Maternar

No blog, as mães Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti abordam as descobertas do início da maternidade

Maternar - Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Havolene Valinhos e Tatiana Cavalcanti
Descrição de chapéu Folha Mulher maternidade

"Olho meu filho e penso na aflição dos pais de bebês que não voltaram para casa", diz doadora de leite

No Brasil, a cada ano, 330 mil bebês nascem prematuros ou têm baixo peso e precisam da doação de leite materno para sobreviver

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Todos os anos cerca de 330 mil bebês nascidos no Brasil são prematuros ou têm baixo peso e precisam da doação de leite materno para sobreviver. O número representa 11% do total de crianças nascidas no país, uma média de 3 milhões por ano.

A pediatra e neonatologista da equipe Parto com Amor, Tatiana Cicerelli, lembra que a situação delicada dos filhos prematuros no hospital interfere na produção de leite de muitas mães na UTI.

"Às vezes, um simples telefonema pode elevar o estresse dessa mulher, que já está fragilizada, e fazer com que sua produção de leite caia a zero. Fora os fatores externos, a rotina na UTI é muito pesada e também podem afetar as mães de prematuros. Muitas iniciam o puerpério com sensação de grande incompletude, de um buraco vazio", diz.

Vanessa está em pé segurando seu bebê, Rafael, de cinco meses, virado para frente. Ela é branca, tem cabelos castanhos, lisos e compridos. Veste jaqueta azul sobre blusa azul clara. Rafael é branco, tem cabelo liso penteado de lado. Está sorrindo e veste moletom cinza.
Vanessa e o filho Rafael, de quatro meses; ela faz doações todas as semanas - Arquivo Pessoal

Esse sentimento, segundo Cicerelli, é ainda maior quando elas se veem incapazes de amamentar. "A mãe de um prematuro na UTI precisa ser abraçada, ouvida e acolhida. Uma das formas de abraçar essa mulher é doando leite para seu bebê.

"Naqueles frascos de leite não vão só alimento, vão emoções, alegrias e apoio. Doar também é uma forma de ser rede de apoio", observa a pediatra.

Mãe de Rafael, de quatro meses, a coordenadora de marketing Vanessa Copped, 39, decidiu doar leite porque sempre teve muita produção. "Sempre vazou e era de partir o coração ver tanto leite indo embora enquanto outros bebês precisam", conta.

Pesquisou e passou a doar semanalmente há dois meses para o Hospital da Mulher, em Santo André, no ABC Paulista. Ela considera o processo de doação tranquilo. "A parte mais 'chatinha' é que há todo um cuidado com a bomba, precisa lavar com bucha exclusiva para ela, esterilizar a cada uso e deixar secar naturalmente, mas penso na aflição desses pais que ainda não voltaram para casa com os filhos e me coloco no lugar quando olho para o meu pequeno, em casa", relata.

"Durante a ordenha, eu faço uma oração e mando energias positivas para os que receberão o leite", conta.

Mãe de Conan, 5, e Diana, 2, a relações públicas Lívia Tamashiro, doou após o nascimento dos dois filhos. Por causa da pandemia, precisou se mudar com a família para Sorocaba, no interior de São Paulo e lá, o exame de sangue, que é obrigatório para quem doa, foi feito em sua residência. "É um diferencial importante. Fico imaginando que o trabalho de se deslocar até o banco já seja um impeditivo para muitas mulheres", diz.

"Só parei de doar porque não atingia mais a quantidade necessária para completar o frasco no prazo", lembra.

Kelly Coca, coordenadora do Centro Ana Abrão (instituição de assistência, ensino e pesquisa em aleitamento materno e banco de leite humano) explica que o Banco de Leite Humano da UNIFESP aceita doações de leite humano com volumes superiores a 200 ml semanais e a doadora não pode fazer uso de medicamentos que interfiram no aleitamento materno.

IMPORTÂNCIA DA DOAÇÃO

"Os cuidados nos primeiros mil dias de vida da criança são primordiais para a prevenção de doenças e o aleitamento materno é parte fundamental nesse processo", afirma Heloisa Oliveira, diretora-presidente do Instituto Opy.

"A doação faz com que bebês internados com baixo peso e que não podem ser amamentados pelas próprias mães tenham a oportunidade de receber os benefícios do alimento, com maiores chances de desenvolvimento pleno", completa.

Kelly Coca destaca que o bebê que recebe leite doado pode se recuperar mais rápido, além de ficar protegido de infecções, diarreias e alergias. Ela lembra que mulheres que possuem baixa produção de leite, podem buscar auxílio do serviço especializado do Banco de Leite Humano (BLH) mais próximo de sua residência.

Lívia Tamashiro utilizou esse serviço após o nascimento do primeiro filho. Recebeu acompanhamento duante as mamadas, pesagem do bebê e conversas com nutricionistas.

Para doar, o leite materno deve ser armazenado em frascos de vidro e tampa de plástico higienizados com água e sabão e depois fervidos por 15 minutos. A mama precisa ser higienizada com água e as mãos lavadas com água e sabão e a doadora deve utilizar touca e máscara sobre o nariz e a boca para evitar que cabelo ou gotículas de saliva caiam no leite doado. Em geral, os bancos fornecem todos esses itens para as doadoras.

Dia 19 de maio é o dia de Conscientização da doação de leite materno. Esse ano, o slogan da campanha é: "Um pequeno gesto pode alimentar um grande sonho: Doe leite materno!

De acordo com o Ministério da Saúde, a cada ano, 150 mil litros de leite materno humano são coletados, processados e distribuídos aos recém-nascidos de baixo peso internados em unidades neonatais de todo o país.

Um litro de leite materno doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. Dependendo do peso do bebê, 1 ml já é suficiente para nutri-lo quando for alimentado.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.