Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira
Descrição de chapéu astronomia

Asteroides 'brasileiros', Saci e Curupira desfilam pelo Sistema Solar

Órgão internacional aprova esses dois nomes, mas veta Mula-sem-cabeça

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Notícia com sabor folclórico-carnavalesco: a União Astronômica Internacional (IAU), organismo responsável pela nomenclatura oficial de objetos celestes, vetou a iniciativa brasileira de batizar um asteroide de Mula-sem-cabeça. Mas liberou Saci e Curupira para desfilarem à vontade pelo Sistema Solar, tornando-se os primeiros asteroides próximos à Terra descobertos no Brasil a ganhar um nome próprio.

A responsabilidade recaiu sobre o grupo de Cristóvão Jacques, que coordena o observatório amador Sonear. Instalado originalmente em Oliveira (MG) e hoje em Caeté, próximo a Belo Horizonte, ele se consagrou pela prolífica descoberta de asteroides classificados como NEOs (Near Earth Objects, ou objetos próximos à Terra).

Os três nomes foram submetidos por Jacques à IAU em julho do ano passado, mas sua descoberta remonta a 2014 para dois deles e 2016 para o terceiro (o que acabou virando agora o Saci). Por que a demora? "Não tínhamos acesso ao sistema, que só foi concedido no ano passado, e tem a questão que o NEO demora a ser numerado e ter confirmada a sua órbita. A maioria leva mais de quatro ou cinco anos, no mínimo", explica o pesquisador.

Órbita do asteroide que deve ganhar o nome de Caipora, depois da recusa de Mula-sem-cabeça
Órbita do asteroide que deve ganhar o nome de Caipora, depois da recusa de Mula-sem-cabeça - Cristóvão Jacques

O nome Mula-sem-cabeça havia sido escolhido pelo público por uma enquete, promovida pelo pessoal do Sonear em parceria com o portal UOL ainda em 2016. Com o resultado, Jacques o submeteu à IAU. Mas na última segunda-feira (5) a entidade rejeitou a escolha, com base na origem da lenda, que atribuía a mulheres que tinham relações sexuais antes do casamento, em especial com padres, a maldição de se transformar na bizarra criatura. O avaliador anônimo da IAU pontuou: "Eu não sei como me sinto sobre um asteroide pró-celibato. Eu não acho que a IAU queira se envolver na vida pessoal das pessoas."

Com isso, lá se foi o asteroide Mula-sem-cabeça. Agora, cabe a Jacques submeter um nome alternativo. "Será Caipora", diz. No folclore de origem tupi-guarani é uma indígena de cabelos vermelhos vista como protetora dos animais e da floresta. Dessa vez não deve dar problema.

E por que tanta fixação com folclore? Faz parte das regras da IAU para batismo de asteroides próximos à Terra (definidos como aqueles cujo ponto de sua órbita que mais se aproxima do Sol está a uma distância menor do que 1,3 unidade astronômica, sendo 1 UA a própria distância média entre a Terra e o Sol, cerca de 150 milhões de km). Eles têm de levar nomes relacionados à mitologia. Uma mudança recente dispensa dessa norma aqueles que têm periélio (maior proximidade com o Sol) acima de 1,15 UA, mas para os demais a regra permanece.

Pelo futuro previsível, nem Saci, Curupira ou Caipora trazem perigo de colisão com a Terra. O que chegará mais perto nas próximas décadas é o Curupira, em 2042 (7,5 milhões de km, pouco menos de 20 vezes mais distante que a Lua). Já o Saci fará sua maior aproximação em 2085 (24 milhões de km), e o Caipora, em 2130 (13,5 milhões de km).

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.