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Música em Letras - Carlos Bozzo Junior
Carlos Bozzo Junior

Sambista Donga ganha instituto com seu nome

Acervo reúne 311 itens entre matérias de jornais, fotos, partituras, letras de música e anotações feitas pelo próprio Donga

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Autor de "Pelo Telephone", considerado pela maioria dos pesquisadores o primeiro samba a ser gravado no Brasil, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga (1889-1974), ganhou, no último dia 6 de abril, um instituto com seu nome.

O Música em Letras entrevistou, com exclusividade, o sambista Carlos Eduardo Nogueira Machado, 61, conhecido como Didu Nogueira, secretário geral e tesoureiro do Instituto Donga, para saber o que é a organização, suas atividades e quais os destaques do acervo composto de 331 peças, entre elas raridades como letras de música e anotações feitas pelo próprio sambista carioca, contemporâneo de Pixinguinha (1897-1973) e João da Baiana (1887-1974).

Em foto preto e branco, aparece o compositor Donga e a cantora soprano Zaíra de Oliveira no dia de seu casamento
Foto de 1932 do casamento do compositor Donga com a cantora soprano Zaíra de Oliveira - Divulgação/Acervo Instituto Donga

Leia, a seguir, a entrevista concedida por Didu Nogueira a este repórter.

Quais são os propósitos do Instituto Donga, criado no último dia 6 de abril?

O Instituto Donga tem como finalidade a preservação do acervo pessoal do Donga, a divulgação de sua obra através da realização de eventos que proporcionem ao público em geral o conhecimento da trajetória de um dos principais músicos e compositores do país, que desde o início do século 20 contribuiu de maneira fundamental para a história da nossa música popular.

Por quem ele foi criado?

O Instituto Donga foi criado por Márcia Zaíra dos Santos Maciel, presidente da organização e neta do Donga, por Felippe dos Santos Maciel Pinto de Almeida, vice-presidente e bisneto do Donga, e por Germano Fehr, diretor de produção.

O que pode ser encontrado no acervo do Instituto Donga?

São 311 peças entre matérias de jornal, fotos, partituras, letras de música, além de importantes anotações feitas pelo mestre Donga no que se refere a gêneros musicais e folclóricos. Entre elas há documentos pessoais, como recibos de aluguel; o violão com o qual ele gravou "Pelo Telephone", em 1916; um prato e faca, que datam da primeira década do século 20; e a comprovação de sua associação à principal editora [musical] europeia (francesa).

Em foto colorida, aparece o violão usado por Donga para gravar o samba 'Pelo Telephone'
Violão usado por Donga para gravar o samba 'Pelo Telephone', um do itens do acervo do Instituto Donga - Divulgação/ Felippe Donguinha

Quais são os itens mais importantes?

Fundamentalmente, o violão, o prato e a faca, partituras e letras de músicas, algumas certamente inéditas.

Quais os mais curiosos?

A foto de Tia Amélia do Aragão (mãe de Donga), a foto do casamento dele com Da. Zaíra de Oliveira, soprano lírica de relevante importância no universo da música clássica.

Qual o estado de conservação dos itens?

Graças ao incessante trabalho que sua filha, Lygia Santos, desenvolveu desde o final dos anos 1960, os itens estão conservados de maneira absolutamente correta. Posteriormente, com a catalogação, o acervo se encontra em muito boas condições.

Em foto colorida aparece o prato e faca de Donga, um dos itens do acervo do Instituto Donga
Prato e faca de Donga, um dos itens do acervo do Instituto Donga - Divulgação/Márcia Zaíra

Onde estava esse acervo?

Esses itens estavam na residência da família Santos, da filha Lygia, da neta Márcia, e do bisneto Felippe. A partir da seleção, formação do acervo e os consequentes inventário e catalogação é que foi criado o Instituto Donga.

O acervo já foi todo catalogado ou ainda há muito para se descobrir nele?

Recentemente foram encontrados dois envelopes que olhamos de forma superficial, mas podemos assegurar que serão incluídos .

O público terá acesso a esse acervo?

Agora que está devidamente registrado, o Instituto Donga irá buscar, através de parcerias e patrocínios, as devidas ações para pôr em prática vários projetos [abertos ao público], entre eles o "Baú do Donga".

O acesso ao acervo será gratuito?

Sim.

Em foto colorida, a Música 'Meu Jardim' de Donga e David Nasser gravada em 1941 por Francisco Alves, escrita por Donga
Música 'Meu Jardim', de Donga e David Nasser gravada em 1941 por Francisco Alves, escrita por Donga - Divulgação/Acervo Instituto Donga

Há uma sede do Instituto? Qual o endereço?

A sede é na própria residência da família Santos, que fica no Maracanã, zona norte do Rio, antiga Aldeia Campista, onde Donga nasceu e viveu a maior parte de seus 85 anos de vida.

Quais e quando serão as primeiras ações do Instituto?

Dentro do "Baú do Donga", que é o guarda-chuva onde abrigamos os projetos de exposição, songbooks, gravação de discos, biografia, está a recriação do grupo Os Oito Batutas, rebatizados de Os Outros Batutas, composto por alguns dos principais músicos brasileiros, profundos conhecedores do choro e do samba, para uma série de apresentações, no país. Ainda neste ano, no qual se comemora o centenário da gravação por Donga de um disco de 20 faixas na RCA da Argentina, nos apresentaremos por lá também. Esta será a primeira grande ação do Instituto Donga.

Qual o valor do investimento para a abertura do Instituto Donga?

Cerca de R$ 5 mil.

Em foto colorida, a partitura da música 'Carne de Baleia', marcha de Walfrido Silva, Donga e David Raw, com arranjo do maestro Sebastião Cyrino
Partitura da música 'Carne de Baleia', marcha de Walfrido Silva, Donga e David Raw, com arranjo do maestro Sebastião Cyrino - Divulgação/Acervo Instituto Donga

Quais os benefícios que o Instituto trará à música?

São muitos. Por exemplo, os músicos integrantes do grupo Os Outros Batutas já tiveram acesso a uma parte do acervo de partituras e afirmaram se tratar de uma coleção única, que permitirá a eles mergulhar, de forma profunda, no entendimento da gênese da nossa música popular e suas evoluções.

Quais os benefícios que o Instituto trará à cultura do país?

A memória de um país é a formadora de sua identidade. E o Instituto Donga é mais um desses colaboradores no sentido do resgate e do consequente entendimento da história musical de fins do século 19 e início do século 20 e suas transformações.

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