Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores

Com inscrições esgotadas desde janeiro, Maratona do Rio segue com mais centro e menos orla

Em entrevista, diretor da maratona mais desejada do país diz ser difícil acomodar mais atletas

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Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

"Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental".

Até onde se sabe, Vinicius de Moraes não era maratonista. Mas a sua frase reproduzida acima representa o pensamento de milhares de corredores brasileiros que sonham percorrer os 42 km mais clássicos do atletismo. E, ainda que gosto não se discuta, é consensual afirmar que poucas cidades encantam tanto os olhos de quem vem e que passa quanto o Rio de Janeiro.

A Maratona do Rio de Janeiro é a mais desejada do Brasil. O tamanho desse desejo pode ser medido pela procura por kits. Enquanto muitos organizadores pelo Brasil sofrem para vender seus ingressos, as inscrições para a edição deste final de semana no Rio acabaram em janeiro – ou seja, há quase seis meses.

"Em maio, oferecemos 893 vagas excedentes para as distâncias de 5k e 10k. As inscrições se esgotaram em 10 minutos", conta, orgulhoso, o diretor da prova, João Traven.

Neste final de semana, 18 mil privilegiados correrão a meia maratona, e 6 mil farão a prova de 5k. No domingo, são 10 mil na maratona e outros 6 mil nos 10k. Há ainda 2 mil abnegados que tentarão o desafio de correr 21k no sábado e outros 42k no domingo.

Atleta corre ao nascer do sol com o Pão de Açúcar ao fundo
Maratona Internacional do Rio acontece neste final de semana - Divulgação

Se a maratona é tão requisitada, por que simplesmente não aumentar o número de inscrições? "Estamos no limite", explica João. "Uma maratona maior pode ameaçar a experiência do corredor, e isso eu não quero".

A maratona do Rio de Janeiro terá transmissão pela ESPN no domingo, a partir de 5h. O percurso é praticamente o mesmo do ano passado, com menos orla e mais centro.

Outra atração é a presença de Daniel Nascimento na meia maratona. Danielzinho, como é conhecido, é considerado o melhor maratonista das Américas em atividade.

Abaixo, um resumo da minha conversa com o João Traven.

Há margem para crescer esses números?
Sábado dá para aumentar. O percurso suporta mais gente. No domingo, com a maratona, eu tenho um problema com o trajeto do centro. A região do Museu do Amanhã, por exemplo, não é muito larga. Não posso colocar muita gente ali. Para oferecer uma experiência boa para o corredor, não consigo passar muito do número atual de participantes.

No passado a prova era maior…
Quando a largada era no Recreio dos Bandeirantes, chegamos a ter 13 mil pessoas. Hoje, só se mudar o percurso e tirar esses gargalos no centro. Mas, na minha opinião, isso implicaria em sacrificar a beleza do percurso atual, algo que não está em discussão.

Mas as majors são grandes…
Berlim e Nova York tem avenidas grandes. As largadas acontecem em muitas ondas. É uma outra proposta de prova.

A Maratona do Rio mudou o percurso nos últimos anos. Antes saía do Recreio dos Bandeirantes, agora está mais perto da Zona Sul e Centro. Com você compara esses dois percursos?
Gosto não se discute. Tem gente que diz não gostar mais da prova porque adorava o longo trecho na orla. Tem gente que prefere o centro, diz que o percurso ficou mais rápido e reclama se eu mudar. A verdade é que dois terços dos participantes da maratona não moram no Rio. A beleza do circuito é um aspecto fundamental em uma prova aqui. É comum você ver atletas parando a corrida para tirar fotos. Isso torna a nossa prova especial.

E quais os planos para as próximas edições?
A nossa ambição é sempre fazer desta a maratona mais cobiçada do Brasil, da América do Sul. Temos o desejo de aumentar o evento e fazer com que sejam 3 dias, aproveitar o feriado, engajar o corredor e toda a sua família.

Como as autoridades auxiliam a organização da prova?
Acabo de ter uma reunião com todos os órgãos. Secretário de eventos, responsáveis pelo trânsito, etc. O município não coloca dinheiro diretamente na prova, mas ajuda nos isentando de algumas taxas e melhorando a questão logística. Pedimos o fechamento antecipado do Aterro do Flamengo, algo que tem impacto para a cidade, mas ajuda na organização. Fomos atendidos em nossas solicitações. No fundo, a prefeitura tem a sensibilidade de quem temos um impacto positivo para o turismo e para a economia da cidade. Você ouve dos motoristas de aplicativo: "Não dá para fazer umas 3 dessa por ano"?

E em relação aos corredores de elite, qual o desafio?
Para a elite, o que conta mesmo é a velocidade do percurso e a premiação. Vamos pagar R$ 50 mil para o vencedor, ou seja, 10 mil dólares. Isso sem contar o custo para trazer um atleta de ponta, as despesas relacionadas, cachês e etc. Neste ano, além dos nomes internacionais na maratona, teremos o Danielzinho (Daniel Nascimento), o melhor maratonista das Américas, participando dos 21k.

Além do turismo, como a maratona ajuda a cidade?
Temos três ONGs que recebem parte do valor das inscrições. Parte do trabalho delas é ajudar a financiar projetos de formação para atletas olímpicos. No passado, chegamos a distribuir inscrições para instituição de caridade, assim elas poderiam rifar ou leiloar e conseguir recursos adicionais.

E a experiência?
Agora são três dias para a retirada de kit na Marina da Glória, para deixar a tarefa mais cômoda para o corredor. Também criamos uma entrega de kit VIP no Shopping Leblon, com uma experiência diferenciada, estrutura legal e estacionamento.

Qual a principal mudança em relação ao ano passado?
Sábado não é feriado. O trajeto até o Leme tumultuava um pouco a rotina da cidade, além de haver um estreitamento de via para o corredor. Neste ano estamos tirando o Leme e aumentando o percurso no centro.

Passávamos em uma pequena rua no centro com vários quebra-molas. Tiramos essa rua também.

A Maratona do Rio acontece uma semana depois da prova de Porto Alegre. Duas corridas desse porte separadas por tão poucos dias não enfraquece os dois eventos?
Todos os anos o pessoal de Porto Alegre me liga perguntando se manteremos a prova no feriado de Corpus Christi. A resposta é sempre sim. E então eles confirmam a corrida uma semana antes. Entendo que poderíamos conversar e pensar em algo em conjunto. Quem sabe uma promoção para quem quer correr as duas provas, por exemplo?

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