Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Como se preparar para uma corrida fora do país? Veja dicas de quem correu 164 maratonas

Chegue antes (mas não muito!), faça um seguro e evite os temperos locais são alguns dos conselhos de Denise Amaral.

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Rodrigo Flores
Cartagena (Colômbia)

Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?

A minha resposta é fácil. Na semana passada, eu participei da minha primeira corrida de rua fora do Brasil. A convite da Asics, que aproveitou o evento como plataforma de lançamento do tênis Nimbus 25, corri 10 quilômetros na Media Maratón del Mar, em Cartagena, no litoral colombiano.

Corredor é naturalmente um bicho ansioso. Basta ver a apreensão dos atletas pouco antes do início de uma prova. Alguns conseguem disfarçar o nervosismo. Outros, nem tentam mais. A viagem para o exterior potencializa o frio na barriga. É como se as borboletas dentro do meu estômago disputassem uma maratona que não termina nunca. Clima, comida, idioma. Todas as delícias e descobertas do turista tornam-se potenciais ameaças para o desempenho do atleta, seja ele profissional ou amador, como eu.

Corredores participam da Maratona de Nova York, em 6 de novembro de 2022
Corredores participam da Maratona de Nova York, em 6 de novembro de 2022 - Michael Nagle/Xinhua

Antes de embarcar para a Colômbia, segui a cartilha do bom jornalista e procurei um especialista sobre o assunto. Conversei com a carioca Denise Amaral, um ícone das corridas de rua no Brasil. Ela já completou 164 maratonas e é a única mulher do mundo a ter três mandalas das Majors. Para quem não sabe, a mandala é uma medalha especial entregue aos corredores que completam as seis principais maratonas do mundo (Nova York, Chicago, Boston, Tóquio, Londres e Berlim). Em novembro, Denise vai correr a sua 29 maratona de Nova York.

Abaixo, separei as principais dicas da Denise. Foram muito úteis para mim, e podem ajudar os próximos marinheiros de primeira viagem. Vamos a elas.

Faça um seguro

Denise foi incisiva sobre a principal prioridade para o corredor-viajante. "Os seguros são baratos, simples de contratar, e podem salvar você de enrascadas", afirma. Ela lembra que certa vez, na Espanha, seu marido caiu e teve uma grave lesão no quadríceps. Ela só foi reencontrá-lo de noite, na maca de um hospital público local. "Só a passagem de retorno para ele custaria 8 mil euros". Convenhamos, um seguro que custa no máximo algumas centenas de reais. Ou seja, representa um custo irrisório perto das outras despesas envolvidas na viagem.

O seguro é especialmente importante no caso da corrida, uma atividade que leva o físico ao limite. A simples participação em uma prova naturalmente aumenta o risco da viagem e, consequentemente, a necessidade de proteção.

Um outro motivo para contratar seguros é que eles costumam cobrir outros perrengues, como extravio de bagagem, por exemplo. Ninguém quer ficar horas ou dias que antecedem uma corrida usando a mesma roupa, certo?

Alguns cartões de crédito oferecem seguro-viagem para seus clientes. Antes de embarcar, é importante verificar as regras e as coberturas. Em geral, as bandeiras exigem que o cliente compre a passagem aérea com o cartão para ser elegível ao benefício. A maioria também solicita que a apólice seja emitida antes da viagem – embora seja algo simples, requer alguma organização e planejamento do viajante.

Leve o mais importante com você

Denise conta que já teve a bagagem extraviada antes das maratonas de Lisboa, Berlim e Londres. Se a corrida é o principal motivo da viagem, por que arriscar a participação na prova por conta de um contratempo? "Não corro mais riscos. Prefiro levar o tênis comigo no avião", afirma.

Chegue próximo à data da corrida

Em uma prova internacional, o ideal é chegar dois ou três dias antes. "Em uma corrida no domingo, em outro continente, chegue na quinta ou na sexta-feira. Com isso você tem tempo de descansar, curtir os eventos que antecedem a prova, retirar seu kit com calma e fazer uma boa prova", recomenda Denise.

Chegar muito antes, pode? Denise desaconselha. "Você naturalmente vai querer aproveitar o tempo livre para fazer turismo, caminhar, experimentar comidas diferentes. E essa mudança de rotina pode comprometer o seu desempenho. Lembre-se que há espaço para tudo isso, mas prefira fazer depois da corrida".

Se mesmo num calendário apertado sobrar tempo livre para turismo, prefira atividades que não sejam fisicamente cansativas. "Eu opto por ônibus turísticos. Assim consigo passear e, ao mesmo tempo, economizo as pernas para a corrida".

Cuidado com a alimentação

Conhecer um outro país inclui necessariamente experimentar alimentos e temperos típicos – e, às vezes, exóticos. Cuidado com seu trato digestivo antes da prova. "Macarrão é algo que você encontra em qualquer lugar do mundo. Deixe as delícias locais para depois da corrida". Além de pasta, Denise cita pão e queijo como alimentos de baixo risco para o corredor,e que são acessíveis a qualquer atleta.

Converse com quem já participou da prova

Aproveite o conhecimento dos outros a seu favor. "Tente achar alguém que já correu a prova da qual você vai participar. Não tente desbravar tudo sozinho." Ela lembra que há grupos de WhatsApp de brasileiros que correm a maratona de Nova York, por exemplo. "Eu corro desde antes de surgirem as redes sociais. Agora ficou muito mais fácil encontrar pessoas que já viveram a experiências semelhantes antes de você, e que podem dar dicas preciosas e específicas sobre aquele evento". A troca de informações também ajuda a reduzir a ansiedade, que é naturalmente alta em qualquer corrida fora do país.

Tente se hospedar perto da largada

No dia da prova, o ideal é economizar energias antes da largada. "Tento sempre me hospedar perto do ponto de início da corrida. Depois que a prova terminar, a gente dá um jeitinho pra voltar", conta Denise. Claro que essa regra vale caso ela não comprometa o orçamento (não raro as corridas começam em lugares icônicos – e caros – da cidade) e fica ainda mais desejável quando largada e chegada são no mesmo ponto.

Estique ao máximo a viagem

Viajar é caro, e nem só de corrida vive o atleta amador. "A viagem começa antes do embarque. Curta o planejamento, pesquise, leia, desperte a curiosidade. E, depois que a corrida terminar, estique ao máximo possível a sua estadia. Faça valer o investimento emocional e financeiro. Sem falar que você vai construir recordações lindas e associá-las ao ato de correr".

O jornalista Rodrigo Flores viajou a convite da Asics.

Erramos: o texto foi alterado

Denise Amaral correu 164 maratonas, e não "apenas" 156, como anteriormente publicado. E dependendo de quando você ler este texto, certamente o número estará maior. O texto original foi corrigido.

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