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Salvador Nogueira

AO VIVO: Lançamento da missão lunar Artemis 1

Teste do foguete SLS e da cápsula Orion é precursor para voo tripulado à Lua

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Nesta quarta-feira (16), a Nasa realiza sua terceira tentativa de lançar a missão Artemis 1, primeiro voo do foguete SLS (Space Launch System) com a cápsula Orion, destinada a levar humanos de volta à Lua. A janela de oportunidade para o lançamento, que neste teste não terá tripulação, se abre às 3h04 (de Brasília) e dura por duas horas. Acompanhe ao vivo com o Mensageiro Sideral, a partir das 2h30, no vídeo abaixo.

A contagem regressiva começou pouco mais de 48 horas antes da decolagem, que deve ocorrer na plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida. Os procedimentos de preparação do veículo transcorreram de forma tranquila até a conclusão do abastecimento do primeiro estágio. Ao final do procedimento, por volta de meia-noite, uma válvula de controle de fluxo de hidrogênio líquido apresentou vazamento.

A direção de voo enviou uma equipe com dois técnicos e um responsável pela segurança até a plataforma para apertar parafusos da válvula. Após o procedimento, o reabastecimento foi retomado com sucesso.

A previsão do tempo dá conta de 90% de chance de boas condições para o início da janela para o voo. Mas, claro, para além da meteorologia, é possível que haja algum problema com os sistemas de lançamento.

A duração total da missão, que envolve levar a cápsula até uma órbita retrógrada distante ao redor da Lua, onde ficará por volta de uma semana, antes de retornar à Terra, depende do dia da partida. Saindo nesta quarta, a previsão é que o retorno aconteça em 11 de dezembro, perfazendo um voo espacial de 26 dias. Menos que os 42 possíveis caso a missão tivesse se desenrolado em agosto, mas ainda assim mais longa que qualquer das missões Apollo, realizadas no século passado.

Caso tudo corra bem, o plano é lançar a Artemis 2, tripulada, em 2023 (o mais provável é que fique para 2024), na primeira viagem de humanos ao redor da Lua desde a Apollo 17, realizada em dezembro de 1972. E a Artemis 3, oficialmente ainda marcada para 2025 (mas quase certamente destinada a atrasar), realizaria o primeiro pouso lunar tripulado do século 21.

Por ora, James Free, administrador associado de desenvolvimento dos sistemas de exploração da Nasa, nem gosta de falar nessas futuras missões, porque tudo depende de um sucesso com a Artemis 1. Embora voe sem tripulação, não será uma missão sem novidades: caso tudo corra bem, veremos o voo mais distante da Terra já realizado por uma cápsula destinada a transportar humanos.

CAMINHO COMPLICADO

Pode-se falar muito sobre o desenvolvimento do programa, menos que foi pouco atribulado. É uma história que se arrasta por idas e vindas desde o acidente com o ônibus espacial Columbia, em 2003, que fez a agência repensar o futuro de suas missões de exploração.

Só o foguete, o SLS, custou US$ 23,8 bilhões (originalmente estimados em US$ 10 bilhões) e deveria ter seu primeiro voo em 2016. Agora a luta é para não deixar que escape para 2023.

A Orion, por sua vez, representa uma parceria importante entre americanos e europeus: o módulo de tripulação foi feito nos EUA, mas o de serviço, que inclui o sistema de propulsão, é fornecido pela empresa europeia Airbus. Seu desenvolvimento custou, desde 2006, US$ 20,4 bilhões. Somando o custo total do SLS, da Orion e dos sistemas de solo, a brincadeira toda custou quase US$ 50 bilhões.

Para complicar tudo, o SLS é uma mistura estranha de novo foguete com tecnologias antigas. Desenhado assim por ordem do Congresso americano, ele incorpora tecnologias originalmente criadas nos anos 1970 para os ônibus espaciais. Os motores do primeiro estágio do foguete, por sinal, são os mesmos. Literalmente. Desatarracharam dos antigos veículos da Nasa e plugaram no foguete novo.

A lógica era preservar empregos oriundos do antigo programa e reduzir custos de desenvolvimento. A primeira parte funcionou, mas a segunda claramente não. E agora a agência tem um sistema de retorno à Lua que talvez seja caro demais para ser sustentável. Estima-se que cada lançamento vá custar US$ 4 bilhões e que a agência seja incapaz de ter uma cadência de voos superior a um a cada dois anos.

A Nasa jura que o custo vai cair e que pode operar com mais eficiência o sistema. Os eventos recentes não parecem corroborar essa ideia.

ENFRENTANDO FURACÕES

O plano original para este ano era lançar a missão Artemis 1 no primeiro trimestre de 2022. Escorregou para o primeiro semestre. E então a primeira tentativa de lançamento só veio a ocorrer em 29 de agosto.

Problemas com um sensor de temperatura de um dos motores do primeiro estágio levaram à interrupção da contagem regressiva, faltando 40 minutos para a decolagem.

Uma nova tentativa foi realizada em 3 de setembro, mas vazamentos excessivos de hidrogênio líquido durante o abastecimento do foguete, acima dos limites tolerados, mais uma vez barraram o avanço da contagem regressiva, três horas antes da abertura da janela de lançamento.

Em vez de recolher o veículo ao prédio de montagem, a Nasa optou por um esforço de efetuar reparos na própria plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. Um exercício de abastecimento do foguete realizado após os reparos foi bem-sucedido. Mas aí o que impediu nova tentativa de voo foi o furacão Ian, que obrigou a agência ao levar o foguete de volta ao prédio de montagem em 26 de setembro.

O procedimento de recolher disparou uma nova série de retomadas de preparação, empurrando um novo esforço de lançamento para meados de novembro. O foguete chegou de volta à plataforma 39B no dia 4, mirando um lançamento na última segunda-feira (14).

E então outro furacão, Nicole, cruzou a Flórida. A agência empurrou a data de lançamento para esta quarta (16), mas não teve tempo de recolher o veículo, que ficou exposto à ventania do furacão. Na madrugada da última quinta (10), ventos de até 160 km/h atingiram o foguete.

Diz a Nasa que tudo se passou dentro dos limites suportados pelo veículo. Há alguma controvérsia sobre isso, levando em conta a altura do foguete (98 m). Fato é que houve alguns danos.

Parte do material de preenchimento entre o sistema de escape de emergência e a cápsula Orion, no topo do foguete, se desprendeu. Mesmo enquanto procedia com a contagem regressiva, a Nasa analisava o risco de que mais desse material se "delaminasse", para usar a expressão deles, e virasse detrito que pudesse atingir o corpo do SLS durante o voo (sim, lembra o caso Columbia, em que espuma do tanque atingiu o bordo da asa do ônibus espacial e condenou a missão na reentrada). No fim, decidiram que os riscos eram pequenos.

Também houve problemas com um dos conectores de telemetria do segundo estágio. A agência seguia tentando restabelecer seu funcionamento, mas destacando que, mesmo que não fosse possível, havia redundância.

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