Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

As lições de Drauzio Varella para o atleta amador

Aos 79 anos, médico completa as seis principais maratonas do mundo

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Rodrigo Flores
São Paulo

"Rodrigo, você poderia fazer um texto sobre a mandala do doutor Drauzio Varella?"

O pedido chegou da chefia. Eu disse sim, mas queria ter dito não.

Explico.

O atleta Drauzio Varella é uma das minhas maiores referências no esporte. Sim, porque além de ser um médico extraordinário, um escritor de mão cheia e um cidadão exemplar, Drauzio Varella é uma inspiração como atleta. Um ídolo que cativa pelo que tem de comum, e não por resultados fora de série. E escrever sobre ele é uma enorme responsabilidade.

Mas não quero me antecipar. Vamos começar do começo.

A notícia é que o doutor Drauzio ganhou, no último final de semana, a mandala das "Six Majors" -- um prêmio para todo atleta que completa as seis mais importantes maratonas do mundo: Chicago, Boston, Nova York, Berlim, Londres e Tóquio.

O feito ganha contornos especiais porque, nessa rodada de entrega de mandalas, o doutor Drauzio foi o atleta mais velho a receber o prêmio. Ele completou os 42km da maratona de Londres, a última que faltava para a sua coleção, aos 79 anos, 5 meses e 1 dia de vida.

O que isso tem a ver comigo? O doutor Drauzio não sabe, mas seu livro "Correr: O Exercício, a Cidade e o Desafio da Maratona" foi minha leitura de cabeceira quando decidi correr minha primeira maratona.

Médico e colunista da Folha Drauzio Varella ganha mandala por completar as seis principais maratonas do mundo. Ele terminou a maratona de Londres no último final de semana aos 79 anos
Médico e colunista da Folha Drauzio Varella ganha mandala por completar as seis principais maratonas do mundo. Ele terminou a maratona de Londres no último final de semana aos 79 anos - Reprodução/Instagram

Foi o doutor Drauzio quem explicou a importância da disciplina, e como a rotina é mais decisiva que a força de vontade. O corredor sai da cama porque está acostumado, porque o tênis e a roupa já estão separados e porque não se questiona se deve correr ou não. Não dá tempo de ter dúvida. Depender apenas da força de vontade, sem um método ou uma rotina, é um convite para retornar ao sedentarismo.

Aprendi com o doutor Drauzio que sentir preguiça era normal. Afinal, são centenas de milhares de anos de evolução da espécie humana programando nosso código genético para economizar energia, em vez de gastá-la. "Alguém já viu uma onça no zoológico dando um pique depois do almoço para perder a barriga?", escreveu.

Foi o doutor Drauzio quem disse que estava tudo bem beber uma taça de vinho ou fazer um almoço em família na véspera de uma corrida importante. Somos atletas amadores, e o mais importante é manter a rotina e aproveitar a corrida. O prêmio do amador é cruzar a linha de chegada fisicamente bem e feliz.

O doutor Drauzio ensinou que desistir de uma prova nunca é uma opção para o corredor, mas às vezes é uma necessidade. No dia seguinte a vida recomeça.

Em uma das passagens mais marcantes do livro, o doutor Drauzio descreve a emoção de cruzar a linha de chegada de uma maratona ao lado da filha. Lembrei do texto quando percorri os últimos 200 metros da maratona de mãos dadas com meu filho de 4 anos.

Parabéns pela conquista, doutor Drauzio. Todo corredor sabe que é só uma medalha, mas não é só uma medalha. É muito mais. Quem sabe não seja essa a inspiração que faltava para eu correr atrás da minha mandala?

PS: Aproveito o texto para saudar a incrível Denise Amaral, que ganhou a sua terceira mandala em Londres. Ela já correu 161 maratonas, sendo 27 vezes em Nova York, 6 em Tóquio, 4 em Berlim, 4 em Chicago, 3 em Londres e 3 em Boston. Outra enorme inspiração para qualquer corredor.

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