O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Portas estão fechadas para técnicos negros, diz técnico negro da Premier League

Campeão como jogador na Copa-1998, Vieira é um dos 2 únicos treinadores com sua cor de pele nas 5 principais ligas europeias

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Close de Patrick Vieira, do Crystal Palace, único treinador negro na divisão de elite do futebol da Inglaterra
Patrick Vieira, do Crystal Palace, é o único treinador negro na divisão de elite da Inglaterra (Premier League) - Glyn Kirk - 9.out.2022/AFP

Volante campeão do mundo com a França na Copa de 1998, Patrick Vieira parou de jogar em 2011 e partiu, um tempo depois, para a carreira de treinador.

Vieira acreditou em seu potencial e decidiu meter as caras em um terreno avesso a gente como ele. Negros técnicos de futebol são exceção.

Tanto que ele é o único treinador negro entre os 20 empregados na Premier League, o campeonato inglês, que é a mais badalada competição nacional no mundo atualmente, tendo como técnicos mais famosos Pep Guardiola (Manchester City), Jürgen Klopp (LIverpool) e Antonio Conte (Tottenham).

Isso sendo que, do total de jogadores que disputam a Premier League, mais de quatro de cada dez (43%) são negros.

"Eu acredito que as portas não estão abertas para nós [treinadores negros] fazermos o que somos capazes e entrar na gestão", declarou Vieira à BBC. "Quando falo de gestão, falo da equipe e também de posições superiores."

Nas cinco principais ligas europeias (Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França), que juntas possuem 98 clubes, há somente dois técnicos negros: Vieira, 46, no Crystal Palace, e outro francês, Antoine Kombouaré, 58, no Nantes.

Com terno preto e camisa branca, o treinador do Nantes, Antoine Kombouaré, que é careca e negro, olha jogo do Campeonato Francês contra o Brestois
O treinador do Nantes, Antoine Kombouaré, durante jogo do Campeonato Francês contra o Brestois - Sebastien Salom-Gomis - 16.out.2022/AFP

Só a Premier League tem o levantamento dos jogadores negros que a disputam, mas no "olhômetro" é fácil perceber que há dezenas deles defendendo os clubes em outros campeonatos, diferentemente do que se observa nas pranchetas.

Por exemplo, o Bayern de Munique, principal força do futebol alemão, tem no elenco Mané, Gnabry, Sané, Coman, Upamecano, Davies, Gravenberch e Sarr. Todos negros, comandados pelo branco Julien Nagelsmann.

O Napoli, líder do Italiano, conta em suas fileiras com Osimhen, Ndombelé, Zambo Anguissa e Juan Jesus. Todos negros, dirigidos pelo branco Luciano Spalletti.

No elenco do Real Madrid, atual campeão da Champions League e que ponteia o Espanhol, há Vini Jr., Alaba, Camavinga, Mendy, Éder Militão, Rüdiger e Tchouaméni. Todos negros. O técnico dos merengues é o branco Carlo Ancelotti.

O cenário se repete no Brasil, onde boa parte dos jogadores é negra ou parda.

Na elite do Campeonato Brasileiro, que tem 20 times, somente dois técnicos são negros: Jair Ventura (filho de Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970), no Goiás, e Orlando Ribeiro, no Santos, este com status de interinidade.

Jair Ventura, com o braço direito esticado e com o dedo indicador apontando para o alto, acompanha jogo do Goiás contra o Corinthians no Campeonato Brasileiro; ele usa roupa com o escudo do time goiano na altura do coração
Jair Ventura acompanha jogo do Goiás contra o Corinthians, em São Paulo, no Campeonato Brasileiro - Amanda Perobelli - 19.jun/2022/Reuters

Mesmo historicamente, são raros os técnicos que conseguiram trabalhar em grandes clubes no Brasil. Exceções recentes são Roger Machado (Grêmio, Palmeiras, Fluminense) e Marcão (Fluminense).

Mais para trás, Andrade (Flamengo), Cristóvão Borges (Fluminense, Vasco, Flamengo, Corinthians), Serginho Chulapa (Santos) e o falecido Lula Pereira (Flamengo, Bahia, Ceará).

"Precisamos dar oportunidades a pessoas de cor. Para podermos mostrar que somos tão bons como os demais", afirma Vieira, sendo não politicamente correto com ele mesmo ao citar "pessoas de cor".

O treinador, que não mencionou abertamente racismo para justificar o cenário por ele abordado –porém a conclusão óbvia é essa–, tem tido desempenho satisfatório no londrino Crystal Palace.

Com uma equipe sem craques e que não tem apoio financeiro gigantesco –diferentemente de Manchester City, Chelsea ou Newcastle–, ocupa a intermediária décima colocação na Premier League, com o mesmo número de pontos do badalado Liverpool.

Patrick Vieira, com roupa preta, orienta o Crystal Palace em partida contra o Everton, que é comandado por Frank Lampard, que está próximo a ele, também observando o jogo e também de roupa preta
O técnico Patrick Vieira na partida do Crystal Palace contra o Everton, que é comandado pelo branco Frank Lampard (atrás) - Lee Smith - 22.out.2022/Reuters

Kombouaré, entretanto, tem sofrido para manter o Nantes fora da zona de rebaixamento no Francês, e tanto o Santos de Orlando Ribeiro como o Goiás de Jair Ventura fazem papel medíocre no Brasileiro –respectivamente 12º e 13º na tabela de classificação.

*

Em tempo: Na Copa do Mundo do Qatar, que começa no dia 20 de novembro e terá 32 seleções, haverá três treinadores negros, todos de equipes da África negra. São eles Rigobert Song (Camarões), rival do Brasil na primeira fase, Otto Addo (Gana) e Aliou Cissé (Senegal).

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