É Logo Ali

Para quem gosta de caminhar, trilhar, escalaminhar e bater perna por aí

É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
Descrição de chapéu yanomami

Yanomami do Amazonas geram renda com ecoturismo

Presidente da Associação que administra acesso ao pico da Neblina diz que pretende levar know how de economia sustentável aos irmãos de Roraima

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Atentos e preocupados com o que acontece com os yanomami em Roraima, a quase 1.000 quilômetros de distância de São Gabriel da Cachoeira (AM), os yanomami amazonenses se preparam para levar aos irmãos de etnia o know how adquirido na implantação do projeto Yaripo, que há sete anos opera o acesso ao pico da Neblina, ponto mais alto do país, com 2.995 metros de altura, e meta de montanhistas que desejam encarar as dificuldades da Amazônia em seu mais árduo esplendor.

Se nas terras yanomami de Roraima não há pontos icônicos como o pico da Neblina ou mesmo o monte Caburaí (1.465 metros), ponto confirmado como o mais extremo ao norte do Brasil, a 80 quilômetros do monte Roraima, e explorado turisticamente pela etnia ingarikó, a proposta que os irmãos amazonenses pretendem levar é a implantação de um plano de visitação controlada com foco em observação antropológica —quando a visitação é controlada para pequenos grupos, em geral de pesquisa—, trilhas na mata e apoio para recuperação da agricultura familiar na área degradada, algo que eles já fizeram em outros tempos, quando tiveram sua cota de invasão de garimpeiros.

O líder yanomami José Mário, da Ayrca (Associação Yanomami do rio Caiaburis e Afluentes) - Arquivo pessoal

"Estamos muito chocados com o que acontece com os parentes de Roraima", conta José Mário Pereira Gois, 51, presidente da Ayrca (Associação Yanomami do rio Cauaburis e Afluentes), que falou à Folha por WhatsApp. "Nós não podemos abrir espaço aos invasores, porque quando invasores chegam acabam com floresta, água, caça e peixes, e deixam doenças para a população, como ficou claro com nossos irmãos", acrescenta.

Indignado pela falta de atenção e o descalabro que o governo federal deu nos últimos anos aos povos originários, José Mário —que nasceu numa aldeia mas teve oportunidade de estudar e levou a escola de volta para seu povo— conta que é até difícil pensar em dar conselhos aos irmãos de Roraima pelo estado precário em que se encontram. Mas cita o exemplo do bom resultado obtido em sua região com a implantação do projeto Yaripo (montanha de vento, nome original do pico da Neblina), que arrecadou, no ano passado, R$ 211 mil provenientes com apenas as cinco primeiras expedições que seguiram para a montanha, um dos maiores desafios do país pela mistura de rios, lama, altitude, frio, calor e mais uma dúzia de perrengues que a imaginação do leitor puder criar.

Reaberto em março de 2022, o projeto que inclui o acesso ao pico da Neblina, ou Yaripo, como o denominam os yanomami, permitiu, segundo José Mário, "gerar trabalho para os jovens, que foi bem recebido pelos anciões". Vale lembrar que o acesso só é permitido a três agências devidamente cadastradas junto à Ayrca e aos órgãos ambientais, e que todo o apoio e os guias que conduzem os visitantes, em jornadas que vão de sete a dez dias dependendo da imprevisível meteorologia da região, são yanomami.

"Ao longo de sete anos, capacitamos nossos jovens para que executassem o projeto e agora queremos levar esse conhecimento a nossos irmãos, que vão ter de trabalhar muito, mas que podem encontrar no ecoturismo uma solução para resolver os problemas depois de atendida a primeira urgência, que não degrade a floresta nem contamine seu solo e sua água", afirma José Mário.

Bivaque montado no meio da mata para pernoite na floresta amazônica
Bivaque montado no meio da mata para abrigar pernoite na floresta amazônica, em trilha orientada por guias de diversas etnias da região - Luiza Pastor

Os acessos ao pico da Neblina ao Caburaí não são os únicos a explorar o ecoturismo na Amazônia brasileira. No estado de Amazonas, onde o turismo está mais consolidado, várias etnias se organizaram para guiar grupos pelas matas, em jornadas de um a poucos dias, que podem incluir noções de sobrevivência, acampamento na mata e reconhecimento de plantas, além de visita a aldeias e projetos sociais ali implantados, alguns com apoio de entidades internacionais. Soluções que podem promover uma ocupação controlada, rentável e, principalmente, sustentável.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.