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Os bastidores do jornalismo nas periferias de SP

Descrição de chapéu

Quando o assunto são as crianças, não esqueça de ouvi-las

Repórter narra sobre a necessidade de ouvir as crianças sobre temas como a Covid

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Pandemia

Jacqueline Maria da Silva
São Paulo | Agência Mural

"Tia, quero que você volte sempre!". Essa foi uma das frases que escutei das crianças que entrevistei para a reportagem "Crianças falam sobre a expectativa da vacina após aprovação da Anvisa", publicada em 17 de dezembro de 2021. Ela me fez sentir a "rainha" da reportagem com crianças. Mas fazer a reportagem não foi tão fácil assim.

Eu decidi falar com as crianças sobre o assunto porque queria entender como elas enxergavam o cenário de pandemia e o que esperavam da imunização. Afinal, elas estavam no centro do debate e achava que tínhamos de saber como isso estava afetando-as, se estava.

A pauta foi também uma oportunidade para eu saborear o gosto de comunicar sobre e para crianças. Um desejo antigo que tomou forma durante uma formação específica, promovida pela Mural, sobre pautas com esta faixa-etária.

Criança coloca máscara em boneca
Criança coloca máscara em boneca e fala da importância da vacinação - Agência Mural

A primeira etapa foi buscar as crianças –minhas fontes– que quisessem falar. Minha mãe me ajudou na pesquisa, perguntando para as mães que frequentam seu salão.

Selecionei várias faixas-etárias, e achei 7. Também optei por entrevistar as que moram no meu distrito, Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, pois conseguiria fazer tudo presencialmente.

Na hora de falar com elas, não foi fácil colher informações. Bastou dar "play" na gravação para que a espontaneidade e animação de todas elas cedesse lugar a timidez e silêncio.

Toda a minha experiência ou "jeito" com crianças não garantiu o sucesso imediato na hora da entrevista. A estratégia foi tentar adentrar o universo de cada uma, mas controlando a situação, para não sair com horas de áudio sem o conteúdo necessário para escrever a reportagem.

Apesar de conhecer os pais dos entrevistados, não tinha contato e intimidade com os filhos e eles me auxiliaram nessa aproximação. Ainda assim, fiz questão de explicar às crianças a finalidade do encontro e pedi autorização aos próprios.

Os encontros foram tranquilos, mas é preciso sempre respeitar o tempo delas. As crianças queriam me mostrar bonecos, brinquedos, máscaras, falar sobre outras coisas que não apenas sobre o tema da reportagem.

O gravador sempre perto da boca deixou elas um pouco intimidadas no início, mas depois resolvi mostrar para elas a própria voz e elas gostaram de ouvir. Ficaram seguras para continuar a conversa.

A escolha do lugar, como no parque ou a casa, também facilitou a troca e rendeu fotos genuínas, algumas sugeridas por elas mesmas. Uma sugeriu tirar foto colocando a máscara nas bonecas ou usando álcool em gel e passeando com sua boneca preferida. Outra quis escolher a máscara preferida do Batman para fotografar.

As crianças gostam de ser escutadas, como nós. E descobri que são "pauteiras natas". Uma delas falou bastante sobre o medo da morte após perder a avó para a Covidi-19, e de citar várias vezes a morte trágica de Marilia Mendonça, ocorrida na semana em que gravamos.

Depois de conversar com outras duas, achei que precisaríamos fazer também uma sobre como se sentem os filhos dos profissionais de saúde na linha de frente.

A possibilidade dessa publicação me gerou expectativas: de que os adultos se encantassem e validassem a opinião dos pequenos. Ao mesmo tempo que as crianças se sentissem representadas e tivessem acesso a informação direcionada a elas.

Meu desafio enquanto pensava no texto foi equilibrar a linguagem para os vários leitores, e talvez eu tenha conseguido, segundo o feedback das mães e das crianças.

Independente disso, termino dizendo que a publicação em dezembro foi um presente pra mim, principalmente sabendo que estava noticiando que logo estas e outras crianças também teriam a oportunidade de imunização tão esperada.

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