Na Corrida

Pé na estrada, mesmo quando não há estrada

Na Corrida - Rodrigo Flores
Rodrigo Flores
Descrição de chapéu atletismo

Azar e negligência: combinação coloca em risco frequentadores de parque em SP

Prefeitura de SP identifica árvore seca, mas não isola área; galho cai em pista de corrida em pleno sábado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rodrigo Flores
São Paulo (SP)

Azar e negligência. Sozinhos, esses elementos podem resultar em acidentes. Mas quando eles se encontram, a tragédia é certa. Vale para o Titanic, para o Concorde e para a nossa rotina doméstica.

Quando só um desses elementos dá as caras, há uma chance de o acidente não acontecer.

Foi o que testemunhei na semana passada.

Sou frequentador do Parque da Aclimação, em São Paulo. Ele tem uma pista ampla ao redor de um lago com garças, é bem arborizado e relativamente vazio nos dias úteis. A faixa de asfalto forma um circuito de quase 1km, ideal para quem treina com planilha, como eu. Precisa correr 10 km? Só dar 10 voltas. Uma belezinha de lugar, recomendo.

No sábado passado (1º/7) eu corria no Parque da Aclimação quando fui surpreendido por um galho de aproximadamente 3,5m estatelado na pista de asfalto. Como demoro mais ou menos 5 minutos para dar uma volta completa, conclui que aquele pedaço de madeira tinha acabado de cair.

Imagine o estrago que poderia causar um pedaço de madeira de uns 30 quilos (estimativa minha ao levantar o galho) despencando de uma altura de 10 metros. Por sorte, não havia ninguém entre o galho e o chão na hora do incidente. Reforço aqui que foi muita sorte, considerando o movimento do parque em uma manhã ensolarada de sábado.

Galho quebrado espalhado em pista de asfalto com árvores ao fundo
Galho de 3,5m cai sobre pista de asfalto do Parque da Aclimação no sábado (1º/7). Por sorte, ninguém se feriu - Rodrigo Flores

Não havia pessoas, mas havia fios. Eles foram puxados, e quase derrubaram dois postes metálicos que os sustentavam. Conto isso apenas para ilustrar a violência da queda.

Ninguém se machucou. Foi sorte, pura sorte. Essa parte você provavelmente já entendeu. Agora vou tratar de outro ponto: a negligência.

Assim que vi o galho no chão, questionei os seguranças do parque se não deveria haver uma interdição no local, até que uma avaliação revelasse que aquela árvore seca não representaria mais risco aos frequentadores. Recebi resposta de que haveria um isolamento, dei-me por satisfeito e fui embora.

No domingo, voltei ao parque. Pessoas caminhavam debaixo da referida árvore, inconscientes do risco que o passeio poderia representar. O tronco foi removido para o canto da pista, o asfalto estava limpo, e a vida seguiu como se nada houvesse acontecido.

Fiquei puto. Fui à administração do parque, me identifiquei como frequentador do local – sou mesmo – e questionei se não deveria haver uma interdição ou, pelo menos, um alerta para quem passava no local. O "responsável" pela administração disse que não, e deu algumas das piores explicações que meus ouvidos já escutaram. Vou omitir os detalhes em respeito ao fígado do querido leitor.

Fiquei mais puto ainda. Incrível como o cidadão comum pode ser ignorado pelas autoridades simplesmente por ser o que é -- um cidadão comum. Desta vez, me identifiquei como jornalista – sou mesmo – e repeti a pergunta sobre a interdição. Ele foi firme em dizer que não fecharia o trecho. Cinco minutos depois, a quantidade de cones e fitas no trecho onde está a árvore deixariam no chinelo qualquer operação da CET.

Questionei a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) sobre o ocorrido. Em nota, a SVMA afirma que "todos os parques municipais são vistoriadas mensalmente, às vezes mais de uma vez". A nota diz ainda que "houve vistorias nos dias 21 e 28 de junho, e no referido mês foram realizadas podas em 13 exemplares arbóreos, sendo que a árvore em questão está com laudo de supressão previsto para ser atendido na próxima semana".

Com a nota, a SVMA reconhece que o laudo recomendava o corte da árvore – ou "supressão", na linguagem técnica. Entendo que a operação não possa ser feita de imediato, dado o tamanho da cidade de São Paulo. Mas a área debaixo da árvore não deveria ter sido isolada preventivamente, já que o "exemplar arbóreo" estava seco e condenado, com risco de cair? Isso a nota não esclarece.

Depois de ler tudo isso, você deve estar se perguntando: afinal, o que aconteceu no Parque da Aclimação? Nada. Não aconteceu nada. Ninguém se feriu, todos ficaram bem.

Mas fica um ponto para reflexão. Lembra no início do texto, quando escrevi que tragédias são resultado de azar e negligência? Desta vez, só não aconteceu o pior porque a sorte estava do lado dos frequentadores do Parque.

Até quando vamos depender só da sorte?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.