Ao final de cada programa "Roda Viva", da TV Cultura, o generoso Paulo Caruso brindava os entrevistados e entrevistadores com uma caricatura. Eram traços que ele rabiscava em minutos e que guardaríamos para sempre.
Trabalhei com Paulo Caruso nos anos 1970. Certa vez, ao reencontrar o cartunista no aeroporto de Congonhas, hesitei em cumprimentá-lo: não sabia se aquele era o Paulo ou o irmão gêmeo, Chico, também cartunista e músico que conhecera antes dele.
O desenho que ilustra este post é de julho de 1990. Foi com esse retrato que descobri a falta de cabelo na parte anterior da cabeça... Ele guardou a arte para mim, fui buscar em sua casa, quando ouvi pela primeira vez o talentoso pianista.
Fiquei com inveja do som que ele tirava do instrumento, dos acordes que criava. Tínhamos repertórios e preferências semelhantes.
Anos depois, Paulo Caruso convidou-me para participar do programa "Talentos em dose dupla", que ele organizara no Teatro Sesc Anchieta. Eram shows que mostravam "a outra faceta de conhecidos profissionais da mídia brasileira" (segundo prometia o folheto oficial).
Ele abriu a programação, ao piano, com Adriano Brusco (bateria), Voluzi Vidal (vocal) e Fernando Barros (contrabaixo).
Na minha noite, toquei piano com os excelentes músicos Pedro Macedo (baixo) e Giba Alves (bateria). Tive direito a receber convidados no camarim, com frutas e bebidinhas, experiência inesquecível.
Arrependo-me de não ter aceitado todos os convites de Paulo Caruso para dar uma canja nos locais em que ele tocava na noite paulistana.
Neste sábado, perdemos o maestro da "Muda Brasil Tancredo Jazz Band", uma grande figura humana, um artista, ele sim, com várias facetas.
O humor refinado de Chico e Paulo Caruso, no desenho e nas sátiras políticas, nos ajudou a ultrapassar o longo período de trevas.
Em todos os sentidos, eles foram os verdadeiros talentos em dose dupla.
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