É Logo Ali

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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor
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Detalhes que ajudam a não entrar em fria estreando em trilhas

O verão convida para pegar a fresca no mato, mas alguns cuidados são essenciais

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Férias de verão são sempre tentadoras para quem espera estrear no mundo das trilhas e montanhas. O calor, cada vez mais abusado, faz com que a sombra de um caminho entre árvores levando até uma cachoeira pareça a própria representação do paraíso na terra. Mas é justamente nesta época que muitos abandonam a atividade, depois de experiências traumáticas que poderiam ser evitadas com algumas poucas dicas que vamos tentar resumir aqui.

Cabeça d'água deixa cinco pessoas mortas no Parque do Paredão, em MG
Cabeça d'água deixa cinco pessoas mortas no Parque do Paredão, em Minas Gerais - Reprodução 1.jan.20

Cuidado com a chuva!

Como todos sabemos e temos contemplado de forma dramática, com o calorão vêm as fortes chuvas e, com elas, riscos extras para todo curso de água em regiões montanhosas. Cada ano temos notícias de turistas apanhados por cabeças d'água, que nada mais são que o excesso de fluxo que despenca do alto de alguma montanha e faz com que o que parecia um laguinho plácido se transforme em uma furiosa força da natureza que leva tudo e todos os que estiverem em seu caminho com força e rapidez difíceis de enfrentar pelos melhores nadadores. Então, não custa ficar de olho e prestar atenção a qualquer aumento da velocidade da água, se ela fica turva (sinal de que vem trazendo terra e detritos de algum lugar mais alto) e observar se há nuvens de chuva nas imediações das montanhas mais próximas, mesmo se onde você está tiver sol. Nesses casos, o melhor a fazer é sair de lá e procurar um lugar alto o mais rapidamente possível. Não se brinca com a natureza, combinados? Ela sempre avisa.

Ao contrário do que ocorre nas cidades, onde para-raios são frequentes, na natureza eles exigem cuidados especiais - Grupo de Eletricidade Atmosférica

Raios que não nos partam!

E já que estamos no quesito chuva, não custa lembrar do antigo mas valioso conselho de não se abrigar debaixo de árvores quando o mundo ameaça despencar sobre nossas cabeças. Árvores são péssimas opções de refúgio contra tempestades, atraindo descargas que podem matar tudo ao seu redor. Em caso de tempestade à vista, o melhor é procurar alguma construção de alvenaria ou abrigo para se proteger e não virar estatística. Afinal, só entre os anos de 2013 e 2022, ao menos 835 pessoas morreram atingidas por raios só no Brasil. Mas o que fazer se não houver nada disso por perto? Se estiver numa floresta, procure um conjunto de árvores de altura regular (as mais altas são atingidas primeiro), na zona mais baixa que achar, e bem longe de qualquer curso de água. Se for apanhado em campo aberto, fuja de árvores isoladas de qualquer tamanho. Uma alternativa para minimizar o risco nesse caso extremo, que as equipes de defesa civil costumam aconselhar, é se acocorar sem tocar com as mãos no chão, fazendo do corpo uma espécie de bola com pés —claro, calçados.

E por falar em calçados...

Embora seja grande a tentação de liberar os pés em confortáveis papetes ou chinelos, eles não são adequados para trilhas e caminhadas pela mata. Pés expostos costumam ser vítimas preferenciais de cascalhos e pedras dos mais diversos tamanhos, resultando em bolhas e ferimentos que estragam qualquer passeio. Tênis ou botas são as melhores opções, sempre, sendo que para caminhantes desastrados como esta que vos fala uma bota com cano médio que proteja o tornozelo de torções é a melhor e mais segura pedida. Mesmo que os dedinhos protestem, eles que esperem para respirar só ao final de cada jornada, em segurança.

Papetes, tênis ou botas, os calçados para caminhada devem ser apropriados para cada tipo de percurso - Luiza Pastor/Arquivo pessoal

Se o percurso incluir muitos trechos de lama ou riachos, não custa considerar a hipótese de adotar um par de meias à prova d'água. Elas não são baratas, mas valem cada tostão depois que seu pé afundar em algum lamaçal e o calçado à prova d'água ficar encharcado por dentro (eles só protegem da água exterior, como poças e córregos, mas quando molham por dentro levam uma eternidade para secar). A vantagem dessas meias é justamente evitar que os pés fiquem molhados muito tempo, amolecendo a pele e favorecendo o aparecimento de bolhas e cortes. De quebra, as meias podem ajudar a cruzar cursos d'água com pedras cheias de limo, às quais praticamente nenhum calçado adere o bastante para evitar tombos. Essa dica me foi dada por um guia amazônico e, por mais esquisito que parecesse, funcionou direitinho.

Sua pele também merece carinho

Se uma blusa de manga comprida pode parecer torturante nestes tempos de canícula, pense no que pode representar esbarrar em alguma árvore ou arbusto com espinhos ou mesmo com algum tipo de urtiga, comum nas matas das regiões Sul e Sudeste do país. Isso sem falar em formigas, borrachudos e outros seres desagradáveis que adoram se refestelar no sangue dos incautos. Claro que repelentes sempre são importantes, mas sempre tem aquela hora em que o produto já venceu e... tá, o resto vocês já sabem.

Taturanas podem provocar queimaduras se não percebidas na mata - Joel Silva - 6.nov.11/Folhapress

Além de proteger a pele de esbarrões indesejados com os seres da mata, as blusas de manga longa ideais devem ter proteção contra os raios ultravioleta, evitando queimaduras, principalmente em áreas de montanha, pois quanto maior a altitude, mais intensa é a ação desses raios. Há várias marcas e modelos disponíveis nas lojas especializadas em materiais esportivos, muitas inclusive com tratamento repelente, anti-odor e antibacteriano. É um investimento que vale a pena.

E ainda no quesito proteção, não custa repetir aqui o que já comentamos várias vezes no blog: deixe as calças jeans em casa. Molhadas, ficam pesadas e provavelmente só vão secar quando você tiver voltado para casa. Opte sempre por calças de trilha, que em geral são feitas de tecidos rip stop (ou seja, que não abrem rasgos depois do primeiro furinho naquele tombo besta na pirambeira), leves e sintéticos, de secagem rápida e também disponíveis com proteção contra raios UV e outros tratamentos como as blusas aí de cima. Tem quem goste daquelas que têm um zíper que as transforma em bermudas —eu, particularmente, pelos mesmos motivos que me fazem defender as blusas de manga longa, evito expor mais pele que o necessário aos imprevistos de cada jornada.

Gostou das dicas? Compartilhe e faça de sua estreia na trilha a primeira de uma série que sempre terá seus perrengues, mas não por falta de prevenção. Bom caminho!

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