Nesta sexta-feira (10), a Boeing pode se tornar a segunda empresa do mundo a levar astronautas à órbita em um veículo próprio, depois da concorrente SpaceX. A Starliner CST-100, cápsula desenvolvida pela companhia para atender a encomenda de transporte espacial da Nasa, deve partir no fim da noite, a partir da plataforma 41 da Estação da Força Espacial em Cabo Canaveral, Flórida, impulsionada pelo consagrado (e em vias de se aposentar) foguete Atlas 5. Acompanhe ao vivo com o Mensageiro Sideral, a partir das 21h30.
O lançamento poderia ter partido na noite de segunda-feira (6), mas um problema técnico enfrentado pela equipe com uma válvula do segundo estágio do foguete, sob responsabilidade da empresa ULA (United Launch Alliance), obrigou a um adiamento para sexta. Ainda há uma data reserva no sábado.
A espaçonave terá a bordo Barry Eugene Wilmore, como comandante, e Sunita Williams, como piloto, ambos astronautas veteranos com dois voos espaciais. Williams, por sinal, deve se tornar com este lançamento a primeira mulher a voar em uma missão inaugural de um novo veículo orbital. A Starliner deve acoplar com a Estação Espacial Internacional (ISS) no dia seguinte ao lançamento e retornar à Terra depois de aproximadamente oito dias, por volta do dia 15.
A expectativa da Nasa e da Boeing é que tudo corra bem e a Starliner seja certificada para realizar voos de rotina levando astronautas à ISS, gerando a desejada redundância para preservar acesso ao espaço mesmo que um dos fornecedores tenha problemas pontuais. Mas, a julgar pelo passado recente, isso está longe de garantido.
DESENVOLVIMENTO ATRIBULADO
Foi em 2014 que a agência espacial americana oficializou seus primeiros contratos para o então novo programa comercial tripulado, em que ela apenas contrata o serviço de transporte, deixando as operações sob encargo de empresas privadas. Duas companhias foram selecionadas nessa primeira leva: SpaceX (por US$ 2,6 bilhões) e Boeing (por US$ 4,2 bilhões). Ambas tinham a mesma encomenda original: desenvolver um veículo de transporte de tripulações, realizar um voo não tripulado de teste e então um com astronautas a bordo, antes de ser certificada para transporte regular (com novas missões a serem contratadas pela Nasa).
Originalmente, esperava-se o primeiro lançamento de ambas para 2017, mas, com cortes no programa, elas atrasaram. A Crew Dragon, da SpaceX, foi a primeira a ganhar o espaço, em março de 2019, num voo sem tripulação que acoplou com sucesso à ISS e retornou, demonstrando a viabilidade do sistema. A empresa ainda teve um problema sério quando, num teste da cápsula pós-retorno, o acionamento dos retrofoguetes levou à destruição do veículo. Mas foi possível identificar a origem da falha e corrigi-la rapidamente para as cápsulas seguintes.
No fim daquele mesmo ano, chegou a vez da Starliner –mas o lançamento acabou em fiasco. Um problema com o relógio interno da nave fez com que ela disparasse seus propulsores de forma anômala e entrasse na órbita errada, impedindo um encontro com a estação espacial. Por pouco, a cápsula não reentrou prematuramente na atmosfera, o que poderia ter ocasionado a perda do veículo –algo nada entusiasmante para o que se espera de uma nave feita para transportar pessoas. O retorno se deu apenas dois dias após o lançamento, de forma controlada, em 22 de dezembro.
A Boeing então decidiu realizar um segundo voo não tripulado de teste, sem custo adicional para a Nasa. A cápsula foi preparada e o lançamento marcado para março de 2021, mas diversos problemas afetaram sua realização, dentre eles válvulas defeituosas no sistema de propulsão –descobertas somente quando a cápsula já estava pronta para voar, na plataforma–, o que acabou adiando o voo para maio de 2022.
Nesse meio-tempo, a SpaceX fez seu primeiro voo tripulado com a Crew Dragon, em maio de 2020, e começou a realizar voos regulares à ISS com quatro tripulantes em novembro daquele ano. Isso tornou a empresa de Elon Musk a primeira na história a lançar astronautas à órbita e devolveu aos EUA essa capacidade, perdida desde 2011 com a aposentadoria dos ônibus espaciais da Nasa.
Até o momento, a SpaceX já lançou oito missões regulares à ISS (a mais recente em março deste ano), além de alguns voos comerciais a clientes como a empresa Axiom e o bilionário Jared Isaacman, que realizou a primeira missão 100% privada à órbita em 2021. Já a Boeing, a despeito de originalmente ser vista como a aposta mais segura do programa comercial da Nasa, acabou sendo apenas a mais cara –e ainda precisa se provar. É o que está em jogo na missão desta segunda-feira.
A turbulência no desenvolvimento da Starliner vem na esteira de uma série de falhas no segmento de aviação da Boeing, mais notadamente em problemas com o modelo 737 Max, que levou a vários acidentes fatais e jogou luz em diversas falhas de controle da qualidade da empresa. No passado, ela foi tida como uma joia da indústria americana. Hoje, há dúvidas de qual será o seu papel no futuro dos segmentos aéreo e espacial. O voo da Starliner pode ser um divisor de águas para tentar recuperar o prestígio perdido. Em caso de sucesso, os EUA pela primeira vez terão dois fornecedores privados independentes para voo espacial tripulado, conforme a Boeing planeja começar seus voos regulares tripulados à ISS em 2025.
Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.