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Salvador Nogueira

Foguete sul-coreano abre caminho para 1º voo orbital de Alcântara

Empresa Innospace realiza com sucesso lançamento a partir de centro brasileiro

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Após mais de três meses, e problemas técnicos que impediram um lançamento no fim do ano passado, a empresa sul-coreana Innospace realizou, em parceria com a Força Aérea Brasileira, o primeiro voo de um foguete privado a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. Originalmente agendado para voar em dezembro, ele acabou decolando no domingo passado (19), às 14h52, num marco importante para a exploração comercial da instalação.

O Hanbit-TLV é um veículo de teste suborbital, ou seja, incapaz de colocar alguma carga útil para dar voltas em torno da Terra. Em vez disso, ele apenas sobe ao espaço e cai em seguida _como muitos foguetes de sondagem brasileiros lançados antes de Alcântara.

Com seus 16,3 metros, e um único estágio, ele é movido por propulsão híbrida (parafina e oxigênio líquido), o que é uma novidade para o Brasil. A queima do motor durou 106 segundos, e o voo total, incluindo a queda, durou quatro minutos e meio. A carga útil veio de cá, com o Sisnav, um sistema de navegação inercial desenvolvido pelo IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) para futuros veículos brasileiros. É um equipamento que permite a guiagem do foguete em sua trajetória.

Foguete sul-coreano Hanbit-TLV decola de Alcântara, no Maranhão, em 19 de março de 2023
Foguete sul-coreano Hanbit-TLV decola de Alcântara, no Maranhão, em 19 de março de 2023 - Innospace

A altitude atingida não foi divulgada, segundo a companhia, por imposição da FAB, que opera o CLA, mas a meta declarada antes do voo era de alcançar 80 km. O lançamento em si também não foi transmitido ao vivo por determinação dos militares, justificados por um misto de segurança, paranoia e falta de infraestrutura. Apesar disso, vídeos (lindos, por sinal) foram gravados pela companhia sul-coreana, que assinou no ano passado um acordo com o governo brasileiro para usar o centro por cinco anos.

O Hanbit-TLV é um precursor tecnológico para um futuro lançador de satélites, o Hanbit-Nano, que terá dois estágios e poderá levar satélites de pequeno porte (até 50 kg) a uma órbita de 500 km de altitude, síncrona com o Sol (em que o satélite mantém seus painéis fotovoltaicos sempre expostos à luz solar). A expectativa da empresa é realizar o primeiro voo desse lançador de pequeno porte em 2024.

Com isso, Alcântara se aproxima de ter o seu primeiro lançamento orbital bem-sucedido –algo que o Brasil não conseguiu promover com seu próprio projeto de lançador, iniciado em 1980. O nacional VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) protagonizou três tentativas de lançamento, em 1997, 1999 e 2003, todas malogradas e a terceira causando um acidente que matou 21 pessoas.

Atrair empresas de pequeno porte para a exploração do centro se tornou uma meta importante da gestão Bolsonaro. Antes de assinar com a Innospace, o governo havia "loteado" em 2021 os sítios do CLA entre quatro companhias: Virgin Orbit, Hyperion e Orion AST, dos EUA, e C6 Launch, do Canadá. Dessas, apenas a primeira tem um lançador funcional, mas vai mal das pernas, em vias de falir; a segunda já faliu; as duas últimas ainda estão em pé.

Com o desenvolvimento, os sul-coreanos saltam para a frente da fila como os proprietários do primeiro lançamento orbital comercial a ser realizado a partir do solo brasileiro. Mas, claro, ainda há muito trabalho pela frente.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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