A Opesp, Orquestra Parassinfônica de São Paulo, se prepara para sua estreia na Sala São Paulo, no dia
3 de dezembro. Na data, é comemorado o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
Fazem parte do grupo 32 músicos, pouco menos da metade formada por pessoas com deficiência.
Eles foram selecionados a partir de um edital. A seguir, passaram por aulas para aperfeiçoamento. Desde outubro participam de ensaios para a estreia, que terá regência do maestro Roberto Tibiriçá.
A Opesp foi idealizada pelo produtor cultural Igor Cayres. Ele conta ter entre suas inspirações para o projeto músicos com os quais esteve próximo em razão de seu trabalho.
Entre eles estão o pianista e maestro João Carlos Martins, que há anos convive com limitações nos movimentos das mãos que o levaram a passar por dezenas de cirurgias.
Cayres Também cita grupos aos quais esteve próximo durante sua carreira, incluindo um grupo de percussionistas africanos com deficiência em decorrência da poliomelite e um coral de mulheres cegas.
Segundo o produtor, a deficiência desses músicos tornava sua arte ainda maior, em vez de impor limitações a ela.
Além disso, ele destaca o aprendizado que teve com sua mãe, Bete Cayres, morta em 2019, que passou a lidar com limitações físicas no final da vida.
Ele afirma querer colocar os músicos com deficiência em local de destaque e abrir oportunidades. Diz que essas pessoas tendem a receber menos estímulos para seguir a carreira musical e, por isso, falta diversidade nas orquestras em relação a artistas que fazem parte desse grupo.
Segundo ele, a música, por seu grande alcance, pode mostrar a pessoas de outras áreas o potencial de novos projetos protagonizados por pessoas com deficiência.
Uma das participantes da Opesp é Miriã Vitória dos Santos, que iniciou sua relação com a música aos 6 anos, aprendendo piano e violino.
Aos 19 anos, ela passou a se dedicar ao violoncelo, instrumento que irá tocar na orquestra. A mudança aconteceu ao se constatar que a postura ao instrumento instrumento era mais adequada para ela, que teve uma paralisia cerebral diagnosticada aos 2 anos.
Até chegar a Opesp, Vitória estudava seu instrumento no projeto social Locomotiva.
Ela afirma que o avanço de pessoas com deficiência na música ajudará no desenvolvimento de futuros talentos. "Quando eu comecei, não conhecia ninguém em quem eu poderia me inspirar. Isso o que estamos fazendo agora garante representatividade."
Para Vitória, a participação na Opesp é um passo importante em direção a sua profissionalização. "Quero entrar em uma faculdade de música quando minha técnica estiver mais lapidada."
O objetivo é que o conjunto siga realizando apresentações em 2023. Também há a expectativa de abertura de novos editais para que mais músicos com deficiência se juntem ao projeto, ampliando a participação de pessoas desse na orquestra.
Segundo Cayres, músicos com deficiência visual participaram da seleção, mas não foram selecionados.
Para quem tem deficiência visual, a participação em uma orquestra tem um desafio a mais, pois a leitura de partituras em braille exige que o instrumentista memorize longas passagens instrumentais para participar do conjunto.
Mas não é impossível. Como já apareceu por aqui, desde 1988 mulheres cegas egípcias vêm se apresentando em palcos internacionais com a Egyptian Blind Girls Chamber Orchestra Al Nour Wal Amal (Orquestra de Câmara Egípcia Luz e Esperança de meninas cegas).
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.