Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Uma breve visita a 2124

Um futuro possível, com a crise climática superada e uma civilização multiplanetária

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O ano é 2124. A Terra já superou o pior da crise climática, depois de um século 21 muito difícil. Uma extinção em massa de espécies nos moldes das piores que o planeta já enfrentou não pôde ser evitada, mas a humanidade sobreviveu e aprendeu a viver de forma mais harmônica com seu mundo natal.

Parte desse sucesso veio de novas fontes de energia limpa, como reatores de fusão nuclear e grandes estações de painéis solares, muitas das quais instaladas no espaço. Até mesmo na Lua, onde moram cerca de 100 mil pessoas, elas foram implementadas, fornecendo energia para a Terra por meio de feixes de micro-ondas.

Também há cerca de 200 mil pessoas morando em Marte, e já há um esforço local de terraformação, com a liberação de metano e CFCs, além de outros poderosos gases de efeito estufa. Depois de termos aprendido, a duras penas, a lição de como lidar com nosso próprio planeta, desenvolvemos a capacidade de levar vida a outros mundos, criando ambientes habitáveis em antigos desertos inóspitos. É verdade que, em 2124, Marte ainda está longe de ser confortável como a Terra; seus habitantes ainda vivem a maior parte do tempo sob o solo e precisam de trajes protetores para saídas à superfície. Mas o caminho está traçado para que o Sistema Solar tenha eventualmente dois planetas vivos.

Concepção artística de uma cidade marciana do século 22
Concepção artística de uma cidade marciana do século 22 - Salvador Nogueira/Adobe Firefly/IA

Essa expansão humana, auxiliada por robôs e inteligência artificial, criou novas explosões artísticas e culturais. Bandas marcianas alcançam rotineiramente o topo das paradas na Terra. Produções de cinema feitas por automação foram uma moda passageira –no fim das contas descobrimos que nosso interesse é por arte criada por outros seres humanos, com a tecnologia assumindo um papel importante, mas secundário.

Seguimos explorando os confins do Sistema Solar, mas ainda são poucas as missões tripuladas além de Marte. As que mais se destacam envolvem o estudo de formas de vida descobertas no oceano subsuperficial de Europa, lua de Júpiter. Ao encontrar uma segunda origem para a vida, os cientistas estão muito perto de entender os passos que levam compostos simples a, enfim, produzir organismos autorreplicantes capazes de evolução darwiniana.

O desenvolvimento de veículos práticos e reutilizáveis (dentre os quais os elevadores orbitais) tornou viável a exploração de recursos naturais no espaço. Atividades de mineração foram gradualmente sendo interrompidas na Terra, onde causavam grande impacto ambiental, e passaram a ser conduzidas na Lua, em Marte e em asteroides, fornecendo matéria-prima para nosso mundo natal, bem como para todas as colônias humanas no Sistema Solar.

O voo interestelar ainda é um desafio, mas já há projetos em andamento que disparam grandes e ultraleves veleiros de luz não tripulados, impulsionados por laser, a até um décimo da velocidade da luz. Uma viagem robótica a Alfa Centauri deve durar pouco mais de 40 anos, mas será completada antes da metade do século 22.

Será tudo isso fantasia? Não sei. Mas a exploração espacial é um dos mais nobres e fascinantes empreendimentos já realizados por nossa espécie e nos dá, além de todos os seus benefícios práticos presentes e futuros, algo de que precisamos muito nesses tempos difíceis: esperança. Feliz ano novo.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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