Pensar em deixar de existir traz paz ou angústia a você?
Você sabe empilhar cadáveres?
Já pensou no que gostaria que escrevessem em seu epitáfio?
O encontro entre quatro homens de idades e classes sociais diferentes, mas com um tema em comum –a morte–, guia a peça documental "A Última Cena", em cartaz no Sesc Vila Mariana, em São Paulo.
No palco, reúnem-se Antônio Januzelli, 82, professor de teatro; Nando Bolognesi, 56, um palhaço com esclerose múltipla; Osmair Cândido, 64, filósofo e coveiro; e Thiago Amaral, 40, ator e viúvo.
Com humor e muita franqueza, eles relatam como imaginam a última cena, os momentos finais de suas vidas e como a morte os aflige. Também provocam o público a pensar sobre a morte e, mais do que isso, sobre como aproveitar a vida.
Foi lendo a psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross que a diretoria Flavia Melman teve a ideia da montagem. "Cheguei a um livro em que os entrevistados 'morrem' por alguns minutos e voltam, e todos dizem que foi maravilhoso. Pensei: por que não falamos sobre isso? Por que a morte é um tabu?"
Assim "A Última Cena" começa a ganhar forma. Durante a pandemia, Melman passou a organizar encontros online semanais entre os participantes. Nessa fase de troca de ideias, Tião Braga, um dos integrantes do grupo e marido de Thiago Amaral, recebeu o diagnóstico de leucemia crônica. Ele morreu pouco mais de dois anos depois, no final de 2022.
"Falar sobre a morte é como uma boia salva-vidas", resume Amaral. "Eu li os cadernos em que o Tião fazia anotações sobre nossos encontros e ele agradecia demais por tudo aquilo estar acontecendo. Conversar sobre a morte ajuda a elucidar tudo", relata o viúvo.
É o corpo de Amaral, aliás, que traz Tião ao palco, em memória. Partes das gravações feitas com ele durante as reuniões na pandemia também são exibidas para os espectadores, que acabam conhecendo o jovem que morreu. "A emoção está à flor da pele. Mas a peça e esse texto têm funcionado para mim como parte de um rito", diz Amaral.
Para Melman, o essencial da montagem é fazer os espectadores pensarem sobre suas próprias vidas. "A vulnerabilidade dos quatro atores no palco permite que o espectador olhe para sua própria vulnerabilidade. É uma peça sobre humanidade."
"A Última Cena" segue em cartaz até 22 de julho. Enquanto isso, que tal pensar no que você quer que seja escrito no seu epitáfio?
A Última Cena. Sesc Vila Mariana - r. Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo. R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia) e R$ 10 (credencial plena). 70 min.
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