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Salvador Nogueira

Astrônomos encontram buraco negro mais próximo da Terra

A 1.600 anos-luz, ele foi detectado com dados do satélite europeu Gaia

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Um grupo internacional de astrônomos descobriu o buraco negro mais próximo da Terra – até agora. Ele está a cerca de 1.600 anos-luz daqui e só pôde ser observado porque faz parte de um sistema binário, que conta com uma estrela similar ao Sol. O achado veio graças a dados do satélite europeu Gaia, acompanhados por novas observações feitas com o telescópio Gemini Norte, no Havaí.

Buracos negros não são objetos fáceis de encontrar. Eles se originam do colapso de estrelas de alta massa que, quando esgotam seu combustível, implodem sob seu próprio peso. A massa ultracompacta remanescente é esmagada em uma região comparável ao tamanho de uma cidade (imagine uma estrela inteira concentrada numa esfera com poucos quilômetros de diâmetro). Isso gera um campo gravitacional tão intenso que nem mesmo a luz pode escapar dali. Por isso os buracos negros são escuros – tragam a própria luz.

Não surpreende portanto que sejam tão difíceis de detectar. A coisa só se torna mais fácil quando eles fazem parte de um sistema duplo, em que uma das estrelas já evoluiu para buraco negro, e a outra não. Facilita ainda mais quando o buraco negro está tragando massa da companheira, o que o torna uma fonte de raios X poderosa. Foi assim que os astrônomos encontraram, em 1964, o objeto conhecido como Cygnus X-1, o primeiro sistema a ser associado à presença de um buraco negro. Fica a 7.200 anos-luz daqui.

Concepção artística do buraco negro mais próximo da Terra, que forma par com uma estrela similar ao Sol, a 1.600 anos-luz daqui
Concepção artística do buraco negro mais próximo da Terra, que forma par com uma estrela similar ao Sol, a 1.600 anos-luz daqui - Gemini Observatory

O novo sistema, identificado como Gaia BH1 pela equipe de Kareem El-Badry, do Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian, nos EUA, é bem mais discreto. Ele é composto por um astro escuro (que a essa altura só pode ser um buraco negro) com cerca de 10 massas solares, em torno do qual orbita uma estrela similar ao Sol. A descoberta, reportada no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, partiu de dados do satélite europeu que indicavam irregularidades no movimento da estrela visível. Aprofundando as observações com o Gemini Norte, foi possível caracterizar a natureza binária do astro, as massas dos objetos, bem como a órbita do visível ao redor do invisível.

A 1.600 anos-luz, o sistema está a um terço da distância do antigo recordista de buraco negro mais próximo. Mas imagina-se que existam outros ainda mais perto, que apenas não foram identificados, mas devem aparecer conforme o Gaia libere mais dados. (Isso, claro, sem falar naqueles que, por serem solitários, são ainda mais fugidios, mas devem estar por aí, vagando pela galáxia.)

O aspecto mais surpreendente foi a configuração do sistema. O astro que evoluiu para buraco negro, antes disso, deve ter sido uma estrela supergigante com 20 vezes a massa do Sol. Nessa condição, ele teria simplesmente engolido a estrela de massa solar. O fato de ela ainda estar lá indica que o sistema evoluiu de forma inesperada. Poderia a estrela de tipo Sol ter sido capturada mais tarde? Poderia ter tido sua órbita encurtada? São possibilidades. O mais legal da ciência é que, com cada resposta, vêm novas perguntas.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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