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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Este erro com ações quase comprometeu o patrimônio de Walter e seu bem-estar

Três erros que quase transformaram uma análise perfeita em uma tragédia

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No último domingo, recebi uma mensagem de um ex-aluno e, curioso como sou, logo pedi para conversar com ele para entender o que havia ocorrido. Depois de ler o depoimento de Alberto que escrevi na coluna do último sábado, ele me escreveu dizendo que também gostaria de contar uma história que aconteceu com ele, para que, com o conhecimento de seu erro, outros pudessem evitá-lo. O mais surpreendente é que, depois de três anos, descobri que eu estava envolvido nesse erro.

Operadores do mercado de ações no pregão da New York Stock Exchange (NYSE). - ANGELA WEISS/AFP

Sim, eu era o professor dele. Lecionava a matéria de avaliação de empresas. Em curso, que durava um trimestre, os alunos tinham de escolher uma empresa e fazer a avaliação dela. Ou seja, precisavam interpretar os demonstrativos financeiros, pesquisar sobre o produto, a concorrência e as perspectivas da indústria e do negócio. Tudo isso era transformado em um modelo em Excel que projetava os fluxos de caixa da empresa. Por fim, chegava-se ao valor justo sob circunstâncias estimadas.

Qualquer projeção depende do cenário econômico e financeiro estimado para a empresa. Por exemplo, como deve crescer sua receita, como devem evoluir suas margens, quais são os investimentos necessários e qual o seu custo de capital. Tudo isso também depende de fatores exógenos, como competição, mudanças regulatórias, tecnologia, demanda do consumidor, entre outros.

Apesar de toda a subjetividade nesse estudo, como abordei ontem, quando se compra uma ação é muito importante fazer essa análise, pois, por meio dela, é possível entender em que condições o retorno é atrativo e faz sentido se tornar sócio da empresa.

O erro de Walter não foi no seu trabalho. Ele e sua equipe fizeram uma análise profunda, até mais que a média dos alunos. Entretanto, foi o engajamento dele no estudo da empresa que o levou ao primeiro erro.

O primeiro erro foi não reconhecer que a realidade se mostrou diferente do cenário estimado para a empresa e a economia. Daí vem a primeira lição: nunca se "apaixone" por uma empresa, pois isso pode cegá-lo.

Como mencionei no artigo de ontem, quando o cenário muda, é importante reavaliar se, sob as novas condições, ainda faz sentido manter-se como sócio da empresa. Nesse momento, Walter já estava cego pela sua nova "paixão", o que o levou ao segundo erro.

Não só ele decidiu manter as ações, como, devido à queda no preço, começou a comprar mais ações. Essa é uma prática perigosa e muito usada por pessoas que não desejam assumir o erro inicial.

Comprar a preços menores um índice de ações é diferente de fazer o mesmo com uma única empresa, principalmente quando o cenário se mostra diferente. Um índice é uma carteira de ações diversificada e, se uma empresa tem um desempenho muito pior, ela perde peso no índice. Ou seja, é como se o índice vendesse as ações dessa empresa que está indo relativamente pior em troca de outras que estão desempenhando melhor.

É razoável supor que um índice pode reverter à média, ou seja, se ele caiu, pode voltar a subir, pois a economia costuma ser cíclica. Entretanto, o mesmo não é possível assumir para uma ação. Ou melhor dizendo, o tempo para uma ação voltar a subir, se algo significativo mudou, pode ser longo o suficiente para não valer a pena comprar mais ou mesmo manter o que se tinha.

Se você compra uma ação apenas porque seus preços caíram, mas cujo cenário se deteriorou, você está assumindo que o preço anterior estaria certo mesmo nas novas condições. Entretanto, o preço anterior não pode ser justificado por ambas as circunstâncias, ou seja, a anterior melhor e a nova pior.

A medida que os preços da ação se depreciavam, Walter foi levado ao terceiro erro: aplicar uma parcela significativa de suas aplicações em um único ativo de risco.

Nunca comprometa uma proporção relevante de seu patrimônio em um único investimento de risco, principalmente, se ele vem se mostrando errado. Lembre-se, dificilmente você concerta um erro, colocando mais dinheiro nele. Evite aplicar mais de 10% de seu patrimônio em um único investimento de risco como uma única ação.

Os três erros juntos consumiram um capital significativo de Walter. Pior ainda que a perda financeira foi o comprometimento de seu bem-estar. Como ele confessou, com o tempo, a perda financeira começou a afetar outros aspectos de sua vida pessoal.

Como ressaltado por Walter: "Espero que a compreensão do meu erro sirva de alerta para muitos investidores incautos." Cuidado para não se apegar a um investimento. Avalie com muito critério os investimentos de risco e monitore sua adequação constantemente. Se você deseja correr riscos, nunca comprometa parte relevante do seu patrimônio de forma que um erro possa prejudicar tanto suas finanças quanto seu bem-estar.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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