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Salvador Nogueira

Nasa inicia criação de propulsão nuclear para viagens a Marte

Programa em parceria com agência de defesa quer testar motor no espaço em 2027

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O grande foco do programa espacial tripulado americano neste momento é o retorno à Lua. Mas a Nasa já está dando os primeiros passos para viabilizar uma viagem a Marte. Na última terça-feira (24), a agência espacial americana anunciou um acordo para testar no espaço pela primeira vez um motor de propulsão nuclear. O voo pode acontecer a partir de 2027.

O projeto é fruto de uma parceria entre a Nasa e a Darpa, Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa, braço militar de desenvolvimento tecnológico americano. À agência espacial civil caberá desenvolver o motor em si, e o resto da espaçonave está por conta da Darpa.

Propulsão nuclear é tida como uma tecnologia fundamental para viabilizar viagens recorrentes a Marte. A rigor, é possível realizar as missões usando apenas combustão química, tecnologia aplicada em todos os estágios de foguete em operação no mundo hoje. Mas isso implica tempos de viagem mais longos, o que se torna um problema quando estamos falando em manter humanos no espaço profundo, expostos a altas doses de radiação.

Ilustração de estágio superior de foguete com motor nuclear em teste no espaço, com a Terra ao fundo
Concepção artística de motor nuclear do programa Draco em teste na órbita terrestre - Nasa

A trajetória de transferência mais eficiente até o planeta vermelho (ou seja, a que exige menos da propulsão) consome 8 a 10 meses de viagem. Ao chegar lá, uma tripulação teria de esperar 10 a 12 meses em Marte, até que os planetas voltassem a se alinhar para o retorno, que consumiria outros 8 a 10 meses. No fim das contas, seriam quase três anos entre ida e volta. Mesmo descontando a radiação e a microgravidade, não é fácil levar suprimentos a bordo para manter uma tripulação por três anos.

Com propulsão nuclear, essa equação mudaria radicalmente. Como funciona? Em vez de "queimar" o combustível e produzir um jato de exaustão que empurra o foguete à frente, um motor térmico nuclear usa um reator para esquentar o propelente a altíssimas temperaturas e então ejetá-lo, sem qualquer queima. A velocidade possível de ejeção é maior que a da combustão, o que garante maior impulso. Uma ida a Marte poderia ser encurtada para algo como três meses, e haveria mais flexibilidade sobre quanto tempo seria preciso esperar antes de iniciar o retorno.

O programa de cooperação Nasa-Darpa, chamado Draco, num primeiro mira as imediações da Lua. A sigla, em português, significa Foguete de Demonstração para Operações Cislunares Ágeis. A ideia é tornar os EUA aptos a realizarem manobras rápidas em toda a esfera entre a Terra e a Lua –capacidade que vem se tornando estrategicamente importante conforme a região passa a ser objeto de interesse de múltiplos países, notoriamente a China.

A comunidade espacial já ouve falar em propulsão nuclear há muitas décadas. Houve outros programas experimentais no passado, mas o tema sempre foi controverso –afinal, o nível de segurança para lançar um pequeno reator nuclear no topo de um foguete tem de ser o maior possível. Agora, parece que a combinação correta de ousadia, confiabilidade e necessidade converterá em realidade essa tecnologia transformadora. A conferir.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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