G7 dos partidos domina disputa a prefeituras e Congresso e mira 2026

Com 80% do Congresso e mais de 70% das verbas eleitorais, siglas dão as cartas nas eleições municipais e nas da Câmara e Senado

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Brasília e São Paulo

O Brasil tem atualmente 29 partidos, mas um grupo de sete legendas domina o cenário político nacional e é, por ora, quem dá as cartas nas principais disputas no radar: as eleições de outubro para prefeitos e vereadores, a de fevereiro de 2025 para a troca do comando de Câmara dos Deputados e Senado e a de 2026 para presidente, Congresso Nacional, governadores e Assembleias Legislativas.

Esse G7 concentra 80% das cadeiras do Congresso, 70% dos governos estaduais e das bilionárias verbas eleitorais, além de ser maioria também em prefeituras, câmaras municipais e Assembleias Legislativas.

Fotomontagem com os presidentes dos sete maiores partidos do Brasil, Valdemar Costa Neto (PL), Gleisi Hoffmann (PT), Antônio Rueda (União Brasil), Gilberto Kassab (PSD), Ciro Nogueira (PP), Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos) - Pedro Ladeira/Folhapress e Bruno Spada/Câmara dos Deptuados

Puxam esse grupo o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro —que tem a maior bancada de deputados federais e mira a filiação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)— e o PT do presidente Lula.

Logo depois estão cinco partidos de centro, centro-direita e direita —o que inclui o centrão— e que têm dominado nos últimos anos tanto as eleições municipais como o comando do Congresso. São eles União Brasil, PSD, MDB, PP e Republicanos.

A União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL, é favorita para voltar ao comando do Senado com Davi Alcolumbre (AP) em 2025 e também está na disputa pela presidência da Câmara, com Elmar Nascimento (BA).

O PSD comanda hoje o Senado, com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem a maior bancada (15 das 81 cadeiras) e também está na disputa pela presidência da Câmara no próximo ano, com Antonio Brito (BA).

O partido de Gilberto Kassab foi o terceiro no ranking de prefeitos eleitos em 2020, mas, devido ao troca-troca partidário, superou o MDB e se tornou em 2024 o partido com maior número de chefes de Executivo municipal no país, com mais de mil filiados.

Já o MDB foi o que mais elegeu chefes de executivos municipais e vereadores há quatro anos. Desde os anos 1980 até 2018, comandou o Senado praticamente de forma ininterrupta, por mais de 30 anos. Tem Isnaldo Bulhões Jr. (AL) como pré-candidato a presidente da Câmara, mas ele não está entre os favoritos por enquanto.

O PP está desde 2021 na chefia da Casa com Arthur Lira (AL), e obteve a segunda posição no ranking de prefeitos e vereadores eleitos em 2020.

Já o Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, é o "caçula" do G7. Não ocupou até hoje nenhuma das presidências no Congresso nem figura no topo do ranking de prefeitos eleitos, mas tem trajetória ascendente e planeja chegar ao comando da Câmara em 2025 com seu presidente, Marcos Pereira (SP).

Curiosamente, as duas maiores siglas do G7 têm hoje as maiores bancadas da Câmara, estão entre as principais do Senado, mas não disputam o comando nem de uma casa nem de outra porque não têm forças para suplantar a união dos demais partidos do grupo.

O objetivo imediato do PT é se recuperar dos fracassos verificados nas eleições municipais de 2016 e 2020 —nessa última, não elegeu nenhum prefeito de capital. Um dos sinais do tempo é que pela primeira vez não disputará a Prefeitura de São Paulo e apoiará Guilherme Boulos (PSOL), acordo alinhavado por Lula.

A médio prazo, o partido buscará apoiar nomes na chefia do Congresso que não tragam tantos problemas ao governo e, como objetivo maior, tentará manter um arco de aliança e uma força mínima no Congresso que dê suporte à possível tentativa de reeleger Lula em 2026.

Já o PL vê Bolsonaro inelegível, embora aliados almejem a reversão desse obstáculo, a depender dos ventos políticos futuros. Caso isso não ocorra, a aposta maior em 2026 para concorrer com Lula permanece sendo Tarcísio.

"Ele vai para o PL, está decidido, mas irá no tempo dele. Eu acho que será antes das eleições municipais, mas, se vier depois, não há o menor problema", diz o líder da bancada do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ).

No Republicanos, a saída de Tarcísio é vista com bons olhos nos bastidores, já que tiraria do caminho um dos entraves ao apoio governista a Marcos Pereira na Câmara.

Embora disputas municipais exerçam alguma influência nos resultados das eleições gerais de dois anos depois, é impossível cravar prognósticos, como mostra a história.

Em 2000, por exemplo, o PT emplacou Marta Suplicy no comando da maior cidade do país, São Paulo, e em outras cinco capitais, sendo o principal vencedor daquela disputa, em contraste com o esvaziamento de aliados do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Dois anos depois, Lula obteria nas urnas o direito de chegar pela primeira vez ao Palácio do Planalto.

Em 2004, porém, o PT perderia espaço nas grandes cidades —Marta não conseguiu se reeleger—, e o PSDB conseguiria o comando da capital paulista pela primeira vez. Isso não impediu Lula de obter o segundo mandato, derrotando novamente os tucanos, dois anos mais tarde.

Mais recentemente, o pleito de 2016 pode ser tomado como exemplo pelos que não veem reflexo entre uma eleição e outra e pelos contrários, ou seja, os que enxergam relação.

Naquele ano, o PT vinha na esteira do impeachment de Dilma Rousseff e foi o maior derrotado. O prefeito Fernando Haddad foi batido por João Doria (PSDB) no primeiro turno, feito inédito.

Fiador da campanha tucana, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) via fortalecida sua candidatura à Presidência.

A onda que varreu as eleições de 2018, porém, deu o posto a Jair Bolsonaro (então no PSL) e deixou Alckmin em um humilhante quarto lugar, com 4,76% dos votos, o pior resultado da história do partido. O PT também saiu derrotado, embora tenha conseguido ir para o segundo turno, com Haddad.

Apesar disso, 2016 já dava sinais de uma onda antipolítica e populista que se mostraria em sua plenitude em 2018.

Além da vitória do ex-empresário Doria em São Paulo, o cartola de futebol Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte, e o pastor Marcelo Crivella (PRB), no Rio, também saíram vitoriosos. Vários políticos que estavam no poder em importantes capitais e cidades não conseguiram manter a cadeira.

Cifras bilionárias abastecem partidos e candidatos

O G7 partidário terão à disposição em 2024 R$ 3,7 bilhões do Fundo Eleitoral e R$ 860 milhões do Fundo partidário, o que representa 73% dos recursos públicos direcionados às legendas e às eleições.

A divisão desse bolo de R$ 6,2 bilhões é definida, na quase totalidade, conforme o desempenho dos partidos nas eleições gerais. Como o financiamento empresarial está proibido desde 2015, o controle dos fundos constitui ferramenta essencial para manutenção do poder entre essas legendas.

A essa cifra se soma ainda o controle das emendas parlamentares, que, por pressão dos partidos de centro e de direita no Congresso, atingiram neste ano o recorde de cerca de R$ 50 bilhões.

As emendas são direcionadas na quase totalidade para obras e investimentos nos redutos eleitorais dos congressistas, o que é capitalizado não só por eles, mas principalmente pelos prefeitos e vereadores aliados.

Além de ter no bolso a chave do cofre, o controle pelo G7 da maior parte da máquina municipal é outro trunfo para repetir o bom desempenho nas eleições de outubro, já que tentarão a reeleição na cadeira de prefeito ou vereador.

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A força no Congresso Nacional, nas prefeituras e nas Câmaras municipais se reflete também nos governos estaduais e nas Assembleias Legislativas. O G7 ocupa cerca de 70% desse espaço.

Os outros 22 partidos brasileiros se dividem entre médios, pequenos e nanicos.

Nesse aglomerado, chama a atenção a presença do PSDB, partido que governou o Brasil de 1995 a 2002, teve papel de destaque no Congresso e governou São Paulo por quase três décadas, mas que teve em 2022 o pior resultado eleitoral de sua história.

Os tucanos se uniram em federação ao Cidadania, tendo hoje 17 cadeiras na Câmara e apenas 1 senador. Apesar disso, mantêm-se entre os grandes quando se trata de governadores —três— e prefeitos eleitos em 2020.

Outra história de destaque é a do PTB, que surgiu sob as bênçãos de Getúlio Vargas nos anos 1940 e que, após o fim da ditadura militar (1964-1985), saiu das mãos dos trabalhistas para ser comandada por Roberto Jefferson.

O partido foi destaque por anos dentro do centrão, mas acabou minguando e foi obrigado a se fundir ao Patriota, criando o PRD, para atingir a cláusula de barreira —regra que corta financiamento e acesso à propaganda de siglas com baixo desempenho eleitoral.

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