Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Por que a Maratona de Porto Alegre é considerada a mais rápida do Brasil?

Temperatura mais baixa, percurso plano ao nível do mar e avenidas largas influenciam no desempenho dos corredores

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Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

"Vou pra Porto Alegre, tchau".

A música "Deu Pra TI", da dupla Kleiton e Kledir, tornou-se uma espécie de hino da capital gaúcha – uma "Sampa" dos pampas. E o refrão virou um grito de guerra para maratonistas amadores e profissionais que querem estabelecer novos recordes pessoais e conseguir índice para provas no exterior. A viagem para Boston faz escala em Porto Alegre.

Neste final de semana, 6 mil pessoas vão encarar as avenidas às margens do rio Guaíba na Maratona Internacional de Porto Alegre, em um dos maiores eventos esportivos do Sul do Brasil. Muitos vão correr com os olhos no relógio, tentando melhorar suas marcas – eu, inclusive.

O que faz de Porto Alegre a meca brasileira do recorde pessoal? De bate-pronto, consigo enumerar cinco bons motivos. Vamos a eles.

Temperatura

Corredor acorda cedo por uma boa razão: e, pasmem, não é por gosto. Um dos fatores que mais influenciam no desempenho durante uma corrida é o clima mais fresco. Segundo o artigo científico "Efeitos dos Parâmetros Climáticos no Desempenho de Corrida de Resistência: Análise Específica da Disciplina de 1258 Corridas", a temperatura do ar e é o fator mais importante para um bom desempenho esportivo, ficando à frente da umidade relativa do ar, da incidência do sol e da velocidade do vento. A explicação é fisiológica. Correr no calor aumenta a desidratação, o esforço percebido, reduz a eficiência energética, estimula a fadiga muscular precoce e provoca eventuais danos nos tecidos. Segundo o mesmo estudo, os melhores desempenhos em maratona acontecem em temperaturas do ar entre 10 e 17 graus.

Em junho, a temperatura média de Porto Alegre fica entre 11 e 21 graus Celsius. É fresco o bastante na largada, sem esquentar demais no transcorrer da prova. Para ajudar, nesta época do ano o sol nasce só às 7h15 da manhã, o que retarda o aquecimento do ar. Sorte do corredor.

Corredores no asfalto com céu sem nuvens ao fundo
Maratona de Porto Alegre é considerada a mais rápida do Brasil - Divulgação

Calendário

Atleta amador também é gente. Salvo exceções, a maioria tira férias, come tudo no Natal, celebra o Ano Novo e entrega-se às festividades do rei Momo. O ditado que o ano só começa depois do Carnaval vale também para os corredores. Isso faz de junho o mês ideal para a realização de uma maratona. O atleta consegue conciliar o confete e a serpentina com o ciclo completo de 12 semanas de treinamento para a prova.

Nível do mar

Quanto mais baixa a altitude, mais ar para você respirar.

Para quem esqueceu ou cabulou a aula, vou resumir rapidamente o que aprendemos em ciências do ensino médio. Em altitudes mais elevadas, o ar se torna menos denso e contém menos moléculas de oxigênio. Ou seja, a cada inspiração, menos oxigênio entra em nossos pulmões. Para compensar, o coração precisa bater mais rápido e aumentar a circulação de sangue no corpo. Mais esforço para chegar no mesmo resultado.

O inverso é verdadeiro. Ao nível do mar, há abundância de oxigênio. Quase um doping da natureza para quem está acostumado a correr na altitude. Com bastante origênio, os atletas conseguem melhores desempenhos. Não é coincidência que os quenianos treinem em terrenos com altitudes que chegam a 2500m acima do nível do mar.

Prova plana

"Qual a altimetria da prova"? Essa é uma pergunta recorrente entre maratonistas. Na prática, o que interessa ao atleta é se ele vai subir e descer ladeiras o tempo todo ou se vai correr em um terreno majoritariamente plano.

O impacto da altimetria nos resultados é facilmente verificável: maratonas como Berlim, Tóquio e Londres costumam produzir tempos espetaculares e, eventualmente, recordes mundiais. Já Boston e Nova York, apesar da tradição, são vencidas com tempos piores devido aos morros e às pontes presentes no trajeto. Ponto para Porto Alegre, que leva enorme vantagem nesse critério em relação às maratonas de São Paulo, por exemplo.

Avenidas largas

Boa parte da Maratona de Porto Alegre acontece na orla do Guaíba, com vias largas que não geram gargalos para os corredores. Quem já correu a São Silvestre sabe como a fluidez pode ser prejudicada por conta de estreitamento de pista. Na capital gaúcha, tirando a largada, onde é natural haver alguma lentidão, o corredor tem pista livre pela frente para dar o seu melhor.

E você, já correu a maratona de Porto Alegre? Escreva nos comentários ou escreva para blognacorrida@gmail.com. Se preferir, me manda mensagem no Instagram @rodrigofloresnacorrida.

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