Guia Negro

Afroturismo, cultura negra e movimentos

Guia Negro - Guilherme Soares Dias
Guilherme Soares Dias

Brasileiro deve se tornar primeiro negro a viajar todos os países

Robson de Jesus começou a rodar o globo em março de 2022 e deve concluir a viagem até junho de 2024

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Guilherme Soares Dias
São Paulo

O empreendedor digital Robson Jesus, 34 anos, já visitou 126 dos 196 países do mundo e deve terminar a empreitada de conhecer todos eles até junho de 2024. "Era uma questão de ter representatividade. Quando tive a ideia de viajar o mundo, fui olhar quem fez isso e das 150 pessoas, não tinham homens negros. Isso me motivou", afirma.

Em 2019, a norte-americana com ascendência em Uganda Jessica Nabongo tornou-se a primeira mulher negra a realizar o feito. Nascido em Osasco (SP), Robson começou a rodar o globo em 20 de março de 2022 e pretende visitar os 193 países reconhecidos pelas Organizações das Nações Unidas (ONU), além de Taiwan, Palestina e Vaticano. Entre os homens negros, somente um jamaicano teria feito o roteiro completo, mas sem o reconhecimento formal do Guiness Book.

O primeiro país visitado foi a Tailândia e último será o Brasil. A viagem toda deve custar cerca de R$ 500 mil. O empreendedor diz que não tem patrocínios e que até o momento fez apenas parcerias pontuais para ajudar nos deslocamentos.

O que custeia a viagem é o seu trabalho de publicidade, palestra, mentoria e consultoria. "Tenho fontes de renda na internet. Tem dias que gasto mais do que entra e conto com a ajuda dos seguidores para continuar viajando", diz ele, que mantem a página O Nego Vai Longe. Até o momento, Robson de Jesus já escreveu três ebooks: Como passar na imigração, Como viajar sozinho e Como emitir vistos.

Quando questionado qual país mais gostou até o momento, o empreendedor digital elege um de cada continente. "Na Ásia é a Tailândia, por ser um país barato, com floresta, ilhas paradisíacas e pessoas bonitas e cheias de energia. Na Europa, a Suíça tem cidades lindas, que parecem cenas de filmes. Na África, sou apaixonado na Tanzânia, mais especificamente por Zanzibar e na América, gosto muito da cultura e tenho muitos amigos nos Estados Unidos", afirma.

Falar inglês é considerado por ele importante para uma viagem como essa. Quando saiu do Brasil, Robson conhecia nove países do mundo e tinha nível básico de conversação e hoje já está no nível avançado. "Isso significa que não é uma restrição, você vai aprendendo", ressalta. Ele acredita que a educação é, justamente, o diferencial que fez um "cara favelado fazer uma viagem como essa".

O futuro título de primeiro homem negro a dar volta ao mundo, não garante grana do livro de recordes, mas dá autoridade para ele continuar dando palestras e cursos e escrevendo livro, que são os objetivos pós viagem.

Até lá, Robson precisa mandar alguns comprovantes para o Guiness como passagem de entrada, passagem de saída, envio da localização no GPS, foto em frente a órgão formal do país e mais o atestado de duas testemunhas de que estiveram com ele naquela localidade. "É bem burocrático, mas é a forma de garantir o título. Posso ficar no máximo 14 dias em cada lugar", detalha.

No período de um ano em meio em que está na estrada, não teve nenhuma doença, com exceção de um estado febril que sentiu por um dia. Para continuar saudável, cuida da alimentação e toma bastante água.

No kit sobrevivência, leva uma pastilha que purifica a água, além de fazer acompanhamento com medicina do viajante, um serviço público que dá suporte médico para pessoas que viajam para fora do país e que em São Paulo é oferecido pelo Hospital Emílio Ribas.

A mala ainda conta com dois power bank, celular reserva, lanterna, dois cartões de crédito (em que cola fita escondendo o código de segurança e faz bloqueio para compras online). Há ainda remédio para dor de barriga, dor de cabeça e protetor solar

Hoje a mala de Robson está com 25kg em uma mochila de 40 litros, que consegue levar como bagagem de mão. "Vou trocando de roupas ao longo do caminho", conta, lembrando que se desfaz de peças ao adquirir novas.

A partir de dezembro pretende trocar o mochilão por uma mala de rodinha. Quem ajuda cuidando da parte burocrática da viagem é o melhor amigo, Ricardo, além do suporte emocional do irmão mais novo, Renan, com quem fala todos os dias.

Entre as situações de racismo que passou destaca duas mais delicadas. Uma na Etiópia em que foi a um restaurante de turistas – todos brancos – e não era atendido pelos garçons. A outra foi na Grécia, onde o garçom ao ser questionado porque não serviu as entradas, respondeu que pessoas como ele não comiam pão e, sim, banana.

Para além do preconceito racial, Robson conta que ser um viajante negro traz conexões com outras pessoas parecidas com ele. Em países como Somália, Etiópia e Burundi foi convidado para comer na casa de pessoas locais. "Desse tempo na estrada, me deram casa, comida e acolhimento. A cada 10 pessoas que cruzam o meu caminho, 9 estão querendo ajudar", afirma.

Homem vestido de branco estende a mão para outro homem com turbante
Robson Jesus no Afeganistão durante viagem de volta ao mundo - Acervo pessoal

Rodar o mundo também inclui passar por países que estão em guerra ou conflitos armados como Rússia, Ucrânia, Sudão do Sul, Somália, Líbia, Niger e Burkina Fasso. "Sempre peço a Deus para poder entrar e poder sair. Fiquei duas noites sem dormir na Ucrânia com medo de bomba", relata.

Quando completar a sua missão, o empreendedor digital diz que espera ser conhecido como um "camaleão, um cara que se adapta a vários cenários e situações. Uma pessoa inspiradora, batalhadora e que corre atrás dos seus objetivos". Uma certeza a gente tem: o nego vai longe e está abrindo caminhos para muitos outros irem também.

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