Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Mizuno altera formato do solado e anuncia 3ª revolução dos tênis de corrida

Novo Wave Rebellion Pro induz corredor a pisar com a parte central do pé

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Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

"Estamos diante da terceira revolução dos tênis de corrida".

A frase é forte, e foi dita por alguém que sabe do que está falando. Com o microfone em mãos, um dos responsáveis pelo desenvolvimento de produtos da Mizuno, Shunsuke Aoi, apresenta para jornalistas, corredores e influenciadores o novo Wave Rebellion Pro, primeiro tênis com placa de carbono da centenária fabricante de material esportivo.

Para quem não está habituado à tecnologia dos tênis de corrida, vale dar dois passos para trás e entender onde estão os focos de desenvolvimento. A primeira revolução a qual ele se refere é a introdução das placas semi-rígidas, geralmente de carbono, na entressola dos tênis. Essas placas devolvem energia e alongam a pisada, otimizando a mecânica de corrida. O ganho de desempenho é tamanho que a World Athetics, entidade responsável por regular o atletismo mundial, cogitou proibir o uso do equipamento, equiparando-o ao doping.

A segunda é a evolução na tecnologia de espuma de EVA responsáveis pelo amortecimento. Apesar de não serem novidade, esses compostos pesam cada vez menos e oferecem maior responsividade e conforto para os corredores.

Mas, em sua apresentação, Shunsuke Aoi chamava a atenção para outra característica que, para ele, era igualmente disruptiva. Na tela, ele mostrava a estrutura da sola do Rebellion Pro, com um formato de cunha na área do calcanhar. Segundo a Mizuno, esse desenho induz o corredor a aterrissar menos com o calcanhar, e mais com o centro do pé.

Incluí abaixo uma foto do tênis para ficar mais claro. Note como parece faltar um pedaço do tênis na região do calcanhar. Esse é o formato que a Mizuno chama de terceira revolução.

Mizuno Wave Rebellion Pro
Novo Mizuno Wave Rebellion Pro tem solado que induz aterrissagem do corredor com o centro do pé - Divulgação

"O objetivo é mudar o centro de gravidade do corpo e fazer com que a aterrissagem aconteça na área central do pé. Com isso a mecânica de corrida consome menos energia e o atleta tem mais reservas para os momentos finais da prova", explicou Shunsuke Aoi.

De fato, um olhar mais atento nos chamados supertênis revela uma tendência. Os solados deixaram de ser retos e passaram a ajudar no processo de projeção do corpo para a frente. Nike e Adidas, cada um com suas peculiaridades, estão entre as fabricantes que já oferecem modelos com essa característica.

Moda ou tendência?

É importante dizer que o solado redesenhado ainda está restrito aos tênis de performance. Modelos de entrada ou desenvolvidos para treinos mais curtos, rodagem ou que privilegiam o amortecimento costumam ser mais estruturados, com formatos mais tradicionais.

Isso acontece porque solados retos dão mais conforto e estabilidade no dia a dia. Já durante uma prova, quando o objetivo é manter o corpo em movimento, a instabilidade joga à favor do corredor, que se beneficia dessa projeção do corpo para a frente. É por isso que você raramente vai encontrar alguém passeando no shopping com um supertênis. É o desconforto mais caro que o dinheiro pode comprar para os seus pés.

Segundo explicou a fisioterapeuta e mestre em biomecânica Raquel Castanharo em suas redes sociais, o novo formato reduz o impacto na região do calcanhar e transfere o esforço para os glúteos. Ou seja, de uma forma ou de outra, o esforço feito pelo corredor será o mesmo – o que muda é o grupo muscular envolvido no deslocamento do corredor. Vantagem para alguns, desvantagem para outros.

E isso é bom ou ruim? Para o professor de biomecânica da USP, Julio Serrão, ainda é cedo para dizer. "Não costumo ver com bons olhos os movimentos que alteram a mecânica natural de corrida das pessoas". Ele admite desconhecer estudos científicos que comprovem a eficiência dessa nova dinâmica de calçado.

"A contribuição do tênis para a impulsão e absorção de impacto é muito pequena quando comparada com a capacidade de amortecimento e de propulsão das nossas pernas", afirma Serrão.

Com o perdão do trocadilho, a tecnologia dos tênis de corrida tem evoluído a passos largos nos últimos anos. Basta ver a quantidade de atletas que conseguem correr maratonas e meias maratonas em tempos antes considerados impossíveis. Para essa elite, ganhar alguns segundos pode fazer a diferença. Mas, para o atleta comum, o que mais importa não é o supertênis. "O treinamento duro e comprometido continua sendo a melhor forma de melhorar a performance de um corredor", afirma Serrão.

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