Erling Haaland, norueguês de 22 anos nascido na Inglaterra, é o atacante de maior relevância até aqui nesta temporada.

O jogador do Manchester City voltou a brilhar no domingo (2), quando, no clássico com o Manchester United no Campeonato Inglês, marcou três gols e ainda deu duas assistências na goleada por 6 a 3.

Com esses tentos, ele soma na Premier League 14 gols em oito jogos. Na Champions League, são três gols em dois jogos. No geral, 17 gols em dez escalações e a espetacular média de 1,7 por partida.

Desde a época de Borussia Dortmund (Alemanha), quando Haaland faz gol, narradores apressam-se em chamá-lo de "cometa Haaland", em alusão ao famoso cometa Halley. Jornalistas também o fazem em seus textos e crônicas.

É sonoro? Sim. (As pronúncias, Ráland e Rálei, são parecidas.) É impactante? Ô. É lúdico? Também. Porém nada pode estar mais errado do ponto de vista comparativo.

A intenção dos narradores, e também de outros que falam ou escrevem "cometa Haaland", é enaltecer o atacante, transmitir a mensagem de que ele é grandioso, mágico, encantador. E ele tem sido isso mesmo.

Porém é necessário outro termo, pois cometa está a uma distância astronômica de ser adequado –Menon, colega jornalista, abordou o tema um tempo atrás, no UOL.

Vamos a alguns dicionários, para a definição de cometa no sentido figurado, que é o que interessa no contexto deste texto.

• Aulete: Pessoa, animal ou coisa que surge e desaparece numa passagem breve e efêmera.
• Houaiss: Pessoa, animal ou coisa muito rápida, que surge e some de repente.
• Michaelis: Qualquer coisa ou pessoa que aparece e desaparece rapidamente.
• Priberam: Pessoa ou coisa que aparece e logo desaparece.

Assim, Haaland só poderia ser classificado como um cometa se sua passagem pelo futebol, ou por um time de futebol, fosse ela boa ou ruim, durasse muito pouco, somente alguns jogos ou um curto período de tempo (dias ou semanas).

O camisa 9, 1,95 m, bom cabeceador, canhoto, hábil no posicionamento, dono de boa mobilidade, centroavante autêntico, com grande presença de área, chama a atenção do planeta futebol há pelo menos três temporadas.

Haaland surgiu. Só que não sumiu. Então pode-se classificá-lo com o uso de várias palavras, mas essa palavra não pode ser cometa.

O rabo de cavalo do jogador, além da sua lourice, até colabora para uma almejada comparação visual, pois cometas são conhecidos pela cauda reluzente da cor do fogo.

Mas não! Paremos. Pelas razões expostas, "cometa Haaland" não funciona.

Deseja-se equipará-lo figurativamente a um corpo celeste? Que seja "estrela Haaland". As estrelas ocupam de forma fixa um lugar no universo e emanam luz própria. Faz muito mais sentido.

Sobre o cometa Halley, batizado em homenagem ao astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742), ele é o mais conhecido que existe. É visível na Terra a cada, aproximadamente, 76 anos.

Eu olhei para o céu em 1986, para vê-lo, havia um interesse enorme de muita gente em admirá-lo. Porém não vi, e consta que quase ninguém viu, diferentemente de 1910, quando o Halley foi uma grande atração.

A ciência explica. Nessa passagem mais recente, 36 anos atrás, o cometa e a Terra estavam em lados opostos do Sol, o que tornou desfavorável a observação.

Nessa circunstância, o cometa Halley, para mim, que tinha à época 13 anos, não foi sequer efêmero. Inexistiu.

Já Haaland existe, e como. Semana após semana, às vezes duas vezes no intervalo de sete dias, ele está em campo deixando um rastro de luminosidade, que a cada dia conquista mais admiradores.

A lamentar, somente sua ausência da Copa do Mundo deste ano. A Noruega não se classificou, e sem ela o Mundial fica também sem uma estrela.

A "estrela Haaland", aí sim, sendo que "estrela" funciona nesse caso como sinônimo de "astro", que é o que o centroavante já se tornou na Inglaterra e caminha –não como um cometa, mas com sua velocidade– para se tornar no mundo.