Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Eliud Kipchoge não baterá o recorde mundial da maratona em Boston. Entenda o porquê

Apesar de ser a mais tradicional maratona do mundo, a prova de Boston não cumpre as regras da World Athetics

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Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

Eu não tenho bola de cristal, mas afirmo com convicção: o queniano Eliud Kipchoge não baterá o recorde mundial após percorrer os 42 quilômetros da maratona de Boston, na próxima segunda (17).

Para quem não sabe, um breve resumo das conquistas de Kipchoge. Ele é o único ser humano a percorrer a distância em menos de 2 horas. Ele alcançou a marca de 1h59min40 em um evento fechado promovido pela Nike, em 2019. Em provas oficiais, ele estabeleceu o recorde em Berlim, no ano passado, com o tempo de 2h1min9s.

Apesar de ser a mais tradicional e respeitada maratona do mundo, com mais de um século de tradição, a prova de Boston não atende às regras da World Athletics (antiga Federação Internacional de Atletismo) para a homologação de recordes.

Explico.

A principal entidade do atletismo mundial define critérios para validar um recorde. Em disputas de salto, por exemplo, o vento não pode soprar com força a favor do atleta, sob risco de influenciar o desempenho. O mesmo vale para as provas de velocidade, como os 100m rasos.

Maratonas acontecem em lugares diferentes do mundo, com suas peculiaridades climáticas e topográficas. Uma corrida em Tóquio é diferente de uma prova na Patagônia, que não tem nada a ver com a maratona de São Paulo. Basicamente, esses eventos só têm em comum o fato de exigirem que o atleta percorra 42.195 metros.

Eliud Kipchoge celebra vitória e recorde mundial na maratona de Berlim, em setembro de 2022 - Xinhua

Na tentativa de nivelar a vantagem que os atletas podem ter em determinados percursos, a World Athetics estabelece dois critérios para a homologação do recorde. O primeiro diz respeito aos pontos de largada e chegada. A WA prefere percursos circulares, quando largada e chegada acontecem no mesmo local. Isso garante que os atletas sobem e descem o mesmo número de metros, sem obter vantagem topográfica. Mesmo assim, segundo as regras vigentes, são considerados percursos homologados para a quebra de recordes mundiais aqueles em que os pontos de partida e de chegada estejam a menos de 50% de distância um do outro (ou seja, a menos de 21km no caso das maratonas, e a 10,5km para as meia-maratonas).

A segunda regra diz respeito à topografia. Para que os atletas não se beneficiem de longas descidas, a WA estabelece que a variação de altimetria não pode ser negativa em mais de 1 metro por quilômetro de prova. No caso da maratona, a largada não poderia estar a uma altitude superior a 42 metros da chegada.

As regras completas em inglês estão aqui, para quem tiver curiosidade: https://www.worldathletics.org/records/recordsrules

A maratona de Boston não cumpre esses critérios. A prova começa fora da cidade. A largada acontece no município rural de Hopkinton, e dali os atletas percorrem estradas da Nova Inglaterra até a chegada no centro de Boston. Além disso, entre sobe e desce de morros e ladeiras, a altimetria do percurso é negativa em quase 150 metros – ou seja, praticamente o triplo do limite estabelecido pela WA.

Agora, se o querido leitor me perguntar se Kipchoge vai correr abaixo de 2 horas, ou se fará um tempo menor do que a marca estabelecida em Berlim, eu lembro o que disse na primeira frase deste texto: eu não tenho bola de cristal.

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