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Carnaval brasileiro cresce e blocos buscam inclusão no calendário de Lisboa

Associações pedem fim da cobrança por segurança e infraestrutura dos cortejos

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Lisboa

Com desfiles que chegam a atrair 20 mil foliões pelas ruas de Lisboa e mais de uma dezena de associações dedicadas à folia, os blocos de Carnaval brasileiro querem agora ser incorporados oficialmente à agenda cultural da capital portuguesa.

Além do reconhecimento da importância de uma festa que já se consolidou na cidade, a mudança teria um efeito prático importante: a redução substancial dos valores que as agremiações, a maioria de estrutura modesta e sem fluxo contínuo de receitas, precisam pagar às autoridades.

Desfile do bloco Colombina Clandestina. No centro da imagem, uma mulher andando com pernas de pau. Ela está com uma fantasia rosa e prateada e traz faixas com mensagens "Save Lives" e "Travesti"
Desfile do bloco Colombina Clandestina arrastou milhares de foliões às ruas de Lisboa em 2023 - Raquel Pimentel/Divulgação

Os blocos relatam que, desde 2020, o preço para fazer Carnaval na cidade disparou. Isso aconteceu por conta de uma mudança de interpretação da Câmara Municipal de Lisboa (equivalente à Prefeitura) no enquadramento dos desfiles.

Antes classificados como manifestações, que só precisavam de comunicação prévia às autoridades, os blocos passaram a ser designados como eventos. Com isso, os responsáveis ficaram obrigados a custear, por conta própria, vários aspectos logísticos, como segurança, limpeza das vias e instalação de banheiros químicos.

"Quando nós passamos a pedir essa licença de evento, começamos a ser enquadrados como qualquer evento comercial e, com isso, tivemos de pagar as diversas taxas e custos associados", diz Bianca Mattos, do bloco Baque Mulher Lisboa.

"São uma série de custos que eles passaram a exigir de blocos que são espontâneos e não têm fim comercial", pontua. Em 2023, alguns grupos pagaram mais de 2 mil euros (R$ 10,3 mil) para ocupar as ruas.

Além dos custos em si, Bianca queixa-se da pouca antecedência para o recebimento da comunicação oficial com o valor para pagamento. "Neste ano, houve um bloco que recebeu um orçamento de quase 4 mil euros (R$ 20,6 mil) faltando dois dias para o desfile. Eles não tinham qualquer chance, em absoluto, de pagar tanto assim do dia para a noite", avaliou.

A "surpresa" de se deparar com valores elevados na véspera das datas programadas para os cortejos fez com que alguns blocos cancelassem os percursos por falta de recursos financeiros.

Desfile do bloco Colombina Clandestina. No centro da imagem, uma mulher andando com pernas de pau. Ela está com uma fantasia rosa e prateada e traz faixas com mensagens "Save Lives" e "Travesti"
Desfile do bloco Colombina Clandestina chamou a atenção para a defesa dos direitos da comunidade LGBTQI+ - Raquel Pimentel/Divulgação

Idealizadora e mestre de bateria do bloco Colombina Clandestina, um dos pioneiros da folia lisboeta e aquele com as maiores dimensões da cidade, Andréa Freire considera que os blocos já trazem benefícios concretos para a economia e o turismo da cidade.

Segundo ela, o Carnaval lisboeta atrai brasileiros residentes em outras cidades europeias, mas também estrangeiros interessados em aproveitar o clima festivo.

"É um novo fator de atração para a cidade. O turismo e o comércio local têm se beneficiado muito. É um Carnaval que é feito no inverno [europeu]. A alta temporada de Lisboa é durante o verão. Quem imaginaria que, no frio de fevereiro, Lisboa conseguiria ter uma atividade assim?", pondera.

Mestre de bateria e fundador do Bué Tolo, outro pioneiro do Carnaval luso-brasileiro, Leonardo Mesquita diz que o movimento merece atenção das autoridades municipais.

"Lisboa hoje tem mais de uma dezena de blocos que saem às ruas durante o carnaval. O movimento vem crescendo ano a ano, e nada mais justo do que ele ser reconhecido pela Câmara Municipal de Lisboa como parte do calendário oficial de eventos da cidade", considerou.

A insatisfação com a situação fez com que os blocos organizassem um movimento de protesto. Além de da petição online "Carnaval é um ato político: Liberdade para o Carnaval de Rua de Lisboa", o grupo tem se articulado para pressionar por mudanças.

No documento, os organizadores destacam que o Carnaval é a principal manifestação cultural da maior comunidade imigrante em Portugal e pedem mais atenção do poder público.

Bloco Bué Tolo, um dos pioneiros do Carnaval de Lisboa
Bloco Bué Tolo, um dos pioneiros do Carnaval de Lisboa - Divulgação

Há uma manifestação marcada para o dia 24 de setembro às 14h. A concentração acontece na região do Martim Moniz, famosa pela presença da comunidade imigrante, e vai até a praça do Município, onde fica a sede da Câmara Municipal.

Após a articulação, os representantes dos blocos também conseguiram uma reunião com as autoridades municipais para discutir os apoios ao Carnaval. O encontro está marcado para a próxima semana.

Em nota, a Câmara Municipal de Lisboa afirmou ter dado, em 2023, apoio logístico e isenção de diversas taxas aos blocos, incluindo "o licenciamento de ocupação do espaço público e a licença especial de ruído", além de ter providenciado a recolha do lixo e a articulação da limpeza.

A prefeitura diz ainda que "não só permite este acontecimento da comunidade brasileira, como tem vindo a apoiar a sua realização", estando em "em articulação com representantes dos grupos em referência".

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