discussão que vou começar. Uma das discussões é sobre o pagamento dos serviços por a taxa fixa ou por rebate. Vamos entender essa diferença.

Ao investir, seja por meio de uma corretora ou banco, você paga algumas taxas pelos serviços às instituições financeiras. Para te auxiliar nos investimentos, existem os assessores e consultores. Eles podem ganhar de duas formas diferentes.

Um assessor de investimentos pode receber uma parte das taxas que já são pagas as instituições. Essa seria a forma conhecida com rebate. Outra forma, seria o assessor receber uma taxa fixa em acima de tudo que é pago. Nesta última forma, a parte que antes era paga ao assessor é revertida ao cliente. É ingenuidade acreditar que nesta segunda forma o cliente paga menos e vou exemplificar logo mais. Também, não ter assessor ou não usar, não significa que se paga menos. Sem um assessor, as taxas envolvidas, que antes eram divididas com o assessor, são concentradas para a instituição financeira.

Por exemplo, um fundo de renda fixa pode ter uma taxa de administração de 0,5%. Se você não tiver um assessor, essa taxa é compartilhada apenas entre o gestor e a instituição. Com um assessor, a taxa permanece a mesma, mas a instituição divide parte dela com o profissional que te atende. O mesmo acontece com produtos como CDBs, onde há um spread embutido no rendimento oferecido.

O modelo de taxa fixa é um valor predeterminado que você paga pelo serviço do assessor ou consultor, independentemente dos produtos escolhidos. Esse modelo pode parecer atrativo por parecer reduzir conflitos de interesse, mas nem sempre é a melhor opção. Afinal, muitas vezes, se paga mais por esta escolha como mencionei.

Por exemplo, para investidores de renda fixa, a taxa fixa pode ser muito superior ao rebate. O ganho de um assessor que recebe por rebate na distribuição de um CDB é em média equivalente a 0,15% ao ano. O mesmo assessor (ou um consultor, como vou exemplificar a seguir) que recebe por taxa fixa vai ganhar no mínimo 0,5% ao ano sobre o mesmo CDB. Enquanto por cinco anos de investimento em um CDB o assessor que recebe por rebate ganhou 0,75%, o assessor ou consultor que recebeu taxa fixa ganha 2,5% no mínimo. Mesmo considerando que a parcela do assessor volta para o cliente no regime de taxa fixa, esse cliente pagaria a mais 1,75% sobre o investimento em cinco anos.

Mas este não é o único dilema. Também há o de escolher entre um consultor ou um assessor. Diferente do passado, hoje, os papéis de consultores e assessores são muito similares. Portanto, optar por um consultor, geralmente, significa escolher por um especialista que só pode cobrar por taxa fixa, ou seja, mais caro.

Por exemplo, o investidor que conversei nesta semana dividiu comigo o contrato de um consultor que lhe oferece serviço. O contrato tinha uma tabela de cobrança atrelada ao patrimônio. A tabela começava com uma taxa de 1,5% ao ano para patrimônio de R$ 300 mil e terminava em 0,8% ao ano para um patrimônio superior a R$ 10 milhões. Fico assustado em ver cobranças tão elevadas, enquanto ao mesmo tempo estes profissionais criticam assessores.

A justificativa por cobrar uma taxa fixa elevada seria a isenção. O argumento não parece fazer sentido quando se analisa racionalmente. Se você não confia em um profissional, não é porque se paga mais caro por outro que ele passa a ser confiável. Melhor mudar para um que se confie.

Pode-se argumentar que o consultor tenderia a ser independente, mas isso também não é inteiramente verdade. A maioria dos consultores acaba concentrando sua atuação em uma única instituição. Isso ocorre porque as instituições financeiras atualmente são muito semelhantes entre si. Assim, o consultor tende a escolher aquela instituição que oferece mais facilidades operacionais ou mesmo acordos financeiros para incentivar a preferência.

Essa similaridade entre as instituições desmorona um dos principais argumentos dos consultores, que é a possibilidade de atuar em diversos lugares. Na prática, essa complexidade de atuar em diversos lugares é muitas vezes usada para justificar a cobrança de valores mais elevados.

Escolher o profissional de investimentos é como escolher um médico. Muitas vezes, escolhemos nossos médicos por indicação ou porque são profissionais de referência em suas áreas. Da mesma forma, ao escolher um profissional de investimentos seja um consultor ou assessor, a confiança e a credibilidade são fundamentais.

Um bom especialista vai te orientar sobre as melhores opções, explicar o cenário econômico e apresentar oportunidades que você. Assim como confiamos em um médico para cuidar da nossa saúde, devemos ter um profissional de investimentos que confiamos e que seja competente para cuidar dos nossos investimentos.

Portanto, ao escolher um profissional de investimentos, seja um assessor ou consultor, procure alguém que você confie seja por indicação ou por referência de mercado, que te ofereça segurança e clareza, e que você se sinta confortável em pagar pelo serviço oferecido. Afinal, o objetivo não é apenas encontrar o modelo de remuneração ideal, mas sim um profissional em quem você possa confiar plenamente para gerir seu patrimônio.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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