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Música em Letras - Carlos Bozzo Junior
Carlos Bozzo Junior

Por que ficar de ouvidos bem abertos ao novo álbum de Vicente Barreto?

Renato Teixeira, Alceu Valença, Zeca Baleiro e Chico César são alguns dos artistas que participam do trabalho do compositor

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O Música em Letras soube, com exclusividade, de um lançamento que fará você ficar de ouvidos bem abertos caso queira abrir sua alma para uma música que pode ser chamada de música popular brasileira, ou simplesmente MPB, por sua legitimidade e simplicidade.

O compositor, cantor e violonista baiano Vicente Barreto, 73, está finalizando um novo álbum, ainda sem nome, com nove faixas. Nelas, além de seu canto e exímio violão, figuram entre outros parceiros, os compositores Renato Teixeira, Alceu Valença, Zeca Baleiro, Chico César, Zé Rocha e Soneca.

Em foto colorida, o cantor e compositor Vicente Barreto aparece tocando violão e cantando
O cantor e compositor Vicente Barreto - Divulgação/Luisa Barreto

Pelo escrito nos parágrafos anteriores percebem-se duas boas razões para ouvir o álbum. Afinal, o que é legítimo e simples traz confiança, além de que "diga-me com quem tu andas e direi quem tu és".

Contudo o festival de bons motivos para ouvir o novo álbum de Vicente Barreto, que teve sua gravação iniciada no último dia 18 de janeiro e está para ser mixado e lançado, na ocasião do aniversário de 74 anos de idade do artista, no dia 5 de abril, não para por aqui.

Este será o 12º álbum do compositor de "Morena Tropicana", com Alceu Valença, entre vários outros sucessos. Em sua discografia, Barreto conta só com "filés", esbanjando músicas repletas de harmonias e melodias benfeitas sempre conduzidas por uma brasilidade incontestável.

Entre seus "filés" estão: "Paleolírico", de 2022; "Cambaco", de 2015; "Noite Sem Fim dos Forrós", de 2002; "O Melhor de Vicente Barreto", de 2001; "E a Turma Chegando pra Dançar", de 1999; "Mão Direita", de 1996; "Ano Bom", de 1994; "Nação Brasileira", de 1985; "Rasgando a Seda", de 1983; "Vicente Barreto", de 1981; e "Assim Tão Moço", de 1980.

Portanto experiência e bom gosto não lhe faltam, além de que a mão direita de Vicente Barreto tocando "assanfonando" o violão, do jeito que só ele sabe "assanfonar", é assombrosa. Isso por si só já é uma grande atração e que nos leva a certificar que o baiano tem um suingue inigualável.

Segundo o artista disse a este blog, o novo álbum não é novo. "É um disco antigo, que há muito estava dentro de mim. Eu só não tinha encontrado ele ainda porque precisava de tempo para reunir meus parceiros de canções e fazermos juntos a música que me representa, simples, tradicional, mas do meu jeito", disse.

Alceu Valença participa da faixa que traz "Pelas Ruas que Andei", dele e Barreto, regravada com um arranjo novo, escrito pelo filho de Vicente Barreto, o músico e produtor Rafa Barreto. "Rapaz, ficou um forró da bexiga! Alceu adorou, disse que ficou muito bom. Tanto que gravou", contou o compositor baiano.

Com Chico César, Vicente Barreto gravou, segundo ele, "um xote retado, sem o ‘a’ antes de ‘retado’. Arretado é como falam em Pernambuco. Na Bahia é ‘retado’ sem o ‘a’", disse o compositor sem dizer o nome do xote.

Outro xote do novo álbum é "Saudade de te Ver Paraíba", composto com Zeca Baleiro, além de "Zig Zague" e "Ê Flo". "A música ‘Zig Zague’ é um baião do sujeito ficar mole, mole, com aquele meu violão assanfonado. E ‘Ê Flo’ é uma espécie de samba misturado com chula", disse Barreto.

Renato Teixeira compôs "Falando Sério", com Vicente Barreto, "uma mistura que não consigo nem dizer o que é, mas parece um xote tradicional que depois vai para um rock antigo". "Pense em um xote diferente."

Em foto colorida o artista aparece tocando violão
O compositor e cantor baiano Vicente Barreto - Divulgação/Luisa Barreto

"Sementes do Baião", composição de Vicente Barreto com Zé Rocha, aborda a nova safra de sanfoneiros, como Mestrinho, que também gravou no novo álbum, e como o zabumbeiro Guegué Medeiros e outros músicos que sabem tocar seus instrumentos com muita propriedade.

"Na Força e na Fé" e "Só Eu e o Sol", as duas em parceria com Soneca, são descritas por Barreto como: "uma delas, a ‘Na Força e na Fé’, é um xote daqueles de revirar os olhinhos, enquanto ‘Só Eu e o Sol’ é um xote que tem uma ligeira puxada para um reggae com cara de MPB 'modernona'".

Há 52 anos Vicente Barreto mora em São Paulo. Nessa cidade conheceu sua mulher Vânia, casou-se com ela, teve um casal de filhos, Rafa e Luisa, além de ter composto todas as suas músicas que viraram sucesso, mas pouca gente sabe disso.

Contudo, isso parece estar mudando, pois no próximo dia 23, às 19h, Vicente Barreto receberá o título de Cidadão Paulistano, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo.

O que isso muda na vida do artista? "Me deixa muito alegre este tipo de reconhecimento porque foi nesta cidade que tive como lição perseverar e me dedicar totalmente à música, além de ter sido bem acolhido do dia em que cheguei até hoje. Essa vivência me deixa seguro como compositor e artista para dar continuidade à minha carreira e poder lançar um disco, sem selo, sob minha responsabilidade, e com o meu dinheiro para mostrar um artista que traz suas tradições e sua simplicidade em seu som, na sua música, mas com a diversidade que só São Paulo poderia me dar."

Estar com os ouvidos abertos para o novo álbum de Vicente Barreto é ter oportunidade de ouvir músicas simples, sem harmonias complicadas, sem acordes dissonantes, e muito próximas da sonoridade tradicional que rola no Nordeste quando o papo é coco, xote, baião e samba.

Quanto menos uma música é soberba, mais ela é venerável. Simples, a música do novo trabalho de Vicente Barreto é digna de ser respeitada. Além disso, como preconizou o genial Millôr Fernandes (1923-2012), sobre a simplicidade: "viver com simplicidade cada dia é mais complicado".

Ouça o novo álbum deste baiano "apaulistanado" e sinta a música fluir em sua alma sem complicação.

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