"Taison ou Messi: o futuro dirá quem foi melhor".
A coluna do jornalista gaúcho Wianey Carlet na então Zero Hora, em 2009, tornou-se um clássico nas redes sociais.
Previsões são muito difíceis de serem feitas. É por esse motivo que a internet se torna insuportável em qualquer grande evento atualmente.
Previsões de todos os tipos pipocam a qualquer abertura de celular, vinda de especialistas ou não no tema em questão.
Análises bem construídas de quem entende do assunto, por mais diversa que seja a conclusão, até são bem-vindas, com parcimônia, para ajudar na construção do conhecimento e ter um indicativo do que pode ou não acontecer.
Na maioria das vezes, é impossível saber o rumo que as coisas irão tomar.
É por isso que evitarei fazer uma mísera previsão sobre a compra do Twitter por Elon Musk. O objetivo deste texto é tentar delimitar melhor o ponto atual da rede social.
O Twitter, criado em 2006, foi inovador em vários aspectos. O uso de hashtags para agregar tópicos em comuns é um deles.
O fácil compartilhamento de conteúdo através de um só botão mudou a forma em que mensagens são distribuídas.
De início chamado de microblog e com postagens pessoais, tornou-se uma rede para estar bem informado sobre tudo.
A Primavera Árabe em 2010 alçou o Twitter ao panteão das big techs. Uma série de revoluções no continente africano que derrubaram ditadores na Tunísia e no Egito tiveram impulso pela facilidade de disseminação dos tuítes.
Parecia que o Twitter seria dominante, mas o Facebook abocanhou na mesma época o espaço de rei das redes sociais, chegando à marca impressionante de 2,6 bilhões de usuários ativos.
Outras redes vieram e viraram a the next big thing, principalmente Instagram e TikTok, ambas com mais de um bilhão de usuários ativos. O Twitter, ao trancos e barrancos, mantém seus 200 milhões.
O Twitter, se nunca entrou nesse nível série A de usuários, manteve-se na primeira divisão de influência.
Políticos, empresas e artistas costumam usar o Twitter para fazer anúncios importantes.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump, por mais paradoxal que seja, foi importante para o Twitter. Era afinal a pessoa mais influente do mundo usando a rede social como diário oficial. Outros líderes o imitaram, como seu títere brasileiro Jair Bolsonaro.
O ano de 2016 marca a era em que o mundo acordou para a desinformação nas redes sociais, com o brexit e as eleições americanas --em 2018 se descobriria o escândalo de Cambridge Analytica.
A desinformação não nasceu nas redes sociais. Nem mesmo com a internet.
Para não ir tão longe, no livro "O Curioso Caso de Benjamin Button", publicado em 1922, F. Scott Fitzgerald descreve uma cena em que o bebê-velho é inundado de comentários maldosos e teorias da conspiração que deixariam corados tios e tias do WhatsApp moderno. Era ficção, mas os séculos anteriores estão cheio de exemplos semelhantes, como as pessoas queimadas na Idade Média.
É inegável, porém, que as plataformas se tornaram terreno fértil para a proliferação de fake news, manipulação, ódio e ataques pessoais. E demoraram a agir.
Com boa vontade, podemos dizer que a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, por uma multidão insuflada por Trump, marca a ruptura da leniência das plataformas com a desinformação.
Precisou a democracia americana estar a um passo do desmoronamento para o status quo mudar.
O Twitter sempre foi um para-raio nesse assunto por ser a rede em que a informação circula mais rápido.
Em certos momentos, parecia que era o único culpado pela desinformação na internet.
O uso de bots e contas automatizadas não ajuda a melhorar a imagem.
Ao mesmo tempo, tomou a dianteira no efeito dominó que virou o banimento de Trump das redes sociais.
De certa forma, aumenta-se a influência que o Twitter possui. Pesquisa recente do BTG Pactual mostrou que apenas 13% dos entrevistados usam o Twitter para consumo de notícias sobre as eleições brasileiras, índice muito menor que do Youtube, Facebook e WhatsApp, e atrás até do TikTok, com 14%.
Esse é o Twitter hoje. Faça um teste no metrô. Ande do início ao fim do vagão do vagão olhando para celulares. WhatsApp, Instagram, YouTube e Spotify serão presenças mais garantidas do que o Twitter.
Vale lembrar que o Twitter registrou seu primeiro lucro apenas em 2018, quando já tinha 12 anos. Lucro e crescimento de usuários são duas dificuldades crônicas da empresa.
Isso está longe de significar que a rede não importa. Ela é um fórum vivo que antecipa assuntos e o torna a ágora moderna, onde um anônimo pode se infiltrar no meio da conversa entre dois bilionários e um lugar em que a elite intelectual discute os rumos da humanidade.
O que Elon Musk, que se torna um barão das redes ao lado de Mark Zuckerberg e Yiming Zhang (do TikTok), fizer daqui para frente vai determinar a direção que as redes podem seguir e a forma como a liberdade de expressão e a desinformação circulam.
Tornar os códigos do algoritmo open source, como propõe Musk, pode não resolver o mistério de como funcionam imediatamente, mas será de grande valia para pesquisas acadêmicas e análises independentes.
Um eventual declínio do Twitter vai abrir ainda mais espaço para a invasão chinesa capitaneada pelo TikTok e acompanhada por apps como Kwai, hoje muito mais inovadoras que o Vale do Silício.
Uma nova rede que capte o zeitgeist dos anos 2020 pode dar novo impulso e quem sabe torná-la um lugar mais habitável.
É impossível prever com o que sabemos hoje.
O futuro dirá essa história.
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