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Salvador Nogueira

Webb já sombreia recordes e indica rico passado do Universo bebê

Uma das galáxias observadas pelo satélite pode ser mais distante já vista

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Nem bem começou a trabalhar, e o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla inglesa) já pode ter enxergado a galáxia mais distante conhecida. Catalogada como GLASS-z13, ela representa o estado do cosmos uns 300 milhões de anos após o Big Bang.

O resultado ainda é preliminar –em mais de um sentido. Para começar, o estudo, encabeçado por Rohan Naidu, do Centro para Astrofísica Harvard & Smithsonian (EUA), foi submetido à revista Astrophysical Journal Letters, mas ainda aguarda revisão e aceitação. Além disso, ele parte de observações do pacote inicial do Webb, em que incertezas sobre a precisão ainda podem ser significativas. Mas os pesquisadores se certificaram de que tal dúvida não deve pairar acima de uma variação de 10%, o que já coloca o achado em posição muito relevante. Até porque, além da galáxia potencialmente recordista, eles encontraram mais uma, quase tão distante (e velha) quanto.

Para estimar quão fundo estão vendo, os astrônomos analisam o "desvio para o vermelho" da luz, representado pela letra z. Ele indica o quanto o comprimento da onda luminosa foi "esticado" ao longo de sua viagem através de espaço que está, ele mesmo, em expansão. Quanto mais a luz viaja, mais se estica. A mais distante galáxia confirmada vista pelo Hubble (GN-z11) tem z 11 e representa uma época cerca de 400 milhões de anos após o Big Bang. A GLASS-z11, uma das novas descobertas, potencialmente empata com ela. E a GLASS-z13, como o nome sugere, parece ter z 13, mergulhando mais 100 milhões de anos no passado.

Imagem do Telescópio Espacial James Webb registra, como um ponto vermelho, a galáxia GLASS-z13, que remonta a 300 milhões de anos após o Big Bang
Imagem do Telescópio Espacial James Webb registra galáxia GLASS-z13, que remonta a 300 milhões de anos após o Big Bang - Universidade de Copenhague/France Presse

Com isso, meio que também empata com uma candidata a galáxia mais distante já vista, a HD1, descoberta apresentada em abril último. Mas mais importante que potenciais recordes é o significado dos novos achados –eles vão revelando que o Universo evoluiu mais depressa do que se supunha.

Os modelos mais aceitos sugerem que galáxias como essas, antigas, grandes e brilhantes o suficiente para serem vistas (os autores estimam que a GLASS-z13 já se mostra com massa de 1 bilhão de sóis), deveriam ser mais raras. Quando a GN-z11 foi descoberta, em 2015, podia ter sido um golpe de sorte. Depois veio a HD1, com confirmação incerta. E agora foi só o Webb olhar mais fundo pela primeira vez com seu olhar infravermelho que já achou outras duas potenciais representantes dessa época. Segundo Naidu e seus colegas, era esperado que fosse preciso olhar para uma área do céu dez vezes maior para encontrar essa frequência de achados.

Isso implica que, provavelmente, galáxias relativamente parrudas já eram figurinhas fáceis 300 milhões de anos após o início do Universo –algo inesperado, que por sua vez indica que o Webb, olhando ainda mais fundo, deve bater tranquilamente os recordes atuais. "Se essas candidatas forem confirmadas, está claro que o JWST será muito bem-sucedido em empurrar a fronteira cósmica o caminho todo até a beira do Big Bang", escrevem os pesquisadores.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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