O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Campeonato Brasileiro influencia convocação de Diniz para a seleção

Técnico inclui Matheus Cunha, em fase obscura na Europa, e deixa fora Pedro, Gabigol, Vitor Roque e Marcos Leonardo

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Acompanhei pela TV a primeira convocação de Fernando Diniz, o técnico interino da seleção brasileira, para os primeiros jogos da equipe nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, que serão em setembro contra Bolívia (dia 8) e Peru (dia 12).

Criou-se a expectativa da inclusão ou não na lista do meia-atacante Lucas Paquetá, do West Ham, que, soube-se nesta sexta-feira (18) mais cedo, está sendo investigado na Inglaterra devido à suspeita de que pessoas que lhe são próximas apostaram em partidas na qual ele atuou.

Diniz explicou que optou por não chamar Paquetá, 25, titular do Brasil na Copa do Qatar-2022, para preservar o jogador enquanto ele se vê envolvido em um possível escândalo.

O técnico Fernando Diniz com a língua parcialmente para fora da boca na convocação da seleção brasileira, no Rio de Janeiro, para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo contra Bolívia e Peru
Fernando Diniz na convocação da seleção brasileira, no Rio de Janeiro, para os jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo contra Bolívia e Peru - Mauro Pimentel - 18.ago.2023/AFP

E quem foi o escolhido para ocupar a vaga do excluído, perguntou corretamente um colega jornalista que estava no auditório da CBF em que Diniz anunciou os 23 convocados?

"Você vai ficar sem essa resposta", desconversou o treinador, fazendo mistério sem nenhuma necessidade.

Olhando a relação, não é preciso ser um gênio para deduzir que quem ganhou uma oportunidade foi o atacante Matheus Cunha, 24, do pequeno Wolverhampton, da Inglaterra.

Sem menosprezar o futebol de Cunha, que é jogador de qualidade, havia várias alternativas muito melhores, considerando-se o momento –e aqui mesmo no Brasil.

Por mais que Diniz possa admirar o futebol do atacante revelado pelo Coritiba e campeão olímpico com a seleção em Tóquio-2021, a fase dele está muito longe da ideal.

A temporada 2022/2023 de Cunha esteve dividida entre o Atlético de Madrid e os Wolves, e ele teve apenas lampejos de bom futebol. Em 38 jogos oficiais, anotou meros dois gols.

Matheus Cunha, do Wolverhampton, lamenta, ajoelhado no gramado, chance desperdiçada no jogo contra o Manchester United na primeira rodada da temporada 2023/2024 da Premier League, no estádio Old Trafford
Matheus Cunha, do Wolverhampton, lamenta chance desperdiçada no jogo contra o Manchester United na primeira rodada da temporada 2023/2024 da Premier League, no estádio Old Trafford - Lindsey Parnaby - 14.ago.2023/AFP

Na comparação, como convocá-lo e deixar fora, por exemplo, restringindo-se somente a atacantes que jogam no Campeonato Brasileiro, Pedro ou Gabriel (Gabigol), do Flamengo, Vitor Roque, do Athletico-PR, e Marcos Leonardo, do Santos?

Pedro, que esteve na Copa do Qatar, e Gabigol, ambos com 26 anos, já faz tempo que são nomes destacados no cenário do futebol. O primeiro tem cinco gols no Brasileiro, e o segundo, quatro.

Não servem os dois? Que tal gente mais jovem e cheia de talento?

Casos de Vitor Roque, 18, oito gols no Brasileiro e já negociado com o Barcelona –irá na próxima temporada–, e Marcos Leonardo, 20, sete gols no campeonato, que possivelmente será adquirido em breve por algum clube europeu.

Não mencionei como opção Tiquinho Soares, 32, do líder Botafogo, artilheiro do Brasileiro com 13 gols, porque ele está contundido e ficará algumas semanas fora de ação. Do contrário, deveria ter uma chance.

Mencionada essa turma, por que Diniz foi de Matheus Cunha? Logo ele que repetiu mais de uma vez na entrevista pós-convocação que os critérios foram técnicos.

Balela. A questão é obviamente política.

Pedro, Gabigol, Vitor Roque e Marcos Leonardo, se convocados, não conseguiriam estar disponíveis, em suas melhores condições, para atuar por seus clubes no Brasileiro no dia 13 de setembro, uma quarta-feira.

Isso porque o Brasil enfrenta o Peru no dia 12, em Lima, em partida que começa às 23 horas pelo horário de Brasília.

Servir à seleção desgasta, a viagem de avião desgasta, o jogador idealmente precisa de mais tempo de recuperação antes de ir a campo, mesmo que não tenha participado do jogo da véspera.

Agravante: Diniz é treinador do Fluminense, concomitantemente com o cargo na seleção, que o contratou por um ano, até a esperada chegada do italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid.

O Fluminense rivaliza no Brasileiro com outros 19 clubes, entre eles Flamengo, Athletico-PR e Santos. No caso do Flamengo, a situação piora, já que é arquirrival do Fluminense.

Já imaginou a chiadeira que provocaria, entre os flamenguistas, a presença de Pedro ou de Gabigol na convocação? Pois Diniz não os deixaria em condições ideais para atuar pelo Flamengo no dia 13.

Nessa data, o time de maior torcida do Brasil recebe o Athletico-PR, de Vitor Roque. Ou seja, os principais atacantes dos rivais rubro-negros não deixarão de estar disponíveis para esse confronto por causa da seleção brasileira.

Ah!, mas Diniz chamou o goleiro Bento, 24, que é do Athletico-PR. Sim, e para fugir de qualquer confusão poderia ter evitado, já que ele será tão somente o terceiro da posição, atrás de Alisson e Ederson.

Só que a reclamação do Athletico-PR tende a ser mais amena, justamente pela atual condição de Bento, que estará lá só para treinar e observar um colega mais experiente jogar.

O goleiro, pelas características da função, tem um desgaste menor que os atletas de linha, e Bento poderá ser escalado no Brasileiro sem grande drama.

Situação de Bento à parte, como justificar as convocações do meia Raphael Veiga, do Palmeiras, e da dupla do Fluminense Nino (zagueiro) e André (volante)?

Em relação a Veiga, simples: o Palmeiras não joga no dia 13, somente no dia 15 (sexta).

Sobre Nino e André, o calendário influencia, já que o Fluminense atuará no dia 16 (sábado), quatro dias depois da partida do Brasil contra os peruanos. Coisas da tabela.

Entretanto é certo que Diniz aproveitou para ficar bem com jogadores com os quais convive dia a dia. Não tanto em relação a André, que deveria ser mesmo chamado pelo que vem jogando.

Nino, capitão do Fluminense, olha a bola em jogo contra o Palmeiras no estádio do Maracanã pelo Campeonato Brasileiro
Nino, capitão do Fluminense, time comandado por Fernando Diniz, foi chamado pelo treinador para defender a seleção brasileira; Adryelson, do líder Botafogo, ficou fora - Sergio Moraes - 27.ago.2022/Reuters

O campeão olímpico Nino, porém... Faz campeonato muito bom, e não questiono de forma veemente a presença dele, mas, mérito por mérito, quem deveria ter sido listado é Adryelson, zagueiro do Botafogo, que jogará também só no dia 16.

Diniz, na verdade, nem precisa justificar a escolha. Pode decretar: "Gosto mais desse, e pronto".

Mas que soa mal o líder disparado do Brasileiro não ter um único convocado –e sendo que Adryelson é merecedor e atualmente de nível similar a Nino–, soa.

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