O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Futebol Internacional

Em celebração igual de gol, cinco de uma seleção saem ilesos, um da outra é expulso

Na Copa da Ásia, artilheiro do Iraque recebeu o segundo cartão amarelo após fazer no gramado o gesto de comer com as mãos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma das cenas que marcarão a Copa da Ásia deste ano, disputada no Qatar, é a expulsão de campo do até agora artilheiro da competição entre seleções, o iraquiano Aymen Hussein.

No segundo tempo, ao fazer o gol da virada para seu país no estádio Khalifa, em Al Rayyan (Grande Doha), colocando-o em vantagem por 2 a 1 no jogo das oitavas de final contra a Jordânia, Hussein, 27, recebeu o cartão amarelo durante sua comemoração.

Como já tinha sido advertido com o mesmo cartão no primeiro tempo, ele na sequência levou o vermelho, sendo assim expulso da partida, ficando o Iraque com um a menos.

O árbitro Alireza Faghani ergue o braço direito e exibe o cartão vermelho ao artilheiro do Iraque, Aymen Hussein, em jogo das oitavas de final da Copa da Ásia
O árbitro Alireza Faghani mostra cartão vermelho ao artilheiro do Iraque, Aymen Hussein, em jogo das oitavas de final da Copa da Ásia - Cao Can - 29.jan.2024/Xinhua

Por que o árbitro iraniano Alireza Faghani puniu o artilheiro, que tinha acabado de fazer o seu sexto gol nesta edição da Copa da Ásia?

A exibição dos cartões (o segundo amarelo e depois o vermelho) ao camisa 18 aconteceu tão logo ele, depois de celebrar com acenos para a torcida e abraços em colegas de time, sentou-se no gramado e fez um gesto de comer com a mão.

Com essa mímica, imitou a comemoração de Yazan Al-Namait, 24, que a executou, junto com quatro companheiros de equipe, depois de abrir o placar para a Jordânia na etapa inicial.

O ato coletivo saiu impune: Faghani nada fez, mantendo os cartões no bolso. O ato individual deu no que deu: a exclusão de um dos melhores atletas do Iraque da partida eliminatória.

Não chegou a conhecimento público a razão de o árbitro –que apitou Brasil 2 x 0 Sérvia na Copa do Mundo de 2022, no mesmo Qatar– ter agido dessa forma em relação a Hussein. A Confederação Asiática de Futebol (CAF) não disponibiliza a súmula dos jogos para consulta.

Sentado no gramado e com um colega de time de pé diante de si, Aymen Hussein, do Iraque, simula fazer uma refeição comendo com as mãos ao comemorar gol contra a Jordânia na Copa da Ásia, disputada no Qatar
Aymen Hussein, do Iraque, simula fazer uma refeição comendo com as mãos ao comemorar gol contra a Jordânia na Copa da Ásia, disputada no Qatar - Cao Can - 29.jan.2024/Xinhua

A regra 12 do futebol, que trata da comemoração de gol, diz o seguinte:

"Os jogadores podem comemorar quando um gol é marcado, mas a comemoração não deve ser exagerada; celebrações coreografadas não são incentivadas e não devem causar perda excessiva de tempo. Sair do campo de jogo para comemorar um gol não é uma infração passível de advertência, mas os jogadores devem retornar o mais rápido possível".

E prossegue:

"Um jogador deve ser advertido por: subir em uma grade e/ou aproximar-se dos espectadores de maneira que cause problemas de segurança; gesticular ou agir de forma provocativa, irônica ou hostil; cobrir a cabeça ou o rosto com uma máscara ou item semelhante; tirar a camisa ou cobrir a cabeça com a camisa".

Pensei o que Faghani, 45, podia ter como argumento para a advertência a Hussein e não aos jogadores da Jordânia.

Se alguém festejou exageradamente, recorrendo a coreografia e utilizando tempo em excesso, inclusive demorando-se para voltar ao campo mais que Hussein, foram os jordanianos.

Nenhum deles recebeu cartão amarelo. Por coerência, o goleador do Iraque também não deveria receber.

O único motivo, e ele é totalmente interpretativo, para que Hussein fosse punido seria o árbitro concluir que a ação dele ao imitar o gesto dos rivais fosse uma provocação ou ironia.

Não pareceu. Meu entendimento é o de imitação, em tom lúdico, e a regra não estabelece nenhuma sanção para quem copia uma celebração, esta, a de se sentar no campo e "comer com as mãos", que é uma prática comum, de cunho cultural, em vários países asiáticos.

Fiz contato com o Departamento de Mídia da CAF solicitando explicações a respeito da atuação de Faghani, porém não houve resposta. Em seu site, a confederação afirma "não comentar os desempenhos individuais da arbitragem".

Com um jogador a mais a partir dos 32 minutos do segundo tempo, a Jordânia, que não detinha o favoritismo na partida, conseguiu pressionar o Iraque e virou para 3 a 2, com dois gols nos acréscimos.

Sentados no campo do estádio Khalifa, no Qatar, e mostrando felicidade, jogadores da Jordânia fazem o gesto de comer com as mãos para festejar a classificação do país para as quartas de final da Copa da Ásia
Jogadores da Jordânia "comem com as mãos" no estádio Khalifa, em Al Rayyan (Qatar), para festejar a classificação do país para as quartas de final da Copa da Ásia - Cao Can - 29.jan.2024/Xinhua

Agora o país buscará, diante do Tadjiquistão, avançar pela primeira vez às semifinais da Copa da Ásia –atingiu as quartas de final duas vezes, em 2004 e em 2011.

O Iraque, que deixa a competição indignado, permanece com um título, obtido em 2007.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.