Mensageiro Sideral

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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Futuro da humanidade pode explicar silêncio na busca por ETs

Tendência a reduzir nossas emissões de rádio talvez explique fracasso da pesquisa Seti

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Para quem se liga nessas coisas, o silêncio mais ensurdecedor é o que vem lá de fora, das profundezas do espaço. Desde 1959, a humanidade se deu conta de que poderia usar radiotelescópios para detectar sinais de outras civilizações alienígenas, pesquisa conhecida como Seti (busca por inteligência extraterrestre, na sigla em inglês), e diversos projetos já foram conduzidos para tentar encontrá-los. Até agora nada.

O que esse silêncio nos diz? O reflexo inicial seria dizer que, a despeito da descoberta recente de que a imensa maioria das estrelas tem planetas e muitos deles se veem em circunstâncias similares à da Terra, onde a vida prosperou com facilidade, não há, ao menos nos nossos arredores galácticos, vida inteligente e tecnológica capaz de emitir transmissões de rádio –estaríamos, se não totalmente, ao menos localmente sós.

Será? Uma reflexão feita pelo astrofísico Chris Lintott, da Universidade de Oxford, como parte de uma palestra sobre tecnoassinaturas (sinais da presença de tecnologia) em Londres, nos faz questionar essa conclusão. "A humanidade poderia se tornar silenciosa em rádio em cerca de 50 anos –e isso provavelmente será verdade para civilizações em outros planetas", diz.

Antenas construídas do Allen Telescope Array, rede de radiotelescópios destinada à pesquisa Seti, em Hat Creek, Califórnia.
Antenas construídas do Allen Telescope Array, rede de radiotelescópios destinada à pesquisa Seti, em Hat Creek, Califórnia. - The Allen Telescope Array

Pense comigo: depois de cerca de 4 bilhões de anos de evolução, uma espécie do nosso planeta desenvolveu a tecnologia para comunicação interestelar. Nossas primeiras transmissões de rádio remontam ao fim do século 19, e desde então elas têm "vazado" para o espaço, viajando à velocidade da luz. Isso quer dizer que, num raio de cerca de 130 anos-luz daqui, qualquer civilização com radiotelescópios suficientemente sensíveis poderia captar nossos sinais.

Essa bolha continua se expandindo, e ganhou mais intensidade durante a década de 1960, quando passamos a usar satélites nas telecomunicações, o que nos obrigou a direcionar sinais especificamente para o espaço. Ainda assim, não seriam fáceis de detectar a 60 anos-luz daqui, mesmo com nossos maiores radiotelescópios. Agora, ponderemos a reflexão de Lintott: e, se, com a cada vez maior adoção de tecnologias alternativas de transmissão de sinais, como os cabos de fibra óptica, a humanidade começar a se tornar mais e mais discreta em suas emissões de rádio? Mais difícil seria para alguém detectar nossa presença por aqui.

Em suma, talvez exista apenas uma curta janela em que uma civilização é detectável por rádio, algo como uns 200 anos. É verdade que, mesmo que nos tornemos silenciosos, nossos sinais antigos continuarão vagando pelo espaço, expandindo sua bolha de alcance, que se converteria em um anel em expansão. Mas as transmissões vão perdendo força: quanto mais longe daqui, mais difícil detectá-los –talvez ETs precisassem de um radiotelescópio do tamanho de um planeta para captá-los.

Nesse contexto, o silêncio que vem do espaço deixa de ser um sinal de solidão para ser uma esperada consequência da evolução de civilizações tecnológicas –elas não ficariam por longos períodos "acesas" em rádio. Isso torna o desafio de encontrá-las bem maior, virtualmente impossível –e nos lembra que ainda sabemos muito pouco para descartar qualquer possibilidade. Talvez estejamos cercados de vizinhos, todos já silenciosos em rádio. Ou podemos mesmo estar sós.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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