Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

SpaceX lança seu foguete Starship pela quarta vez; siga ao vivo

Voo parte de Boca Chica, no Texas, com teste de retorno dos dois estágios do veículo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Starship, veículo projetado pela SpaceX para levar astronautas de volta à superfície da Lua, ganhou os ares mais uma vez nesta quinta-feira (6), no quarto voo-teste integrado realizado pela companhia a partir da Starbase, instalação localizada em Boca Chica, no Texas. O voo teve início às 9h50, conforme planejado.

Acompanhe ao vivo com o Mensageiro Sideral.

Dentre os objetivos novos para esse novo voo de teste estão o retorno controlado do primeiro estágio, chamado de Super Heavy, com um pouso suave no mar –manobra realizada apenas de forma parcial no voo anterior, em março– e a sobrevivência do segundo estágio, o Starship propriamente dito, à feroz reentrada na atmosfera terrestre, quando o exterior do foguete é exposto a temperaturas que podem chegar a 1.500 graus Celsius. No teste anterior, o estágio acabou destruído no início da descida.

Rememorando, foram realizados até agora três voos integrados do Starship, incluindo os dois estágios do foguete. Em abril de 2023, o objetivo mínimo da empresa de Elon Musk era que o Starship deixasse sua plataforma de lançamento sem destruí-la completamente. Ele foi atingido, mas o voo foi marcado por uma série de falhas nos motores, que impediram até mesmo a separação dos estágios. O voo foi encerrado a 39 km de altitude, com a destruição do foguete então descontrolado.

Modificações foram feitas ao veículo, procedimentos foram aperfeiçoados e a estrutura da plataforma ganhou um sistema de dilúvio para reduzir ondas de choque e impedir o espalhamento de detritos por ocasião da decolagem. Em novembro do ano passado, o segundo voo viu mais sucesso, e pela primeira vez tivemos a separação dos estágios e o segundo deles chegou ao espaço, mas acabou perdido pouco antes do desligamento dos motores. O primeiro estágio, apesar da separação bem-sucedida, acabou também explodindo logo em seguida.

O terceiro voo, realizado em março deste ano, pela primeira vez concluiu a queima dos motores do segundo estágio, colocando a espaçonave numa "quase órbita" (um percurso suborbital que quase deu uma volta completa ao redor da Terra), para uma reentrada no oceano Índico. Alguns testes foram realizados durante o voo de cruzeiro, como a transferência de propelente de um tanque para outro (tecnologia essencial para o futuro uso do veículo em viagens à Lua), e a abertura da porta da área de carga. Outro teste planejado, de reacendimento dos motores no espaço, acabou abandonado, depois que o Starship entrou em uma rotação descontrolada, algo que também impediu que ele sobrevivesse à reentrada atmosférica, feita a uma velocidade de cerca de 27 mil km/h.

Starship aguarda lançamento na quarta-feira (5), em Boca Chica, Texas
Starship aguarda lançamento na quarta-feira (5), em Boca Chica, Texas - Getty Images/France Presse

Quanto ao primeiro estágio, chamado pela companhia de Super Heavy, após a separação, ele conseguiu realizar o reacendimento dos motores para a freada necessária ao retorno à atmosfera, bem como durante a fase final para o pouso suave, mas com algumas falhas de motor, que levaram à perda do veículo segundos antes da chegada ao oceano.

É a partir desse ponto que o quarto teste começa: além de replicar os sucessos obtidos no terceiro, a SpaceX espera conseguir concluir com sucesso a descida do primeiro estágio e ver o segundo (o Starship propriamente dito) sobreviver à reentrada, ainda que não realize um pouso suave no oceano Índico.

Após esse quarto voo, a cadência dos testes deve aumentar. Ao conceder autorização para o procedimento, a FAA (agência que regula aviação civil e lançamentos espaciais comerciais) já levou em consideração que alguns elementos do veículo são experimentais e naturalmente sujeitos a falha: a proteção térmica para a reentrada, o sistema de flaps para guiar o estágio pela atmosfera e o acendimento dos motores para a queima de pouso.

Isso significa que, caso algum desses eventos não se dê como o desejado, não será preciso realizar uma investigação antes que a SpaceX possa voltar a voar –exceto se isso causar algum dano ou ferimento a alguém, o que uma virtual impossibilidade no meio do oceano Índico, onde o Starship deve descer.

Na prática, as chances são boas de que a SpaceX realize mais quatro ou cinco voos do foguete ainda neste ano.

Em uma apresentação feita em abril na Starbase, Elon Musk disse esperar que a SpaceX consiga realizar a recuperação do primeiro estágio com um pouso diretamente na plataforma de lançamento até o fim deste ano, e a recuperação do segundo estágio até o fim de 2025.

Musk costuma ser exageradamente otimista em suas estimativas, mas essas projeções não parecem tão absurdas. Ainda assim, é pouco para quem, como a Nasa, quer usar o Starship em um pouso lunar tripulado a ser realizado até o fim de 2026.

AMBIÇÕES E REALIZAÇÕES

Além de realizar dezenas de voos bem-sucedidos e dominar a recuperação pelo menos do primeiro estágio, será preciso demonstrar a capacidade de reabastecer o veículo em órbita, o que exigirá uma sequência de dez a vinte lançamentos, em rápida sucessão. Depois disso, será preciso demonstrar sem tripulação um pouso e uma decolagem bem-sucedidos na Lua. Só aí ele poderá ser incorporado à missão Artemis 3.

A perspectiva já faz a Nasa pensar em mais um adiamento ou talvez em mudar o perfil da terceira missão Artemis, eliminando um pouso lunar.

Nada disso, contudo, tira o brilho do programa Starship. Desenvolvido pela SpaceX e depois abraçado pela Nasa (que fechou contrato com a empresa por US$ 2,9 bilhões pelo primeiro pouso lunar tripulado do século 21), o foguete, mesmo em seu estágio experimental, já mostra capacidades jamais antes vistas.

É o mais potente do mundo, podendo levar mais de cem toneladas de cada vez à órbita terrestre. Para que se tenha uma ideia do que isso significa, ele poderia levar ao espaço a massa equivalente à da Estação Espacial Internacional (ISS), 400 toneladas, em apenas três ou quatro voos. Construído pelos antigos ônibus espaciais americanos e por foguetes Proton e Soyuz russos, o complexo orbital exigiu 31 voos entre 1998 e 2011. Adições ao complexo foram feitas com 13 voos subsequentes entre 2013 e 2023.

Uma capacidade como essa, com as dimensões do foguete, também representa um potencial muito maior para missões científicas. O Telescópio Espacial James Webb, com seu espelho segmentado de 6,5 metros, é o maior telescópio espacial já levado ao espaço. O Starship poderia acomodar um telescópio com espelho de 9 metros inteiriço, e talvez até maior, se segmentado.

Restrições de massa para futuras missões tripuladas e robóticas, um dos principais fatores limitantes, caem vertiginosamente com o novo veículo. A SpaceX espera poder levar com um único voo lunar de carga do Starship o equivalente à área de carga de um avião Boeing 737. É basicamente uma mudança de paradigma.

E o melhor: a preços muito competitivos. Estima-se que o Starship possa voar hoje, com a não recuperação de nenhum dos estágios, a um custo de US$ 100 milhões. Pode parecer muito, mas o único foguete comparável atualmente em operação é o SLS da Nasa, que sai por US$ 2 bilhões por lançamento e cuja cadência dificilmente ultrapassa um lançamento a cada dois anos.

Contraste com o que vimos nos últimos 13 meses: quatro lançamentos do Starship, e isso num ritmo impactado por trâmites burocráticos, que permitiram à FAA fazer a análise rigorosa dos impactos de cada voo antes da liberação do próximo. A tendência é o ritmo dos lançamentos aumentar, conforme a SpaceX ganha maior domínio sobre o sistema.

E se o sonho da reutilização rápida e frequente se realizar, Elon Musk estima que o custo de cada lançamento pode cair para US$ 10 milhões. Preço de minifoguete com capacidade de foguete lunar tripulado.

O caminho até essa nova realidade ainda é longo e tortuoso. Mas, a cada novo voo, parece mais próximo e acessível.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.