Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Dupla sugere que ETs não vêm à Terra por falta de interesse

De acordo com astrônomos, prioridade seria colonizar estrelas menores que o Sol

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há décadas a humanidade duela com um paradoxo: se vida extraterrestre inteligente é comum no Universo, como ainda não nos deparamos com ela? Uma dupla de cientistas agora apresenta um argumento interessante: nosso Sol e sistema planetário simplesmente não seriam do interesse de alienígenas.

A formulação original do paradoxo deriva do grande físico ítalo-americano Enrico Fermi. Em 1950, ao conversar com colegas, ele, do nada, disparou: "Onde está todo mundo?" Era uma referência a conversa anterior que o grupo havia tido sobre vida fora da Terra, e o raciocínio era afiado. Fermi fez uma conta de quanto tempo uma civilização inteligente com capacidade de voo interestelar levaria para colonizar a galáxia inteira, ocupando todos os sistemas planetários. E descobriu que era um tempo irrisório, se comparado à idade do Universo, 13,8 bilhões de anos.

Assim, se nos últimos bilhões de anos surgiu lá fora alguma civilização expansionista, ela já teria colonizado todos os sistemas –inclusive o nosso. E, no entanto, onde está todo mundo? Eis o paradoxo de Fermi.

Concepção artística do sistema Trappist-1, com planetas rochosos em torno de uma estrela anã vermelha; para astrônomos, pode ser um bom lugar para colonização por uma civilização interestelar
Concepção artística do sistema Trappist-1, com planetas rochosos em torno de uma estrela anã vermelha; para astrônomos, pode ser um bom lugar para colonização por uma civilização interestelar - ESO/Reuters

Jacob Haqq-Misra, do Blue Marble Institute of Science, e Thomas J. Fauchez, da American University, ambos nos EUA, sugerem, em artigo aceito para publicação no Astronomical Journal, que talvez não os tenhamos encontrado porque civilizações preferem se expandir para sistemas em torno de estrelas menores que o Sol, anãs vermelhas (tipo M) ou laranjas (K) –porque são mais longevas.

O Sistema Solar tem 4,5 bilhões de anos, com vida útil total de uns 10 bilhões. Muito antes disso a Terra será inabitável. Se um dia formos nos instalar em outro sistema, talvez optemos por estrelas que vivem por 100 bilhões ou até mesmo 1 trilhão de anos. Seria o melhor investimento, diante do grande esforço de fazer uma migração interestelar.

A dupla de pesquisadores fez contas de quanto levaria para uma civilização se espalhar por todas as estrelas de tipo M e K na galáxia. Sendo conservadores, estimaram que as migrações seriam promovidas com paciência, esperando estrelas-alvo se aproximarem antes de uma jornada até elas. Nesse esquema, seria possível ocupar todas as estrelas M em 2 bilhões de anos, viajando apenas 0,3 ano-luz em cada migração. Para ocupar junto todas as K no mesmo tempo, seria preciso fazer viagens de 2 anos-luz.

E se a civilização tivesse capacidade mais ampla, digamos, atravessar 50 anos-luz, poderia ocupar todas as estrelas M e K em "meros" 2 milhões de anos.

Talvez o fato de o Sol não ter sido (até onde sabemos) visitado por extraterrestres implique que eles simplesmente consideram astros desse tipo um mau investimento. Mas, claro, essa é apenas uma das respostas possíveis para o paradoxo de Fermi. A mais óbvia é a de que viajantes interestelares não existem. Mas há outras: talvez eles preservem sistemas com vida intocados, como reservas biológicas; talvez evitem interferir com civilizações menos avançadas. Diante do grande silêncio, muitas explicações são possíveis.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.