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Salvador Nogueira

Estouro no custo ameaça missão de retorno de amostras de Marte

Painel diz que projeto da Nasa pode custar quase o triplo da estimativa original

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Não há dúvida entre os cientistas planetários que a mais ambiciosa e importante missão em fase de planejamento na Nasa é a de retorno de amostras de Marte. Ela poderá trazer a resposta definitiva sobre se o planeta vermelho teve ou não vida em seu passado remoto. Mas falar tem se mostrado mais fácil que fazer, e o esforço se encontra sob sério risco de colapsar por conta de seu próprio peso.

Um painel independente escalado pela agência espacial americana se debruçou sobre os esforços, que em tese já começaram: o rover Perseverance, neste momento perambulando por Marte, tem colhido várias amostras em pequenos tubos e já depositou alguns deles no solo, para futuro resgate por outra missão.

A complexa empreitada, feita em parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia), envolveria um módulo equipado com um foguete para a ascensão de Marte e mini-helicópteros para capturar as amostras, além de uma nave-mãe orbital capaz de pegar a cápsula com as amostras lançadas da superfície marciana e trazê-las de volta à Terra.

Concepção artística do foguete que decolará de Marte na missão de retorno de amostras da Nasa
Concepção artística do foguete que decolará de Marte na missão de retorno de amostras da Nasa - Nasa

O trabalho só estará concluído, se tudo correr bem, em 2033, a um custo originalmente estimado pela Nasa em US$ 4,4 bilhões. Mas a realidade, como de costume, parece ser mais dura que as estimativas da agência. O painel calculou que a tendência é que o preço total da missão tenda a subir para algo entre US$ 8 bilhões e US$ 11 bilhões. Os especialistas estimam que o projeto tenha "probabilidade quase zero" de ser concluído com o orçamento originalmente definido. "Não há atualmente bases técnicas, de custo e de cronograma congruentes e críveis que possam ser seguidas com o provável financiamento disponível", escreveram em seu relatório.

Isso está levando a Nasa a repensar a arquitetura da missão, tornando-a mais simples – como, por sinal, é a proposta chinesa para feito semelhante, que envolverá dois lançamentos paralelos e promete realizar a difícil tarefa em 2031, dois anos antes dos americanos.

Há quem defenda até que a melhor opção seria simplesmente cancelar o projeto de retorno de amostras e se concentrar em uma série de missões robóticas mais modestas, capazes de cobrir mais terreno em Marte, porém sem o desafio de trazer amostras à Terra. É o caso de Robert Zubrin, engenheiro aeroespacial e presidente da Mars Society, que recentemente defendeu a ideia em artigo na revista SpaceNews –em vez de uma única missão complexa de US$ 10 bilhões, 20 missões de US$ 500 milhões.

Não chega a ser uma má ideia. O pior seria seguir com tudo como está. Um estouro de orçamento significará sacrificar outros projetos para bancar o custo extra com o retorno de amostras de Marte, como por sinal já ocorreu com a Veritas, missão que a agência espacial dos EUA pretendia enviar a Vênus, mas suspendeu indefinidamente, por questões técnicas e orçamentárias. Com o andar da carruagem, a gestão da Nasa logo terá outras escolhas difíceis pela frente.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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